segunda-feira, 10 de março de 2014

'os requisitos para a docência'... de filipe zau... no jornal de angola...!

"Um volume sistematizado de conhecimentos, mediante um processo de ensinamento (ou aprendizagem) como objectivos bem definidos, conteúdos bem seleccionados, métodos e meios de ensino adequados e um coerente sistema de avaliação.

No Dicionário de Pedagogia de Mauro Laeng, a palavra “Professor” (do latim “profiteti”, composto de “pró”, em favor de, e de “fateri”, falar) indica o que publicamente professa uma “doutrina” religiosa ou científica e a ensina. A “doutrina” corresponde a um ensinamento. Inicialmente designava o acto de ensinar (“doctrina”, derivada de “docere”) e como tal distinguia-se da aprendizagem por conta própria (inventio). Este significado do ensino magistral, condicionado pela acepção tradicional de autoridade que o acompanhava, conservou-se também no sucessivo alargamento do vocábulo, para designar não já o acto apenas, mas também o “conteúdo” do próprio ensinamento.

Por doutrina entende-se, portanto, o saber estabelecido e ordenado (doutrina teológica, jurídica, etc.), de onde a prevalência no saber doutrinário de processos analíticos e dedutivos, de formulações esquemáticas, de definições rigorosas. Saber escolar e académico por excelência, tende para a conservação e para a tradição. Assegura a continuidade do processo de desenvolvimento da cultura e tende para garantir a sua coerência. Mas, por vezes, pode dificultar, por “esprit de système” (inclinação para tudo reduzir a um sistema acabado e para actuar de conformidade com ideias preconcebidas) o progresso e a renovação indispensáveis e, portanto, expõe-se ao conflito com o saber fluido da pesquisa sem preconceitos, que submete à crítica os próprios axiomas da doutrina.

No uso corrente, “douto” é o indivíduo que sabe muitas coisas (mais o erudito do que o culto). No sentido pejorativo têm os termos “doutrinado” e “endoutrinado”, que indicam aquele que adquiriu um saber inculcado, sem assimilação pessoal nem participação crítica. Relacionado com aquele está também o termo “dogma” (da mesma raiz “doc”), que, para os antigos, designava uma opinião, um parecer, especialmente um parecer com autoridade e, portanto, também uma decisão, uma ordem, um édito.

O vocábulo foi adquirindo a pouco e pouco o sentido de afirmação categórica e indiscutível (e como tal foi-lhe negada essa pretensão pelos cépticos, agnósticos, probabilistas) reforçado pelo uso que lhe foi dado para designar as verdades religiosas solenemente proclamadas pelas Igrejas. O “dogmatismo” como atitude mental e prática, que não se deve confundir com a racional “certeza”, foi frequentemente associado ao doutrinarismo, à intolerância. Na educação, actua como factor negativo e impeditivo.

Voltando ao professor, em algumas línguas modernas (por exemplo, em inglês “professor” e em italiano “professore”) designa quase exclusivamente os titulares de cátedras universitárias. Para outros graus de ensino, aquelas línguas preferiam usar termos directamente derivados do verbo ensinar (“teacher”, em inglês e “insegnante”, em italiano).
Em português o termo alargou-se a todos os graus de ensino, incluindo o primário, onde, já há muito, substituiu o tradicional “mestre”, ainda hoje usado em italiano (“maestro”) e que literalmente significa “principal”, “chefe” (da raiz “mag” de onde derivam também “magnus” e “magistratus”), significado que se manteve no uso de se chamar “mestre” ao chefe de uma oficina ou de uma equipa de operários. O termo encerra os dois aspectos da autoridade e da competência e o seu uso foi alargado ao campo escolar, desde a antiguidade.

O exercício do “magistério” exige algumas condições de ordem subjectiva pessoal e de ordem objectiva ambiental que constituem a vocação magistral.

Entre as primeiras podemos incluir: o amor às crianças, não só como inclinação do sentimento mas como vivo interesse pelos seus problemas de desenvolvimento e activo zelo ao seu serviço; o temperamento sereno e alegre, calmo e paciente; a inteligência equilibrada, versátil, multilateral; “tacto” psicológico, isto é, a disposição para diagnosticar prontamente os estados de alma dos outros e escolher a conduta oportuna em cada caso; a faculdade de comunicação, ou seja, de se exprimir de modo eficaz e facilmente compreensível.

Entre as segundas, isto é, entre as condições adquiridas no ambiente, podemos indicar a preparação cultural geral e específica. Deve-se evitar a opinião equívoca de que qualquer indivíduo pode ser professor, desde que saiba o que deve ensinar. Há aspectos próprios da profissão magistral que só uma cultural adequada (nas ciências humanas, principalmente psicológicas e sociais, e na pedagogia e didáctica) e um estágio apropriado podem, geralmente, desenvolver. Os grandes educadores são dotados de qualidades pessoais excepcionais, mas também as cultivam com o exercício."

* Ph. D em Ciências da Educação e Mestre em Relações Interculturais


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