"No seminário, o senhor vai falar sobre o “ócio criativo e a terceira plataforma tecnológica”. O que seria isso?
A
terceira plataforma tecnológica é a superação do tempo e do espaço.
Agora, estamos conversando aqui, mas eu poderia estar em Roma, e você,
no Rio de Janeiro, que conversaríamos da mesma forma. Não é necessário
estar frente a frente para se relacionar com as pessoas. E ela acaba com
o trabalho como conhecemos. Tudo será feito por máquinas. Máquinas
construirão as próprias máquinas. Para o ser humano, caberá apenas a
atividade criativa.
Esse futuro ainda é distante.
Sim.
A primeira plataforma tecnológica foi quando a tecnologia diminuiu a
fadiga física; a segunda reduziu o trabalho intelectual. A direção da
humanidade é a terceira plataforma tecnológica.
Nos
últimos anos, o mundo viveu um período de rápida transformação na
tecnologia. O iPhone, por exemplo, foi lançado em 2007, há menos de uma
década. Como essas ferramentas interagem com o ócio criativo?
O
ócio criativo é a reunião, ao mesmo tempo, de atividade, aprendizado e
lazer. Os smartphones facilitam isso, eles eliminam a dispersão de
tempo, possibilitam o teletrabalho. Pense em São Paulo, com todo o
trânsito. Mesmo preso no congestionamento, a pessoa está conectada, não
isolada. Eu, com o meu notebook, carrego o meu escritório para onde vou.
Mas com o celular as pessoas não estão trabalhando mais? Estão sempre conectadas, produzindo?
É
você que deve gerir a tecnologia, e não ela gerir você. As pessoas
precisam se libertar. No Brasil, em 1888 foram libertados os escravos
laborais, agora precisam libertar os escravos intelectuais. As pessoas
estão conectadas, mas elas podem trabalhar quando estão na academia, na
praia, com a namorada. Isso é ócio criativo.
Mas as pessoas continuam trabalhando em escritórios, além do celular.
Isso
é um retardo laboral. Muitas profissões podem se adaptar às
tecnologias. O jornalista, por exemplo, pode fazer reuniões pelo Skype,
escrever os textos pela internet. O computador não é apenas um
substituto da máquina de escrever. Existe um gap cultural. Temos que
usar a tecnologia a nosso favor, não contra.
O mundo tem mais de 7 bilhões de pessoas. Vai ter trabalho criativo para todos?
Não.
Esse é o problema. Todo o trabalho físico, industrial, vai ser feito na
China. Todo o trabalho intelectual vai ser feito na Índia. O resto do
mundo não vai fazer nada. Pense no computador. Ele é projetado nos EUA,
com cem engenheiros, mas fabricado na China, com 3 mil funcionários. E,
quando chega à América, gera ainda mais desemprego. Temos uma grande
crise no trabalho. Na Itália, 44% dos jovens estão desempregados, não
existe trabalho. É uma questão estrutural.
E o que fazer para solucionar esse problema?
O
neoliberalismo é perigoso. Ele acelera esse processo, acelera a
competitividade. As companhias do primeiro mundo exportaram a produção
para o terceiro mundo. A Fiat faz as pesquisas na Itália, mas fabrica os
carros no Brasil. Precisamos encontrar um modelo alternativo. O
comunismo perdeu, mas o capitalismo não venceu. O comunismo sabia
distribuir a riqueza, mas não sabia produzir; o capitalismo sabe
produzir, mas não sabe distribuir."
aqui.
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