segunda-feira, 28 de setembro de 2015

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Bom dia, já leu o Expresso Curto Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Nicolau Santos
Por Nicolau Santos
Diretor-Adjunto
 
28 de Setembro de 2015
 
Catalunha, onde o «sim» ganhou no parlamento mas não nos votos. Por cá, foi o PS que governou desde 2011?
 



Bom dia.

A Península Ibérica pode vir a ter mais que dois países dentro de um ano e meio. Pelo menos é o que defendem os independentistas Juntos pelo Sim, liderados por Artur Mas, que ontem ganharam de forma clara as eleições para o parlamento regional da Catalunha, com 62 lugares, embora sem maioria absoluta, que só conseguem atingir com a CUP – Candidatura de Unidade Popular – um partido independentista, anti-capitalista e anti-austeridade.

Com efeito, antes das eleições, o Juntos pelo Sim e a CUP tinham dito que um resultado deste tipo lhes permitiria declarar a independência de forma unilateral no prazo de 18 meses, seguindo um plano das autoridades catalãs para escrever a sua própria Constituição e criar instituições nacionais, como um exército próprio, um banco central e um sistema judicial independentes dos do Estado espanhol.

A participação atingiu um recorde: 77% dos eleitores recenseados foram às urnas, enquanto nas de 2012, as mais concorridas até agora, tinham sido 68%.Contudo, a maioria dos votos expressos – 51,94% - veio de partidos que não advogam a declaração unilateral da independência, sob nenhuma forma, ou então que não defendem o caminho desenhado pela coligação Juntos pelo Sim.

Como é óbvio, Madrid recusa o caminho da secessão e considera que o resultado «é um rotundo fracasso de Artur Mas».


Por cá, alguém que não conhecesse o país suporia que foi o PS que esteve no Governo nos últimos quatro anos. Da direita à esquerda só se discute o PS, o programa do PS, as promessas do PS, os cortes na segurança social do PS, o acordo da troika que o PS assinou, o plano secreto que o PS tem para se aliar à CDU e ao BE para não deixar o centro-direita governar. A coligação Portugal à Frente acusa o PS de criar instabilidade e insegurança, a CDU e o BE acusam o PS de subscrever as políticas da direita.

E ninguém debate os últimos quatro anos, os 485 mil emigrantes que vão de engenheiros, economistas e médicos a investigadores, enfermeiros e bombeiros, os cortes nos salários da Função Pública e nas pensões dos reformados, a desmotivação completa dos funcionários públicos, o desemprego, o emprego que está a ser criado (90% é precário), os 50% de portugueses que ganham menos de 8000 euros por ano, o facto de estarmos a trabalhar mais 200 horas por ano e a ganhar em média menos 300 euros, o descalabro na educação (com o silêncio ensurdecedor de Mário Nogueira e da FESAP, ao contrário do que aconteceu quando Maria de Lurdes Rodrigues era ministra da Educação), a miséria que se vive no Serviço Nacional de Saúde (onde muitos profissionais são obrigados a comprar luvas ou a fazer garrotes com material improvisado), os medicamentos que faltam nas farmácias e só estão disponíveis daí a dois dias, a machadada que levou a ciência e investigação, os problemas que se continuam a verificar na justiça, a inexistência de respostas ao envelhecimento da população (em 2014 já havia mais de 4000 pessoas acima dos 100 anos em Portugal e há 595 mil portugueses com mais de 80 anos), a irrelevância do ministro dos Negócios Estrangeiros, a fragilidade da ministra da Administração Interna, as múltiplas garantias de Passos Coelho que foram sempre desmentidas por decisões do próprio Passos Coelho, o programa da coligação que não se discute porque não existe, etc, etc.

Ora, é tudo passado. Como disse Passos Coelho, «felizmente conseguimos ultrapassar a situação de emergência financeira que trouxe uma crise que nós resolvemos. Fizemos muito para poder chegar a este momento e os sacrifícios que fizemos valeram a pena. Já não temos necessidade de vos pedir um contributo adicional. Já não temos nenhuma medida restritiva nas pensões». Pronto, a crise está resolvida e agora é sempre a alargar o cinto.

Por isso, o líder da coligação Portugal à Frente pede agora aos eleitores «uma maioria boa, uma maioria grande» e diz que «quando temos necessidade de qualificar maiorias, alguma coisa esta errada. Estou a referir-me a um governo estável que tenha apoio no Parlamento para evitar que daqui a nove meses tenha de haver eleições», disse, esclarecendo porque não pede uma maioria absoluta. «O que nós queremos não é o absoluto, é estabilidade para governar».

Além disso, «nestes quatro anos tentei sempre um espaço de compromisso, de diálogo, com a oposição». Mas infelizmente «é a oposição a dizer que não dará condições para o país ser governado» e «os portugueses têm de julgar isso». Em qualquer caso, avisa: «Andamos com a alma cheia mas não andamos com o rei na barriga. Nós sabemos que as eleições se ganham a 4 de outubro».

