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Por Miguel Cadete
Diretor-Adjunto
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3 de Julho de 2015 |
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Grécia: a angústia de escolher entre o que é mau e o que é péssimo
Ganhe o Não ou vença o Sim, e aqui nem vale a pena acrescentar que também as sondagens são caóticas, tudo ficará por resolver. O referendo de domingo não será uma escolha entre o Inferno e o Purgatório. Trata-se de optar por um Inferno ou outro Inferno ainda pior para a Grecia. O euro, a tal moeda única da Europa, também continuará a navegar por águas desconhecidas. Até porque, como já se viu, pode não ser para todos os que lá estão.
Hugo Dixon, um dos mais esclarecidos comentadores, coloca a questão neste ponto: o referendo é uma escolha entre os maus e o verdadeiros vilões. Voltando a cair na esparrela de que é possível prever seja o que for, o Sim implicaria a queda deste governo e a aceitação de mais austeridade tal como proposto pelas “instituições”. Como se sabe, essa proposta já nem está na mesa. Mas um cenário em que Alexis Tsipras se demite logo que sejam conhecidos os resultados – o que é tão certo quanto 2 + 2 serem 5 – obrigará à marcação de novas eleições. Aí, a oposição (qual?) concorreria, por ventura em aliança, para garantir a vitória. E então assinar um novo acordo com os credores.
Um cenário idílico? Nem por isso. Depois dos últimos cinco meses, a confiança na economia grega está mesmo abaixo de cão. Os bancos encontram-se fechados e o desejado regresso à normalidade implicaria dois anos de recessão em cima de um país que está farto e que veria o rendimento dos seus contribuintes cair mais 8%! A esse respeito vale a pena olhar para o este gráfico de Ian Bremmer: a Depressão Grega já ultrapassou em muito a Grande Depressão de 1929. O caos social, político e económico parece estar garantido. Mesmo no melhor cenário.
Caso, no domingo, vença o Não, Alexis Tsipras, estará em Bruxelas na segunda-feira para assinar um novo acordo com os credores. Foi o que o primeiro-ministro grego garantiu ontem em entrevista ao canal de televisão ANT1. Mas é pouco provável que um acordo que já não está em cima da mesa volte a ser negociado. E nessa hipótese, o regresso ao dracma pode ser devastador. Para a Grécia e, também, para a zona euro. Os bancos permaneceriam fechados e os gregos ficariam sem dinheiro. O caos social impor-se-ia instantaneamente com a falta de víveres, medicamentos e gasolina. As empresas abririam falência. O turismo, a maior fonte de receitas, sofreria um enorme revés. Com as impressoras de notas a funcionar, a inflação seria o pão nosso de cada dia. E a Grécia trocaria uma situação de recessão dentro da zona euro por um futuro ainda mais incerto a braços com o dracma.
Mas não é já assim há muito tempo?
OUTRAS NOTÍCIAS
Buscas no FC Porto e em casa de Antero Henrique. Ontem, o DCIAP e a PSP desencadearam uma operação que visa empresas de segurança sobre as quais há indícios de praticarem extorsão. Entre as buscas efectuadas (mais de 50) que se espalharam por todo o país, contaram-se as instalações da SAD do FC Porto e a casa de um dos seus vice-presidentes, o director-geral da SAD Antero Henrique. O assunto está na manchete do “Jornal de Notícias” e do “Correio da Manhã”.
Eusébio transladado para o Panteão Nacional. Hoje, as televisões vão transmitir em directo, durante mais de cinco horas, a cerimónia de deposição dos restos mortais de Eusébio no Panteão. O cortejo parte do Cemitério do Lumiar, depois das 15h, e desce Lisboa até ao Parque Eduardo VII. A partir daí, o corpo será transportado numa charrete puxada por quatro cavalos. Alexandra Simões de Abreu já sabe como tudo se vai passar. Dulce Pontes cantará o hino. E lá pelas 19h, Eusébio repousará ao lado de Almeida Garrett, Guerra Junqueiro e Sophia de Mello Breyner.
