"Temos hoje mais informação sobre o papel do Governo na produção da
encomenda feita ao FMI. Passos Coelho, Gaspar e Portas, e também os
Moedas do Governo, não só orientaram como municiaram - com manipulação e
leituras enviesadas de dados estatísticos - os seus colegas
"mercenários" do FMI. Ficou-se a saber que um destes, o espanhol Carlos
Mulas, colabora nesta trapaça ao mesmo tempo que propagandeia no Twitter
campanhas contra a austeridade e os perigos da destruição do Estado
social.
É um escândalo! Como é possível estes indivíduos
instalados na gestão da coisa pública afirmarem que o sistema da
Segurança Social ou as transferências sociais são elementos de
desigualdade e de mais benefício aos ricos? Ou que pensões na ordem dos
600 euros são pensões de ricos?
Os governantes e os funcionários
nacionais e estrangeiros que manipulam estudos para fabricar estas
conclusões deviam ser corridos e julgados por objetiva má-fé e atentado à
dignidade dos portugueses.
O Governo prossegue na sua azáfama,
embora cada vez mais isolado. Juntou meia dúzia de amigos no Palácio Foz
num paupérrimo e ridículo "debate" sobre "reformas do Estado", enquanto
o PSD e o CDS impõem uma Comissão Parlamentar fantoche.
Entretanto,
o Banco de Portugal vai afirmando que é errado o caminho da austeridade
e de ataque às prestações sociais, demonstrando exatamente que no nosso
país essas prestações são mais orientadas para as pessoas de menores
rendimentos do que na generalidade dos países.
Infelizmente, nas
hostes do Partido Socialista as opiniões contraditórias em torno do
futuro da ADSE vieram dar uma ajudita ao Governo. Até deu para o sr.
Relvas surgir a autoconvencer-se de que o sujo nos outros o torna
limpinho.
O futuro do Estado social tem de ser discutido com
realismo, transparência, verdade e com participação da sociedade, mas
isso só será possível, como aqui afirmei na semana passada, no contexto
da construção e formulação de políticas e de governação verdadeiramente
alternativas.
Dizem-nos o Governo e os seus apoiantes que não há dinheiro e que temos uma despesa pública excessiva.
Não há dinheiro para quê e porquê?
Não
há dinheiro para garantir um mínimo de recursos a milhões de
portugueses, mas alguns continuam a enriquecer aceleradamente. Há
milhares de milhões para cobrir roubos privados na Banca e noutros
setores, ou para recapitalizar a Banca. E alimenta-se, sempre em nome do
"interesse nacional", a exploração desmedida que significa o Memorando e
as políticas feitas a seu pretexto.
Sobre a despesa pública, a manipulação e a mentira não são menores. Como está exposto no último Barómetro das Crises *
, a evolução da despesa pública em Portugal, em comparação com a União
Europeia (UE), mostra-nos que até final da década de 70 ela se situava
abaixo da média da UE, que houve um movimento de convergência nos anos
80 e 90 significando para nós um grande impulso de desenvolvimento, que
em 2009 e 2010 tivemos as mesmas oscilações que a UE e que agora em 2011
e 2012, com as políticas de austeridade, estamos a descer desse padrão
médio, gerando mais desigualdades, pobreza e bloqueio ao
desenvolvimento.
Decisões erradas sobre a despesa pública podem ter consequências de grande gravidade e dificilmente revertíveis.
* OBarómetro das Crises
é publicado pelo Observatório sobre Crises e Alternativas, criado pelo
Centro de Estudos Sociais da Univ. Coimbra, em parceria com o Instituto
para os Estudos Laborais da OIT."
aqui.
podem consultar o citado trabalho... aqui.
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