no público 'online'...
"Para evitar a realização de reuniões sindicais, o Ministério da
Educação e Ciência (MEC) está a fazer chegar aos dirigentes escolares a
indicação de que na manhã desta terça-feira o “acesso às escolas [em que
se realiza a prova de avaliação para professores] deverá ser restrito
às pessoas envolvidas” na realização daquele serviço, que diz ser de
“natureza urgente e essencial”.
O presidente da Associação Nacional de Directores de
Agrupamentos e Escolas Públicas, Filinto Lima, considera a situação
“lamentável”. “Fomos apanhados numa guerra política”, diz.
Na mensagem electrónica dirigida aos directores das cerca de 80 escolas em que se realizam as provas para professores
contratados, o MEC refere-se directamente ao facto de várias
organizações sindicais, incluindo a Federação Nacional dos Professores
(Fenprof), estarem a convocar plenários
e a apelar aos professores do quadro para que faltem à vigilância das
provas ao abrigo da lei sindical, impedindo assim a sua realização.
Citando a Lei 59/20908, o MEC sustenta que o direito de exercer a
actividade sindical no interior do órgão de serviço “não pode
comprometer a realização do interesse público e o normal funcionamento
dos órgãos e serviços” e que, no caso de a reunião se realizar durante o
horário de trabalho, "os promotores devem apresentar uma proposta que
assegure o funcionamento dos serviços de natureza urgente e essencial”.
Numa
nota enviada à comunicação social ao princípio da tarde desta
segunda-feira, o MEC insiste que a prova foi “assumida como uma
prioridade desde o primeiro momento” pelo actual Governo, “em benefício
dos (…) alunos e da escola pública”, e recorda que parte dos professores
a que se aplica – docentes sem vínculo à função pública e com menos de
cinco anos de serviço – já a realizou, a 18 de Dezembro. Confirma,
assim, a indicação dada às escolas, que justifica com a necessidade de
“garantir as condições de tranquilidade adequadas à realização da prova
de avaliação de conhecimentos e capacidades, salvaguardando o interesse
público e o direito dos candidatos à sua realização”.
Contactado
pelo PÚBLICO, Filinto Lima frisa que “o MEC terá o direito de
classificar os serviços como sendo de natureza urgente e essencial”. “O
que já é difícil de aceitar é esta situação em que todos – incluindo
nós, os directores, somos levados a cometer excessos. Devíamos estar
concentradíssimos na preparação do próximo ano escolar e temos de estar
preocupados com esta guerra política em que nós e as escolas fomos
apanhados”, lamenta.
O presidente da Associação Nacional de
Dirigentes Escolares (ANDE), Manuel Pereira, que só ao princípio da
tarde teve conhecimento da orientação, considera-a “estranhíssima”, por
colocar em causa “o princípio da confiança nos professores e o
pressuposto de que estes são pessoas equilibradas e responsáveis". “Não
permitir que entrem na escola outros professores que não os envolvidos
no serviço da prova é alterar as regras de uma forma que ultrapassa a
razoabilidade”, afirma. E acrescenta: “Já é suficientemente lamentável a
situação em que o MEC colocou os directores, ao marcar a prova às
escondidas de todos e com um prazo apertado. As coisas devem ser feitas
de forma transparente – quem não deve não teme”, critica.
Queixa-crime contra quem emitiu nota enviada às escolas
Contactado
pelo PÚBLICO João Louceiro, dirigente da Fenprof, frisou que os
serviços “não podem ser classificados de natureza urgente e essencial
por capricho dos ministros”. “Neste caso, é claramente abusivo: estamos
perante um serviço que não faz parte da actividade normal da escola, que
não se dirige a quem anda na escola e que até é estranho à escola”,
sustenta. Afirma ainda que "a medida é um artifício que visa evitar a
realização de plenários legalmente convocados e que constituem um dos
direitos, liberdade e garantias consagrados na Constituição”.
Com
esta leitura, a direcção da Fenprof vai apresentar uma queixa-crime
contra o director da Direcção-Geral dos Estabelecimentos Escolares, que
emitiu a nota enviada às escolas. Em comunicado promete ainda participar
daqueles que nos estabelecimentos de ensino assumam o impedimento da
realização das reuniões sindicais convocadas ou a participação nelas dos
professores interessados; avisa, por fim, que chamará a polícia, se os
dirigentes sindicais forem impedidos de entrar nas escolas.
Mais
tarde, numa conferência de imprensa em que pediu a demissão do Ministro
da Educação, Nuno Crato, o secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira,
acusou os governantes de “até na maldade serem incompetentes”.
Assegurou que há docentes que dispõem comprovativos de que não puderam
fazer a prova em Dezembro e que não foram chamados a realizá-la, agora; e
frisou que legalmente o MEC não pode impedir quem não fizer a prova de
dar aulas, já que esta não fazia parte dos requisitos verificáveis à
data dos avisos dos concursos e “ já foram publicadas, entretanto, as
listas provisórias das candidaturas” dos professores que podem vir a ser
colocados nas escolas, no próximo ano lectivo. Nogueira
disse ainda acreditar que os directores não vão impedir a realização
dos plenários e apelou aos professores dos quadros para não vigiarem os
colegas."
aqui.
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