"Durante semanas, foram, deliberadamente, deixadas suspensas dezenas
de milhar de pessoas - com famílias, muitos com cinquenta ou mais anos,
sem terem como saber onde serviriam no ano lectivo seguinte. Depois de
terem ensinado tanta gente durante anos. Um secretário de estado, como
que encolhendo os ombros, limitou-se a dizer, na altura, que talvez
ficassem a saber do seu destino três semanas depois. Ou, acrescentou
generoso, talvez mais tarde. Hoje, muitos, com mais turmas e
sobrelotadas, estão deslocados a não poucos quilómetros de casa. Não
custa imaginar uma professora de cinquenta e cinco anos, conduzindo
todos os dias dezenas de quilómetros engarrafados, para dar aulas, que
preparou, a quatro ou cinco turmas de trinta alunos, quando, um ano
antes leccionava três ou quatro turmas mais pequenas. Pelo contrário, os
docentes mais novos, note-se, estão dotados com menos tempos lectivos
ou, pura e simplesmente, não estão sequer colocados. É difícil encontrar
algum senso nisto. A não ser, talvez, o de tornar a vida profissional
dos docentes mais velhos tão custosa, que, brutalmente, os empurre para
aposentações antecipadas. Tudo isto, como sabemos, é antropologicamente
possível. A não ser que creiamos piamente serem os governos
integralmente constituídos por anjos não caídos.
Os professores foram tratados como reses. Só que, desta vez, tudo se
passa como se o gado estivesse, afinal, do outro lado. Numa espécie de
inversão antropológica, são os bois - incapazes de ver palácios - que
estão encurralando os homens e não o contrário.
Os que, colando-se patrioticamente ao governo, vão clamando o
estribilho simplista (mas eficaz, claro) de "a Escola servir para os
alunos e não para os professores" (como se essa oposição tivesse uma
existência mais do que retórica...), esses deveriam parar para pensar e
interrogar-se que serviço presta aos alunos todo este processo abjecto.
É ainda mais... interessante que tudo isto, a saber, todo este
destrato de dezenas de milhar de licenciados experientes, seja praticado
por um governo que alberga no seu interior uma personagem civicamente
homuncular, que, tendo pastado inúmeras "equivalências" algures, para
nossa vergonha, se vai passeando ufano e tem ainda o descaramento
esbofeteável de dizer nas nossas barbas que "norteia a vida pela procura
do conhecimento permanente"."
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