A operação Lava Jato já salpica Portugal
À hora a que ler este Expresso Curto já abriram os bancos na Grécia, ao fim de três semanas de portas fechadas. Ainda há controlo de capitais, limites de levantamentos semanais de €420, novas taxas de IVA em muitos serviços e, acima de tudo, muita confusão política em Atenas – como novos ministros - e Europa fora, com enorme tensão pública entre Angela Merkel e o seu poderoso ministro das Finanças, com os dois a já não terem problemas em assumir publicamente as suas divergências.
Disto tudo há de haver muita notícia dia fora. Vamos então aos salpicos transatlânticos dessa mega operação judicial que dá pelo eficiente nome de Lava Jato. A operação está nas mãos de uma equipa de Curitiba, cidade bem distante dos centros políticos do Brasil, e corre implacavelmente há muitos meses, liderada por uma equipa de procuradores que podia fazer parte dum filme de Michael Mann sobre Chicago.
A investigação no Brasil partiu da Petrobras, de onde foram desviados milhares de milhões de dólares, e seguiram em dois sentidos: empreiteiros e políticos. Como sabemos estas duas coisas andam muitas vezes de mão dada e é, assim, que poucas semanas depois de terem levado à prisão os patrões das maiores construtoras do Brasil, a investigação aperta o cerco a Lula, ex-Presidente da República e senhor todo-poderoso do “seu” PT, que já pediu formalmente para que o inquérito seja suspenso.
Foi exatamente o cerco a Lula que salpicou Portugal. O ex-Presidente brasileiro foi muitas vezes pago pela Odebrecht – a maior construtora do Brasil – para fazer conferências mundo fora. Numa delas - nos 25 anos da construtora em Portugal – fez a apresentação pública do livro de José Sócrates. Noutra visita encontrou-se com Pedro Passos Coelho para tentar interceder pela Odebrecht na privatização da EGF, a Empresa Geral de Fomento.
Neste momento ainda é muito difícil perceber o que isto pode dizer até porque já todos sabíamos quem tinha pago a vinda de Lula quando apresentou o livro de Sócrates e que a Odebrecht perdeu a corrida à privatização da EGF para a portuguesíssima Mota Engil. Mas o melhor é estarmos atentos porque os procuradores de Curitiba não têm vontade de parar.
OUTRAS NOTÍCIAS
Hoje é um dia importante para os estudantes. As candidaturas para a 1ª fase do concurso nacional de acesso ao ensino superior arrancam hoje. Há 50555 vagas, menos 1743 em quatro anos e menos 265 que o ano passado, devido à variação demográfica.
As Presidenciais ainda estão longe, mas animaram muito o fim de semana. No sábado os jornais – a começar pelo Expresso – deram conta dos avanços claros nos quartéis generais de Maria de Belém e de Rui Rio, onde está quase tudo pronto. Ontem, no seu habitual comentário televisivo, Marcelo Rebelo de Sousa deixou bem claro que estes avanços não vão condicionar outros candidatos, a começar por ele próprio.
Para ajudar esta animada festa presidencial, o Correio da Manhã publica hoje uma sondagem sobre as preferências à esquerda e à direita. Do lado direito há poucas surpresas, Marcelo continua a arrasar nas preferências, embora com Rio bem colocado. À esquerda, Maria de Belém recolhe 32,4% das preferências, contra 25,9% do já candidato Sampaio da Nóvoa.
Com agosto a aproximar-se, é natural que as Presidenciais percam gás e deem o seu lugar às legislativas. Esta semana há, pelo menos, duas importantes entrevistas televisivas: Paulo Portas amanhã na SIC e Passos Coelho na quinta-feira na TVI.
Entre muitas coisas – Grécia, economia, campanha, sondagens, presidenciais, etc – há uma nova polémica com os números do emprego, com a coligação a fazer as contas de uma forma que – vou ser simpático – qualquer candidato ao ensino superior sabe que estão mal feitas. Faz parte, a política sempre testou os limites da matemática (e da nossa inteligência).
