A morte caiu-nos em cima.
"um dia destes tenho o dia inteiro para morrer,/espero que me não
doa,/um dias destes em todas as partes do corpo,/onde por enquanto
ninguém sabe de que maneira,/um dia inteiro para morrer
completamente,/quando a fruta com seus muitos vagares amadura,/o dom –
que é um toque fundo na ferida da inteligência:/oh será que um poema
entre todos pode ser absoluto?/:escrevê-lo, e ele ser a nossa morte na
perfeição de poucas linhas” Herberto Helder, Servidões – Assírio & Alvim
No mesmo dia, a tragédia com o Airbus da Germanwings e o adeus ao maior
poeta português da segunda metade do século XX. Era assim considerado
por muitos. Herberto Helder morreu
em Cascais aos 84 anos. E nos Alpes franceses, onde se despenhou o A320
(que fazia a ligação entre Barcelona e Düsseldorf), 150 perderam a
vida. A morte caiu-lhes em cima.
Agora é hora de chorá-los. De os recordarmos. Das homenagens.
Primeiro, o poeta: “Com a licença de todos, o criador aqui sou eu”. Em 1977, conta o DN,
Herberto Helder enviou uma carta à revista Abril, endereçada a Eduardo
Prado Coelho, na qual sobre si escreveu: "O que é citável de um livro,
de um autor? Decerto a sua morte pode ser citável. E, sobretudo, o seu
silêncio". Mas citemos a vida. Em 2010, no Expresso, num longo perfil: “Escrever sobre o poeta é ‘matéria impossível’, dizem-nos. O ‘bloqueio’ é imediato. O autor não dá entrevistas, não fala a jornalistas, não gosta, não quer. ‘Vive ermitado’”. No ano passado, Pedro Mexia escrevia sobre a última obra do autor, “A Morte Sem Mestre”. Nesse texto, intitulado “A última ciência”, sublinhava: “o poeta canta 'o alvoroço mental deste fim de idade', e várias vezes diz que o 'velho' é um 'estupor', um 'cabrão'". Na reação à sua morte, Mexia não teve dúvidas: Herberto Helder era tão grande como Fernando Pessoa. Cavaco Silva falou do “nome cimeiro da cultura portuguesa”. Assunção Esteves classificou-o como um “mestre sem morte”. E o poeta Nuno Júdice atribuiu-lhe um “fôlego poético inesgotável”. É claro que não podemos esquecer quando Clara e António Alçada foram avisar Herberto do Prémio Pessoa.
OUTRAS NOTÍCIAS
Hoje é dia de Presidenciais. Henrique Neto apresenta mais logo, no Padrão dos Descobrimentos, a primeira candidatura às eleições de janeiro de 2016. Neto candidata-se (ainda) sem assinaturas mas há tempo para as recolher. Sobre este avanço e as reações no PS, recomendo a opinião de Ricardo Costa.
Ainda na política interna, destaque para o trabalho de Ângela Silva, no Expresso Diário, que ainda vai dar muita conversa: “PSD ‘vende’ à nata dos empresários que pode ganhar eleições sozinho”. Num encontro com 40 personalidades, Marco António Costa e Maria Luís Albuquerque “informaram os presentes de uma mega-sondagem” que dá “pelo menos 29% ao PS, 26% ao PSD e 4% ao CDS”. Ou seja, o PSD quer mostrar-se em boa forma. O acordo com o CDS ver-se-á depois.
Por falar em Maria Luís Albuquerque, a ministra das Finanças com os “cofres cheios” estará hoje (pela segunda vez) na Comissão de Inquérito ao BES. Ontem passou por lá Carlos Costa que disse: “Não roubei nada a ninguém”, referindo-se a polémica sobre o papel comercial. E confirmou que há sete propostas para compra de Novo Banco.
António Costa está em Itália e a esta hora já terá sido recebido pelo Papa. À tarde, Costa encontra-se com o primeiro-ministro Mateo Renzi.
FRASES
"Marcelo é o candidato de direita que mais receio. Rio, o que mais se aproxima das minhas convicções", Henrique Neto ao Diário de Notícias.
"Acho que o paralelo é mais com a candidatura de Defensor Moura do que
propriamente com as candidaturas de Manuel Alegre e Mario Soares", António Vitorino sobre a candidatura de Henrique Neto, na SIC Notícias.
"Neste momento há muito entertainment em matéria de Presidenciais. Não me parece que um entertainer seja um bom candidato a PR", Augusto Santos Silva sobre a candidatura de Henrique Neto, na TVI24.
"Não estou numa fila de candidatos, ou de candidatos a candidatos", Guilherme d'Oliveira Martins, no Público/Renascença.
"Temos
hoje cada vez mais jovens que encontram oportunidades cá e que entendem
que Portugal pode ser um bom destino, até para jovens de outras
nacionalidades", Pedro Passos Coelho em Braga.
O QUE ANDO A LER
Primeiro um episódio sobre a relação de Paulo Portas (que tinha a pasta da Troika) com o “triunvirato”:
“O homem não tem respeito por ninguém”, desabafou Subir Lall, o chefe
de missão do FMI. Tinha sido convocado para mais uma reunião com o
vice-PM. Depois de falarem um bom bocado, Portas pediu desculpa e disse que tinha de se ausentar, devido a um compromisso urgente. O que teria de mais urgente? Ao início da tarde, uma televisão ligada respondia às dúvidas. As câmaras mostravam Paulo Portas nas Caldas da Rainha, no encerramento do Congresso da JP.
Portas regressaria mais tarde ao Palácio das Laranjeiras para retomar a
reunião. Falou durante largos minutos. Lall não estava pelos ajustes e
perdeu a paciência. “Desculpe, já não o posso ouvir”. Levantou-se e saiu da sala, deixando Portas furioso.
A história vem contada em “Segredos de Estado”, de Luís Reis Pires com Nuno Martins editado pela Matéria-Prima.
O livro centra-se no período do programa de ajustamento. E abre a porta
para os bastidores das conversas entre ministros e parceiros da
coligação. Dá pormenores da crise política entre Passos e Portas. Fala
das “relações tensas” entre a coligação e a troika. E das guerras com os
jornalistas.
Termino com o Prémio de Reportagem Cáceres Monteiro 2014 que foi atribuído a um trabalho do Expresso: “Matar e Morrer por Alá”. Cliquem que não se vão arrepender. E parabéns aos autores.
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