Mas o certo é que na tracking pool diária do Público a coligação vai com 5,1 pontos à frente do PS, embora o número de indecisos tenha aumentado. E a coligação vira agora o discurso para tentar recuperar os 600 mil votos de eleitores que perdeu desde que em 2011 chegou aos 2,8 milhões de votantes. Para já, os resultados são estes: 38% PàF; 33% PS; 9% CDU: 6,7% BE; indecisos 25%.

Também o inquérito diário da Aximage para o Jornal de Negócios mostra que a vantagem da coligação face ao Partido Socialista atingiu, este domingo, o valor mais elevado. 5,6 pontos separam, agora, as duas forças políticas: 37,9% contra 32,3%. Jorge de Sá, responsável da Aximage, é taxativo: a probabilidade de coligação ter mais votos que PS pode ser «estimada em mais de 60%». Para o Correio da Manhã, a coligação segue à frente com 37,9% e o PS tem 32,3%.

Perante isto o que faz e diz António Costa? Pois o líder do PS recebeu ontem uma injeção de ânimo de Freitas de Amaral, que em Braga lhe disse: «Vai ganhar! Não acredite nas sondagens! O António Costa vai ganhar!». O certo é que Costa foi levado em ombros em Guimarães e em Barcelos, onde a cada passo um abraço, pediu a concentração de votos em torno do PS para obter uma maioria que lhe permita governar. Numa sessão em que João Cravinho se sentiu mal quando estava a discursar, Francisco Assis juntou-se a Costa no apelo ao voto útil.

O líder do PS, que ouviu jovens emigrantes através do Skype – e todos lhe disseram que não vêem condições para voltar tão cedo – advertiu que o atual Governo pretende prosseguir «um programa impiedoso» nos próximos quatro anos. «Ao longo destes quatro anos, a coligação mostrou ser radical. Colocou os portugueses uns contra os outros. Nós queremos a estabilidade das famílias, das pessoas, das empresas, do quadro fiscal. Para isso, é necessária uma mudança com confiança», defendeu.

Se quer conhecer melhor o líder do PS, então leia o retrato que Maria João Avillez lhe traça no Observador «vivo, acutilante, teimoso, inteligente, preguiçoso, temperamental, impaciente e não raras vezes colérico».

Quanto a Jerónimo de Sousa, que quer segurar os seus 420 a 430 mil votantes fiéis, fez um dos discursos mais duros da campanha, afirmando que «Passos Coelho diz que não vai cortar mais nos salários e nas pensões. As promessas de Passos Coelho valem tanto como um tostão furado, não têm credibilidade nenhuma». Acrescentou que o PCP está disponível para negociar mas se recusa a «fazer o jeitinho» ao PS para apoiar um governo dos socialistas.

Catarina Martins, do Bloco de Esquerda, bateu no Governo - «extremismo é ter governado quatro anos contra a lei fundamental do Estado» - mas também não foi meiga para o PS, «a grande desilusão» destas eleições e que pede «uma maioria absoluta para um programa que não é capaz de explicar». A novidade do dia foi o aparecimento de Francisco Louçã na campanha. «O Bloco conseguiu renovar-se, renascer» com a liderança de Catarina Martins, disse.

OUTRAS NOTÍCIAS

Já a noite era madrugada e os líderes partidários estavam presumivelmente postos em descanso, quando começou o super eclipse lunar. Se o perdeu, então só terá nova oportunidade em 2033. E que tinha ele de tão especial? Foi o eclipse total de uma lua cheia quando está no perigeu, o ponto mais perto da Terra durante a sua órbita, coisa rara e pouco vista.

Quarenta estudantes sírios chegaram a Portugal, para se juntar a outros 60 que já cá estão para concluir os seus estudos académicos, uma iniciativa apadrinhada por Jorge Sampaio, que pediu apoio internacional para os jovens. «Por favor, sintam-se em casa» disse-lhes o ex-Presidente da República durante a receção de que foram alvo.

O Ministério Público recusou o acesso aos autos à defesa de Sócrates, porque pondera pedir a aclaração do acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, que quinta-feira passada tinha decidido levantar o segredo de justiça interno do processo Operação Marquês, que envolve o ex-primeiro-ministro José Sócrates. A notícia foi avançada pela SIC Notícias. A defesa de Sócrates mostrou-se surpreendida e garantiu que vai pedir “ao juiz para corrigir este absurdo e abuso jurídico” e para lhe entregar hoje mesmo “as cópias integrais” das provas da investigação.

Era bom mas acabou-se. Esta segunda-feira, dia 28 de Setembro, a empresária angolana Isabel dos Santos vai apresentar a empresa Contidis, que será responsável por uma nova marca de hipermercados em Angola. A parceria com a Sonae morreu.

