"A austeridade que fustiga os portugueses, com aumento de impostos e
redução de salários, é perfeitamente evitável. Desde que o governo opte
por outro tipo de medidas, que penalize menos os cidadãos e as empresas,
retire privilégios aos poderosos e altere de facto a estrutura de
despesas do Estado.
Em primeiro lugar, devem ser renegociadas todas as
parcerias público-privadas rodoviárias, que chegam a ter rentabilidades
garantidas superiores a 14%; o Estado terá, desde já, um ganho anual de
cerca de três mil milhões de euros. A segunda medida consiste na
imediata reestruturação da dívida pública, bastando substituir os
contratos de crédito ruinosos, e assim poupar cerca de dois mil milhões.
Não é admissível que o Estado continue a pagar anualmente em juros nove
mil milhões de euros, mais do que gasta com o Serviço Nacional de
Saúde.
Impõe-se ainda reduzir os alugueres e
rendas imobiliárias que o Estado paga neste momento. São centenas de
milhões de euros a mais em cada ano! Numa fase em que o mercado
imobiliário está em baixa e as rendas nos privados vêm diminuindo
progressivamente, porque não baixa a despesa do Estado nesta rubrica?
Ainda por cima, quando muitos contratos foram inflacionados para
favorecer proprietários amigos!
Outra área onde se
poderia também obter um ganho de mil milhões é a da formação
profissional. Grande parte da formação financiada limita-se a manter os
formandos ocupados, enquanto a maioria dos recursos é desviada para o
enriquecimento de alguns ‘empresários’ mais habilidosos.
Se
o governo tiver coragem para implementar este tipo de medidas, pode
poupar anualmente até sete mil milhões, sem penalizar os cidadãos. E
muda definitivamente a estrutura da despesa do Estado, retirando
privilégios aos poderosos.
Só quando os
governantes tiveram a coragem de ousar este caminho, Portugal progrediu.
Foi assim com D. João II, que pensou os Descobrimentos, ou com o
Marquês de Pombal, instituidor do Vinho do Porto, que limitaram regalias
às grandes famílias do seu tempo – como os Duques de Bragança e Viseu
ou os Távora. Se não souber ler a história, Passos Coelho será apenas
mais um mau governante, dos muitos que os portugueses já tiveram de
suportar."
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