Nos EUA, Donald Trump – quem é que havia se ser – está envolvido em mais uma enorme polémica, mas agora no centro do seu partido. Trump, cujas frases conseguem ser mais extraordinárias que o seu penteado, resolveu pôr em causa o heroísmo militar de John McCain, o popular senador Republicano.
Não é fácil encontrar uma metáfora para descrever a confusão que se intalou nas presidenciais americanas, mas se juntarem um terremoto a um tufão e a um vulcão em erupção andam lá perto. E Trump, o que diz? Que se está nas tintas e isso, claro, não é uma surpresa para ninguém.
Desde as zero horas – no fuso horário partilhado desde sempre por Washington e Havana – que EUA e Cuba reabriram oficial e formalmente as suas respetivas embaixadas.
Somos campeões do mundo de Futebol de Praia. A jogar em casa, em Espinho, a nossa seleção fez um campeonato impecável e ontem ganhou sem problemas ao Tahiti, a surpresa da competição. Estão de parabéns, os jogadores e a equipa técnica, bem como o público que sempre acreditou na seleção.
Já deve ser um dos vídeos mais vistos de sempre. Ontem, o tricampeão mundial de surf, Mick Fanning, foi atacado por dois tubarões na África do Sul, durante a final da etapa de Jeffreys Bay. Apesar do aparato, o surfista saiu ileso. Minutos após o ataque, a organização do Circuito Mundial de Surf decidiu suspender temporariamente o evento e foi tudo para internet ver vídeos como este.
Parece que andamos a viver acima das nossas possibilidades e desta vez não foi o FMI nem Schauble a darem o recado. A frase veio de José Mourinho, que garante não perceber como é que em Portugal, no meio de uma enorme crise social, os clubes estão a gastar tanto, com Porto e Sporting à cabeça. A frase provocou alguma indignação nos nossos comentadores desportivos, porque um terinador milionário de um clube milionário não devia dizer estas coisas...
FRASES
"O FC Porto pagou 20 milhões pelo Imbula e deu um salário incrível ao Casillas. O Sporting está a pagar milhões a jogadores e treinadores. O futebol contraria qualquer situação". José Mourinho sobre os gastos excessivos do nosso futebol
"Não é um herói de guerra. É um herói de guerra porque foi capturado. Prefiro os que não são capturados". Donald Trump, candidato presidencial republicano, numa frase sobre o senador John McCain que está a incendiar o Partido Republicano
O QUE EU ANDO A LER
Agora que as férias estão à porta – ou, para alguns, já porta dentro –, sugiro um livro que só descobri recentemente no meio de um belo churrasco para os lados de Grândola. Sob os auspícios do churrasco e do rosé, veio parar à mesa um pequeno livro de Miguel Torga, de 1950: Portugal.
O livro lê-se muito depressa, apesar do estilo trabalhado de Torga. À página 13, o autor diz-nos ao que vem:
"Felizmente que os poetas, como os ciganos, são a vergonha do consenso universal. Nunca se demoram em cada terra senão o tempo suficiente para colherem nela o fruto mais doirado".
E é assim, apenas com o tempo suficiente para colher os frutos, que Torga vai do Minho até Sagres. Não sei se por razões familiares, se pela qualidade do churrasco e da companhia, fixei o olhar no capítulo do Alentejo. Depois dum arranque excecional, pode ler-se isto ao fim da página:
"(…) o Alentejo é na verdade o máximo e o mínimo a que podemos aspirar: o descampado dum sonho infinito e a realidade dum solo exausto".
No Expresso Online não prometemos frases destas, mas garantimos notícias atualizadas e boas histórias ao longo de todo o dia. Ao fim da tarde, acertamos contas, damos notícias em primeira mão e temos opinião exclusiva no Expresso Diário. E amanhã volta o Expresso Curto, desta vez pelo João vieira Pereira.
Eu ainda cá ando esta semana, mas no domingo vou quinze dias de férias. Como diz Torga, "passado o Caldeirão, é como se me tirassem uma carga dos ombros". Até lá, é trabalhar. Bom Dia
Sem comentários:
Enviar um comentário