Nos Estados Unidos, o Papa Francisco criticou os «sistemas prisionais que não procuram sarar feridas» e frisou que os crimes sexuais sobre menores cometidos por prelados «não podem cair no esquecimento». A visita terminou ontem, depois de nove dias na pátria do Tio Sam, e após ter discursado no Capitólio, onde pediu o fim da pena de morte e a restrição do uso de armas.

O escândalo Volkswagen continua a dar pano para mangas e a merecer a atenção da imprensa nacional e internacional. O Jornal de Negócios diz que o regulador português, o IMT, está a acompanhar o impacto do caso em Portugal. Mas as normas europeias limitam a sua actuação. É a Bruxelas e a Berlim que cabe a decisão final sobre veículos afectados.

A VW divide o grupo e ultima solução para sair da crise, anuncia o Diário Económico. A nova administração tem até 7 de Outubro para encontrar solução para os lotes de carros afectados, caso contrário arrisca perder homologação alemã. E o Diário de Notícias titula: «VW: combustível para o escândalo».

A Força Aérea francesa destruiu um campo de treinos dos radicais na Síria. Foi a primeira vez que tal aconteceu, com a justificação do Eliseu de que têm provas que o Estado Islâmico estava a planear atentados em França.

E se gosta de magia, fique a saber que David Copperfield cobra 51 mil euros por uma noite na ilha mais mágica do mundo. Ainda não há conhecimento de alguém que lá tenha estado e depois desaparecido como por magia sem nada pagar. Mas é seguramente um desafio para candidatos a ilusionistas.

Finalmente, uma questão de saúde pública: a Direção Geral de Saúde registou três casos de botulismo num mês, mais do que em todos os anos de 2012 ou 2013. As autoridades decidiram retirar de imediato do mercado os produtos à base de carne e os queijos da marca "Origem Transmontana", suspeitos de estar na origem da doença. O botulismo alimentar é uma doença grave de evolução aguda e é desde 1999 de declaração obrigatória em Portugal.


FRASES
«Vai ganhar! Não acredite nas sondagens! O António Costa vai ganhar!». Freitas do Amaral para António Costa, com quem se cruzou em Guimarães

«O PS é a desilusão destas eleições». Catarina Martins, líder do Bloco de Esquerda

«Podes não perceber muito de cartazes, meu caro António Costa, mas vais ser um grande primeiro-ministro». Francisco Assis dirigindo-se ao líder socialista

«Catarina Martins e as manas Mortágua foram a boa surpresa desta campanha». Marcelo Rebelo de Sousa, TVI

«Somos a única novidade na política portuguesa». Rui Tavares, dirigente do Livre/Tempo de Avançar, jornal i

«A esquerda odeia mesmo a democracia». António Pinto Ribeiro, jornal i

«Só quando os pobres entram na casa dos ricos é que os ricos se apercebem que os pobres existem». António Guterres, Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados

«Nas famílias há dificuldades, nas famílias discutimos, nas famílias por vezes voam pratos. Os filhos dão dores de cabeça. E não vou falar da sogra». Papa Francisco nos Estados Unidos

«Cinco crises simultâneas empurram a Europa para o reino do caos». Wolfgang Munchau, editor do Financial Times, Diário de Notícias


O QUE ANDO A LER E A OUVIR
Nestes tempos de chumbo, em que a Europa parece seguir um caminho em que o centro manda e a periferia obedece, nada como ler «Outono alemão», de Stig Dagerman, sobre a Alemanha logo a seguir à II Guerra Mundial. «Outono alemão» foi, de início, uma reportagem que Dagerman fez para o jornal sueco Expressen, em 1946, mas rapidamente se tornou num texto marcante sobre os mecanismos e as relações humanas que levaram a que, na generalidade, a maioria do povo alemão tivesse apoiado o III Reich quase até ao fim – e que depois da derrota olhava para os aliados mais como ocupantes do que como libertadores. A forma como descreve a vida indigente dos alemães logo no pós-guerra e os processos de desnazificação a que se tinham de sujeitar permite entender esses sentimentos. Dagerman classificava o jornalismo como «a arte de chegar atrasado logo que possível». E acrescentava: «uma arte que nunca hei-de aprender». Talvez por isso e pelo que viu na Alemanha suicidou-se com apenas 31 anos.

E quando somos bombardeados diariamente com várias campanhas partidárias, cada qual mais barulhenta, álacre e sedenta, nada melhor do que chegar a casa e ouvir Keith Jarret e Charlie Haden, em «Last Dance». Descansa o corpo, descansa o espírito e deixa-nos convictos que, por vezes, os deuses encomendam melodias a génios que vivem na Terra.

E pronto, o Expresso Curto termina por aqui.

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