|
|
Por Miguel Cadete
Diretor-Adjunto
|
|
|
3 de Setembro de 2015 |
|
Uma imagem vale mais do que mil refugiados mortos?
A história é “insuportável” porque, infelizmente, não é nova. Há muito que os jornais e as redes sociais estão cheias de imagens deste “naufrágio da humanidade” (uma “hashtag” que por estes dias percorre o mundo) mas que demonstram que a livre circulação de mercadorias e capitais é bem mais fácil do que a de pessoas. Não é “lá longe”. Acontece mesmo aqui ao lado, em Melilla, Espanha, onde foram construídos os primeiros muros, ou em Lampedusa, Itália, onde a governadora Giusi Nicoli, há dois anos, já perguntava: “quão grande deve ser o cemitério da minha ilha?” Ou na Grécia e na Bulgária. Em Calais, em França. Ou na Hungria, na Ucrânia e na Estónia onde rapidamente se se meteram mãos à obra para a construção de barreiras que tentam impedir que cidadãos passem de uns países para os outros. Alguém se esqueceu que a Terra é redonda? João Santos Duarte esteve lá, na Hungria, e produziu este excelente trabalho multimédia para quem gosta de ver (e ouvir) para crer.
Nem todos se esqueceram de que a Terra é redonda: Angela Merkel, a chanceler alemã a que gostávamos de desenhar bigodinhos à Hitler ou dizer que era filha de um pastor alemão, demonstrou preocupação com as vagas de migrações que, na Europa, são as maiores desde a II Guerra Mundial. Em sentido exatamente oposto, David Cameron, o primeiro-ministro britânico que se prepara para visitar Portugal, já disse que o seu país “não devia receber mais refugiados do Médio Oriente”. Os firmes opositores de uma e os garbosos apoiantes do outro bem que se podiam esconder. Passos Coelho, por seu lado, declarou ontem que “temos a responsabilidade ética e moral de sermos solidários com aqueles que nos procuram, articulando melhor as nossas respostas”.
Mas nas instâncias europeias, a discussão do assunto não mereceu grande pressa. A reunião foi marcada para 14 de setembro o que mostra à saciedade o desinteresse, ou a desumanidade, pelo que se está a passar. A questão pode, no entanto, ser outra e escapar no meio de tantos discursos empenhadíssimos de ativismo. E se o tema “ético e moral” andar de mãos dadas com o problema demográfico. E se os refugiados fossem uma excelente oportunidade para resolver o problema da insustentabilidade dos sistemas de segurança social. Poderão os sírios e líbios que hoje procuram outra vida pagar as pensões de reforma dos europeus? Serão eles quem vai reconstruir a Europa?
Um risco que pode ser agravado com o resultado da venda do Novo Banco. O fim das negociações com os chineses da Angbang, os que davam mais pelo “banco bom” do BES, pode ditar um novo agravamento das contas do Orçamento do Estado. Algo que, para já, não preocupa Pires de Lima. O ministro da Economia faz fé na competência do governador de Banco de Portugal na condução das negociações para a venda do Novo Banco que neste momento trata o assunto com os também chineses da Fosun. O “Diário de Notícias” diz na primeira páginas que a Fosun não vai subir a proposta já apresentada mas Pires de Lima disse ontem, logo após serem conhecidas as previsões da UTAO estar “muito confiante de que no final do ano as nossas contas externas estão positivas e apresentaremos um défice inferior a 3%. O objetivo é 2,7%.”
Quem também não atribuiu grande mérito ao Governo de Portugal, neste caso na condução do problema da dívida, é João Vieira Pereira. A estabilidade do mercado de dívida e o regresso de Portugal aos mercados, diz em coluna de opinião também no Expresso Diário, não é tanto obra de Pedro (Passos Coelho) mas de Mário (Draghi). Uma façanha em que o protagonista, ou verdadeiro herói, terá sido o anónimo contribuinte português.
A ver se não morremos na praia.
OUTRAS NOTÍCIAS
O Expresso lança amanhã dois novos serviços especialmente dedicados às eleições legislativas. Para saber tudo o que se passa e aceder a informação em primeira mão no WhatsApp basta enviar uma mensagem com a palavra “subscrever” para o número 96 628 1213. É preciso criar um novo contacto no telemóvel com este número. No Snapchat, encontre-nos como Snap-Expresso. As surpresas serão muitas. Vai uma selfie com o PM?
Começa hoje o festival de cinema de Veneza. Jorge Leitão Ramos, crítico do Expresso, já lá está e destaca a estreia de “Everest”, um filme com Jake Gyllenhaal, Keira Knithley e Josh Brolin. O drama e a tragédia de uma história verídica, sucedida em 1996, em que o verdadeiro protagonista é a maior montanha do mundo. Na verdade, é um filme de uma “major”, produzido com muitos efeitos especiais, que está a marcar o primeiro dia desta 72ª Mostra Internacional de Arte Cinematográfica. “Montanha”, primeira longa-metragem do português João Salaviza, vai passar na Semana da Crítica.
