quinta-feira, 25 de setembro de 2014

coisas da educação (?)... 'um novo rumo para a escola'...!


no dn 'online'...

"Assim sendo, do que se trata hoje é de procurar, com os olhos postos nesta dinâmica, reconciliar essas duas dimensões. Até porque a transmissão dos saberes, se deixou de dominar a escola, continuou contudo a revelar-se decisiva na formação dos indivíduos. Talvez de uma forma mais invisível, como afirmou Marcel Gauchet, mas ela continua insubstituível em qualquer tipo de autoconstrução individual, porque o ser humano só consegue olhar para o futuro assumindo-se como um ser de cultura e de história.

Por isso, contra as tentações de retorno a qualquer forma de transmissão autoritária, o que é preciso é perceber em que é que consiste a atividade de aprender e construir com ela uma nova aliança. Para o conseguir, impõe-se assumir que aprender não é brincar, mas uma atividade em descontinuidade com a experiência natural da criança ou do jovem - e, portanto, difícil. Aprender a ler, a escrever ou a contar, bem como aprender matemática, física ou geografia, é sempre um esforço para entrar em mundos já constituídos, que num primeiro momento só podem parecer estranhos, abstratos, artificiais, etc..

Mas o essencial do aprender consiste justamente na progressiva dissipação desta dificuldade pela apropriação de significados que não se conheciam e que, pela sua anterioridade e objetividade, nunca o indivíduo poderia conseguir só por si. (O exemplo da própria língua ajuda a perceber isto: ela é anterior e exterior a cada indivíduo, que tem de se apropriar dela como de uma herança para poder constituir-se como sujeito consciente, responsável e autónomo.)

Assim compreendida a nova aliança entre a aprendizagem e a transmissão, ela pode dar um novo rumo à escola. A transmissão deixa de ser uma inculcação para se tornar uma iniciação, que se revela vital para libertar e estimular a faculdade de aprender, viabilizando o acesso do aluno aos múltiplos universos dos saberes.

Deixo para o fim um ponto crucial: o que faz da escola uma instituição singular é que ela tem a mudança no seu interior, isto é, nos alunos. E para eles as novas tecnologias são o seu mundo natural, em que - e esta é talvez a maior mudança - eles têm uma cada vez maior iniciativa.

Isto conduz a uma escola mais efervescente, mas também mais caótica, dada a multiplicidade das referências e a inexistência de critérios fiáveis de ordenação e de verificação das informações e dos conhecimentos: é isto que torna o papel do professor diferente, mas vital.

E mais vital do que nunca, não só porque ele agora tem de saber responder a questões imprevistas mas também de pôr ordem no caos de uma autodaxia generalizada, revitalizando a escola como instituição central de confiança nas sociedades contemporâneas. Não tenhamos dúvida, a era digital vai aumentar de um modo sem precedentes a exigência escolar, o que é preciso é estar à altura desse desafio."
 

aqui.

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