domingo, 1 de novembro de 2015

coisas da educação... os manuais escolares, para não variar...!



da edição impressa do público, onde li o artigo completo...



Quem já tentou usar manuais escolares de irmãos, amigos ou bancos de trocas sabe que as novas edições são muito parecidas. Mas exactamente quanto e em quê?




"Prepare-se: este é um texto monótono. Vamos comparar, página a página, duas edições de Diálogos 5, o manual de Português do 5.º ano, de Fernanda Costa e Luísa Mendonça, editados pela Porto Editora em 2011 e em 2015.

Numa análise macro, o cotejar mostra que os dois manuais têm 70% de páginas iguais ou quase iguais; 9% de páginas parcialmente iguais e 22% de páginas novas. Numa leitura mais fina, o retrato pode desdobrar-se assim: há 28 páginas iguais com a mesma numeração (13%); 103 páginas iguais com numeração diferente (46%); 22 páginas quase iguais (10%) e 20 páginas parcialmente iguais (9%).

No total, o manual novo tem apenas 50 páginas com conteúdos totalmente novos (22%). O livro “velho” tem 256 páginas e o novo 240. Nesta análise, retirámos o índice, as sugestões de leitura iniciais e os separadores de capítulos.

As grandes diferenças (50 páginas) resultam sobretudo da introdução de novos textos na edição de 2015. Um exemplo: no capítulo Texto Poético desapareceram os três poemas de Luísa Ducla Soares que existiam no “velho” e apareceram oito poemas novos de… Luísa Ducla Soares.


Dos 22 textos novos da edição deste ano, 17 são dos mesmos autores do manual de 2011. Chega-se às 50 páginas porque os exercícios de leitura, oralidade e gramática remetem para os textos. Se os textos mudam, os exercícios mudam também.

Há nas escolas portuguesas 118 mil crianças no 5.º ano. Se tiver de comprar todos os manuais pedidos pelas escolas, cada família gasta por filho no 5.º ano 175 euros só em manuais, ou seja, estamos a falar de um negócio editorial de mais de 20 milhões de euros por ano para apenas um dos 12 anos de escolaridade obrigatória.

Páginas “quase iguais”

Por páginas “quase iguais” considerámos páginas com diferenças mínimas. Identificámos 22: 35/35 ("velho/novo); 46/42; 61/47; 70/56; 76/59; 84/66; 91/78; 92/94; 95/97; 119/117; 128/122; 137/132; 140/128; 141/129; 152/142; 180/172; 181/173; 220/208, o conjunto 234/222+235/223+236/224; e páginas 240/228.

De que diferenças estamos a falar? Sete exemplos apenas, escolhidos por representarem o padrão de páginas que, numa análise mais superficial, poderiam ter sido incluídas na categoria “páginas iguais”. Em caso de dúvida, demos “vantagem” ao manual novo.

Comecemos pelas páginas 13/13: neste caso, é tudo absolutamente igual menos o símbolo “M” relativo às novas metas curriculares aprovadas pelo Governo em 2011. O “M” aparece no manual novo dentro de um pequeno quadrado cor de laranja ao lado do título de uma fábula. Texto, ilustração e grafismo são 100% iguais.

A seguir, nas páginas 35/35, o estudante “vem” do texto Uma boa nova, de António Torrado, na página par, e vai agora responder a algumas perguntas. O exercício tem cinco questões, dez alíneas, cinco opções e um desdobramento da última pergunta. Até aqui, estas duas páginas “quase iguais” são na verdade iguais, à excepção de um pormenor: no manual “velho” o texto de Torrado é identificado como alínea “a.” e no manual novo é identificado como “1”. O resultado prático é que, no “velho”, a contagem dos exercícios vai de 1 a 5 e no novo vai de 2 a 6. A segunda diferença surge no exercício de gramática e também não altera o conteúdo. As crianças ainda estão a trabalhar sobre o texto de Torrado. Os dois manuais têm duas perguntas (no “velho”, pela razão exposta, são as perguntas 6 e 7; no novo, são as 7 e 8), que são subdivididas em partes iguais e com o mesmo conteúdo. Onde está afinal a diferença? Na última linha. No “velho” manual lê-se:

7. Quando o pai anunciou que arranjara trabalho, a mulher quis saber “Se o novo emprego lhe agradava, quanto ia ganhar, qual a dimensão da empresa [...].”

7.1. Transforma a passagem transcrita em 7, escrevendo no discurso direto [sic] as perguntas que a mulher fez ao marido tal como ela as disse. Nós começamos:

A mãe Margarida perguntou ao marido:
Já no novo a pergunta foi alterada para:"
 
 
 
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