"Portugal tem uma
dívida nacional externa bruta total quase duas vezes e meia superior ao
produto e dívida pública bem acima do que produzimos. Não há
corrupções, incompetências e desperdícios que cheguem para justificar
uma coisa destas. Quem fez isso não foram os ricos, políticos, ladrões.
Tem de ser a vida comum e os hábitos dos cidadãos honestos a gerá-lo.
Muitos nos lembramos como estávamos há 20 anos, e como tudo melhorou tão
depressa. Muito disso foi mérito e crescimento sólido, mas a euforia
empolou e foi-se para lá do razoável. Agora a situação nacional não se
resolve só eliminando gorduras. É preciso cirurgia profunda e
estrutural. Não é sina nacional, até porque vimos igual noutras zonas.
Mas tem de ser feito.
Cortar 4000 milhões de euros de forma permanente à despesa pública não é a solução. Apenas o primeiro passo para Portugal voltar a ser um país sério. Temos de viver com as nossas possibilidades. Durante uns tempos até um pouco abaixo, para aliviar as dívidas de se ter vivido demasiado tempo acima delas. A correcção não é o fim do mundo: pouco mais de 5% da despesa total prevista no Orçamento para 2013. Pode-se negar, insultar, protestar, mas a aritmética não se comove.
Isto não é novidade. Aliás todos o dizem há décadas. Perdemos a conta aos relatórios, estudos, programas de Governo e discursos de Estado em que foi repetida a necessidade de reformas estruturais. Esse é outro consenso. Quando uma das instituições mais experientes e reputadas neste tipo de reformas analisa a situação e sugere medidas concretas, será razoável tratar isso como um disparate? Uma imposição externa? Uma aleivosia? Será que não estão a ver o filme?
Perante o estudo do FMI há duas atitudes razoáveis. Pode-se aceitar e também é sensato discordar. Afinal é só um estudo técnico externo, nem sequer um programa político. Mas quem recusa tem de apresentar cortes alternativos de valor equivalente. Senão diz só uma tolice ociosa de quem não está a ver o filme."
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