Amália homenageada, de novo. Foi ontem apresentado o disco de homenagem a Amália (também repousa no Panteão) que faz parte de um projecto mais vasto do realizador Ruben Alves, autor do filme “Gaiola Dourada”. Além de um documentário, que só será disponibilizado mais tarde, dele faz parte o disco “Vozes no Fado” (edição a 17 de Julho) onde Ana Moura, Camané, Gisela João, Carminho, António Zambujo e Ricardo Ribeiro interpretam canções popularizadas por Amália, juntamente com Caetano Veloso, Bonga e outros. Para a capa, e para uma calçada de Alfama, Vhils desenhou uma Amália que fará “chorar as pedras da calçada”, como se pode ver aqui.
Ricardo Sá Fernandes afinal ganhou nas primárias do Livre. Daniel Mota, solicitador, 38 anos, não venceu as primárias do Livre no círculo do Porto como havia sido anunciado. Depois de várias queixas, procedeu-se à recontagem dos votos e foram-lhe retirados os que haviam sido “fotocopiados”. Sá Fernandes subiu do 3º lugar para o 1º e terá reposto a normalidade. Um imbróglio que está aqui contado.
Miguel Macedo perde imunidade. Ex-ministro da Administração Interna deve perder hoje a imunidade devida aos deputados, após votação, de maneira a ser constituído arguido por alegadamente ajudar um amigo no caso dos Vistos Dourados, noticia o “Correio da Manhã”. O ex-governante é suspeito de três crimes de prevaricação de titular de cargo político e um de tráfico de influências devendo ser interrogado em breve pelo Ministério Público.
FRASES
“Os media transformaram o sexo numa coisa obrigatória”. José Gameiro, psiquiatra, ao jornal “i”
“O IRS de 2106 vai provocar uma guerra civil”. Domingos Azevedo, Bastonário dos Técnicos Oficias de Contas, ao “i”
“Os políticos do aparelho são os que conhecem melhor o país”. Durão Barroso durante o lançamento do livro de Miguel Relvas, no “Diário de Notícias”
“Nunca saí da política”. Isaltino Morais, no “Diário Económico”
“Se quiser ir para o banco, vou!”. Bruno de Carvalho, em “A Bola”
O QUE EU ANDO A LER
A edição de amanhã da Revista do Expresso, que tem na capa um trabalho de Virgílio Azevedo sobre a história dos Açores que, afinal, ainda não conhecemos. Quem julga que os navegadores portugueses descobriram aquelas ilhas do Atlântico algures no século XV pode estar bem enganado.
Na Terceira e no Pico, o grande repórter do Expresso foi encontrar um cada vez maior número de vestígios que confirmam a presença de outras civilizações naquele arquipélago. A tese oficial não permite desvios, mas há cientistas que revelam com insistência a presença de fenícios, vikings, romanos e outros povos, descoberta através de vestígios que garantem que outros chegaram antes dos portugueses.
Não, aqui não se trata de recuperar a lenda da Atlântida: os hipogeus onde repousavam os mortos, o ADN dos ratos estudados em laboratório ou as pirâmides agora encontradas demonstram que havia vida humana nos Açores antes da chegada dos enviados do Infante D. Henrique.
Um excelente ensaio de Miguel Monjardino sobre a Grécia e Atenas, capital da democracia, é incontornável para se ganhar outra perspectiva sobre o assunto que por estes dias preenche os noticiários.
E se gostou da prestação da selecção de Sub-21 no Europeu que terminou terça-feira com uma derrota nos penáltis frente à Suécia, saiba que o melhor ainda está por vir. Vemo-nos para o ano, no Rio de Janeiro.
Ainda antes disso, já na segunda-feira, Ricardo Costa não estará no Rio mas sim por estas bandas para servir o primeiro Expresso Curto da semana. No Expresso online, conte com toda a informação sobre a actualidade, não apenas sobre a efervescente Grécia. E lá pelas seis da tarde chega mais uma edição do Expresso Diário. Amanhã, já se sabe, é dia de semanário.
Bom fim de semana!
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