sábado, 18 de julho de 2015

sugestões... férias e livros, resultam...?

como a coisa mete livros e comigo resulta sempre, uns anos com mais leitura outros com menos, aproveito para deixar estas sugestões...



Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!
 
 
"O prometido é devido. Ontem disse-vos que hoje iria falar de livros para férias e aquilo que é prometido é devido. Afinal é nesta época do ano que muitas vezes se colocam as leituras em dia. Para além disso, perdoem a imodéstia, foi também esse o tema do Conversas à Quinta desta semana, em que estive a falar com Jaime Gama e Jaime Nogueira Pinto sobre Uma dúzia de livros para as suas férias.
 
Curiosamente trouxemos treze livros para cima da mesa, mas um estava repetido. Mesmo assim o tempo foi curto para apresentar estas escolhas, até porque se tratavam de sugestões a sério, de livros lidos e comentados. Livros em português e livros em inglês, francês e até em italiano (uma pequena jóia, sobre Física). Quase sempre livros com alguma ligação a temas da atualidade ou com atualidade e também alguns romances. No final ficou a faltar-nos um: a Crónica da Tomada de Ceuta, por Gomes Eanes de Zurara, por uma lamentável motivo: no ano em que se assinalam os 600 anos daquela expedição que marca o início da expansão portuguesa, não há nenhuma edição deste clássico do século XV disponível nas livrarias. A edição mais recente, apesar de ser de 2007, é quase impossível de encontrar. É uma daquelas lacunas que diz muito sobre a edição e os editores em Portugal. E também sobre a forma como funciona o mercado livreiro.
 
Mas adiante. Até porque, apesar de estarmos nesta época do ano, quase não encontrámos listas de sugestões na imprensa portuguesa. Com uma excepção e meia.
 
A exceção é um texto de Carlos Fiolhais que, no Público, recomendou na sua coluna de opinião Dez livros para as férias. Selecciono dois deles:
  • José Tito Mendonça, Uma Biografia da Luz. Ou a Triste História do Fotão Cansado, Gradiva. Neste Ano Internacional da Luz o penúltimo volume da colecção Ciência Aberta convida-nos a uma viagem pelos mistérios da óptica, revelando não só a história da descoberta da luz mas o percurso de vida do autor, um professor de Física do Instituto Superior Técnico que sempre procurou a luz.
  • Atul Gawande, Ser Mortal, Nós, a medicina e o que realmente importa no final. Lua de Papel (prefácio de João Lobo Antunes). Somos mortais, mas só nos lembramos disso quando somos confrontados com a mortalidade de alguém mais próximo (aconteceu-me há pouco com o passamento de José Mariano Gago). Da autoria de um cirurgião que ensina em Harvard, aqui está uma obra que nos ajuda no confronto com a morte.
 
A meia exceção saiu aqui no Observador. É uma selecção de livros, todos eles boas leituras de férias, mas que foram escolhidos com outro propósito: assinalar o dia mundial do livro, a 23 de Abril deste ano. 17 jornalistas da nossa equipa escolheram outros tantos livros com um só critério: serem os que mais os tinham marcado este ano. Há obras mais recentes, novidades, e clássicos, numa mistura que talvez seja a mais apropriada, pois as férias não são apenas para ler o que acabou de sair, são muitas vezes o tempo para ler o que nunca se conseguiu ler (e por isso, já agora, também falámos, no já citado Conversas à Quinta dessa imortal obra-prima que é Guerra e Paz, de Lev Tolstói, com as suas mais de 1600 páginas em quatro volumes). Quanto às 17 escolhas dos jornalistas do Observador, aqui ficam três, para amostra:
  • Submissão, de Michel Houellebecq, “Intolerante e xenófobo, disseram uns. Um aviso do que aí vem, disseram outros. No mesmo dia em que o enfant terrible da literatura francesa lançou esta história de uma França submetida à lei islâmica, a redação do Charlie Hebdo foi atacada. 12 pessoas morreram. Uma vida é uma vida mas, como jornalista, o tema tocou-me de uma maneira especial. Talvez influenciada por tudo o que aconteceu, este livro também”. Sara Otto Coelho
  • Sinais de Fogo, de Jorge de Sena, “É um grande romance português de um autor que está um bocado esquecido, mas cuja obra é um clássico porque continua a parecer atual e não parece datada”. Ana Suspiro
  • O deserto dos Tártaros, de Dino Buzzati, “Foi-me recomendado por um amigo e eu, que não conhecia o autor, tornei-me entretanto um admirador da sua obra. A ideia inicial do livro é bastante simples, mas rapidamente ele se torna numa grande obra sobre a passagem do tempo, as expetativas goradas e os horizontes que nunca chegam”. João Pedro Pincha