Taylor Swift, uma das protagonistas dos MTV Awards, está a ser acusada de racismo. O vídeo-clip de “Wildest Dreams”, que estreou domingo durante a transmissão dos prémios daquele canal de televisão, apresenta uma Africa colonial, sem negros, à maneira dos anos 50. O vídeo já conta com mais de 14 milhões de visualizações no YouTube foi descrito no blogue Jezebel, um dos mais influentes nos EUA, como um encontro entre Hollywood de outros tempos e “Africa Minha”. A tensão racial foi permanente ao longo de toda a cerimónia de entrega de prémios, ficando para a história a desavença entre Miley Cyrus e Nicki Minaj e a promessa de Kanye West se candidatar a presidente.
A época de transferências terminou mas a imprensa da especialidade ainda anda às voltas com quem saiu, entrou ou, talvez ainda mais importante, com quem permanece nos principais clubes portugueses. “A Bola” diz que já há acordo entre o Sporting e André Carrilho para a renovação do seu contrato até 2020. O “Record” adianta que o Benfica recusou uma proposta de dez milhões de euros para vender Luisão ao Chelsea de Mourinho. E “O Jogo” dá como garantido o regresso de Casillas à baliza da seleção de Espanha. Caso De Gea, que viu a sua transferência frustrada num rocambolesco processo, não seja titular no Manchester United, o selecionador Del Bosque já garantiu que não o chamava.
Xi Jinping, o Presidente da China, anunciou hoje que irá reduzir em 300 mil os efetivos das forças armadas. O anúncio foi feito em Pequim, durante a celebração do 70º aniversário do fim da II Guerra Mundial. Na China existem atualmente mais de dois milhões de militares, mas o esforço de modernização em curso implica a substituição de meios terrestres por outros especializados em ações no ar ou no mar. Foi apresentado um novo míssil para destruir porta-aviões. Mas na Praça de Tiananmen, Xi Jinping tentou descansar os países vizinhos anunciando este novo caminho pacifista. Não referiu a crise económica por que passa a China neste momento, nem como irá reintegrar os 300 mil militares que irão ser dispensados. Depois do seu discurso, teve início uma parada militar que, observadores citados pelo “New York Times” classificaram como pura demonstração do poderio militar chinês.
FRASES
“Sejam chineses ou alemães, estamos contra”. Jerónimo de Sousa sobre a investida de capital estrangeiro
“Ele é diferente daquilo que as pessoas pensam. É bom tipo. Espero concorrer contra ele um destes dias”. Donald Trump sobre Kanye West
“O rapaz tem de se recompor. Ele é um manhoso, sempre com um sorriso na cara... A Grécia não merece ter um primeiro-ministro destes”. Vangelis Meimarakis, novo líder da Nova Democracia que entretanto deixou de usar gravata, sobre Alexis Tsipras
“Este programa deve ser estendido se não houver melhorias suficientes na inflação, consistentes com o cumprimento do objetivo de médio prazo de estabilidade de preços”. Nota do FMI sobre o programa de compara de dívida pública do BCE
O QUE EU ANDO A OUVIR E A LER
Alguns dos nomes que na sexta e no sábado se apresentarão no último de todos os festivais. A época já vai longa, e há quem diga que são demais os eventos do género, mas o Festival F convocou para os dias 4 e 5 de setembro, na Vila Adentro, em Faro, alguns dos mais novos e distintos representantes da música e da literatura portuguesa. A seleção inclui António Zambujo e Dulce Maria Cardoso, Deolinda e Afonso Cruz, Carlão e Sandro Willian Junqueira, Linda Martini ou Valter Hugo Mãe.
Ao todo são sete espaços espalhados pelo casco velho da capital do Algarve que, aparentemente, se dispõem a cumprir uma das funções, por vezes esquecida, dos festivais. Criar surpresa e encontrar o que não se esperava, de preferência pelos melhores motivos.
Não acredito ser possível, por estes dias, estar a par de tudo o que é editado devido à profusão de referências que, por conta da tecnologia, chegam ao mercado constantemente. Ou mesmo que não cheguem. Esta é por isso uma excelente oportunidade para ouvir, além dos citados, Deolinda, Manel Cruz, David Fonseca, Norberto Lobo, Márcia, PAUS, D’Alva, Mazgani e mais um punhado de nomes emergentes que se mantêm empenhados em fazer música pop em Portugal.
Se gravar um disco, ou fazer um festival, nunca foi tão fácil, é nestes acontecimentos que o inesperado sucede. Porque, para lá de toda a tecnologia, aqui não há mediação. É tudo em direto.
Tenha um bom dia! E prepare-se para o fim de semana condignamente.
|
|
Sem comentários:
Enviar um comentário