"Nem tenho falado das matérias da RTP, porque não vale a pena. A minha
opinião é conhecida: o estado não deve ter órgãos de comunicação social.
Não tenho uma letra a mudar ao assunto. A questão do “serviço público” é
outra, e a mistura das duas serve sempre para legitimar a existência de
várias empresas públicas, com controlo governamental. Admitindo que há
um “serviço público” mínimo, ele deve ser definido, coisa que os seus
defensores nunca querem fazer, e acima de tudo, nada justifica que se
estenda a matérias de jornalismo e informação.
Dito isto, também nunca tive a mais pequena dúvida de que, no fim da
linha, não haverá qualquer diminuição do efectivo poder governativo, bem
pelo contrário, sobre um canal ou um grupo de televisão a que hoje
chamamos “comunicação social do estado”. Seja qual for a fórmula
escolhida, chame-se-lhe “privatização” ou “concessão”, ou qualquer outra
na panóplia de esquemas que os consultores encontrem, o estado vai sair
mais forte, ou seja, os governos vão ter mais instrumentos para mandar
no “seu” sector de comunicação. A não ser que este governo encontre uma
fórmula para não só privatizar ou "concessionar" a RTP, como também
privatizar o poder de controlar a RTP a favor de um partido ou de um
grupo de interesses "amigo". Daí que o PS se mexa, como nunca se mexeu
com nenhuma outra privatização, porque, quando houver rotatividade no
governo, não encontra lá nada. está cá fora nas mãos de um certo PSD e
da coligação de interesses que o apoia. O PS encontrará certamente
meios de pôr lá as mãos, porque os mecanismos de controlo permanecem na
governação, mas será mais difícil
Para além de tudo ser obscuro e já estar decidido ou quase, o pior, em
termos de saúde da nossa democracia, é a entrega da comunicação social
do estado a um grupo “amigo”, seja português, angolano, ou
luso-angolano. Será é sempre “amigo” e bem “amigo”. Ou alguém imagina
que qualquer proposta que apareça, vinda de alguém que o governo possa
considerar “hostil” ao actual poder político, possa ter cabimento? Não,
meus amigos, está tudo já cozinhado. Pode estar mal cozinhado, e haver
sarilhos e indigestão, mas que o prato já está pronto ser servido, já
está há muito."
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