 

Deixo agora este espaço de conforto que é, apesar de tudo, livros em português, e passo a outras selecções que me chamaram a atenção. E começa pela do The Guardian, Best holiday reads 2015. Também aqui o critério seguido na selecção foi pedir a gente da casa e a alguns convidados para fazerem as suas escolhas. Aqui ficam alguns exemplos, escolhidos quase aleatoriamente, de livros que, mais do que já lidos, são livros que se tenciona ler neste período:
  • I can’t wait to read Circling the Sun by Paula McLain (Virago), author of The Paris Wife (Virago), which told the story of Hemingway’s first marriage; her new book is the story of the aviator Beryl Markham and her relationship with Denys Finch Hatton, who was also the lover of Karen Blixen (Isak Dinesen). Sarah Churchwell
  • Why the West Rules – for Now by Ian Morris (Profile) follows in the footsteps of Jared Diamond’s Guns, Germs and Steel (Vintage), aiming to turn history from a collection of fuzzy stories into hard science. It provides a wealth of startling new evidence and thought-provoking ideas. Yuval Noah Harari
  • The American writer, Leonard Michaels, who died in 2003, wrote prose of exquisite clarity. His Sylvia (Daunt Books) tracks a fatally destructive love affair and marriage in Greenwich Village in 1960. This short novel is terrifying, beautiful and addictive. Ian McEwan
 
Já o Independent não esteve com meias medidas e propôs The best summer reads: 90 books chosen by 40 literary luminaries. Com tanta escolha, nem sei que citar, pelo que começo por um clássico, sugerido por uma romancista, Kate Atkinson: “The 150th anniversary of its publication will probably prompt many people to revisit Alice in Wonderland and its companion,Through the Looking-Glass, published several years later. I think Through the Looking-Glass is my favourite of the two, although when I was a child I never read one without the other as they existed side by side in the same volume, one of the few childhood books I still possess. I return to it often and will do so again this summer.” E sigo com uma sugestão de um grande historiador, Antony Beevor, se bem que ela se refira a um livro que só sairá em Setembro mas que podem ir já pré-encomendar os que tiverem férias mais tardias: “The other book that I will be reading this summer (…) is Timothy Snyder’s Black Earth. Snyder, who wrote the magnificent and important Bloodlands, is now focusing on the first stage of the Holocaust, what Vasily Grossman called the “Shoah by bullets” (as opposed to the subsequent “Shoah by gas”). Snyder re-examines the assumption that the Holocaust was unique, and this should once again provoke a very useful and healthy debate.”

 
Mas se estamos a falar de livros em inglês, o romance deste Verão arrisca-se a ser Go Set a Watchman, a obra perdida de Harper Lee, a celebrada autora de To Kill a Mockingbird (Tradução portuguesa, “Mataram a Cotovia", edições Relógio de Água). O livro acaba de chegar ao mercado (em Portugal só mais lá para o fim do ano) e as reacções têm-se dividido. Para muitos será necessário esquecer o romance icónico que vendeu mais de 40 milhões de exemplares nas últimos cinco décadas para poder apreciar a obra que a autora dera como perdida, uma obra que começou por ser recusada pelo seu editor. Mesmo assim deixo-vos uma referência, a crítica do Wall Street Journal, um dos jornais onde o primeiro capítulo saiu em pré-publicação. Chama-se In Harper Lee’s ‘Go Set a Watchman’ Atticus Finch Defends Jim Crow e revela-nos que a a figura do advogado imortalizada no cinema por Gregory Peck, “One of the few unambiguously heroic figures in American literature was originally conceived as a segregationist.” O que não deixará de ser surpreendente, mesmo chocante: “Yet for the millions who hold that novel dear, “Go Set a Watchman” will be a test of their tolerance and capacity for forgiveness. At the peak of her outrage, Jean Louise tells her father, “You’ve cheated me in a way that’s inexpressible.” I don’t doubt that many who read this novel are going to feel the same way.”
 
E por aqui me fico. Espero tê-los ajudado nas vossas escolhas de leituras de Verão.
 
Tenham um bom fim-de-semana."


via mensagem do observador...

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