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Por Henrique Monteiro
Redator Principal
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4 de Setembro de 2015 |
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"As mãos dos meus filhos escaparam das minhas"
E todo o mundo só fala nisso. Mesmo nas cadeias televisivas do Médio-Oriente as notícias tornaram-se chocantes. A Al-Arabiya, por exemplo, pergunta se o mundo, agora, prestará atenção. Aliás a Comunicação Social de todo o mundo comoveu-se e quis comover-nos com essa imagem, a imagem da morte que envergonha o mundo. Depois de quatro prisões relacionadas com o caso terem sido efetuadas, ainda vai correr alguma tinta sobre o assunto. O pior é que, neste mundo de comunicação instantânea, depois de uma imagem vem outra, as crises tornam-se crónicas e a atenção dos media dirige-se para outras latitudes. A ver vamos se, desta vez não é assim.
A crise dos refugiados está a afetar a Europa. É tão evidente que até o The New York Times o coloca em manchete no site.
Jean-Claude Juncker quer subir a quota de migrantes de 40 para 160 mil. É um esforço, mas está longe de chegar. Hollande (que ainda antes do Verão era contra, diz o Figaro) e Merkel querem tornar as quotas para o acolhimento de refugiados obrigatórias, mas, no entanto, Viktor Orban, o primeiro-ministro húngaro, país que está, claramente, na linha da frente contra o movimento dos migrantes, não as aceita, construiu um muro na fronteira e chega a enganar os fugitivos que passam pelo seu país. Como ele diz, ninguém quer ficar na Hungria, o que é verdade. Mas também ninguém quer que a Hungria trate os refugiados assim. Porém, nada de nada acontece a Orban – embora ontem tenha ouvido das boas de Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, de Martin Schulz, presidente do Parlamento Europeu e de Juncker, manteve-se na sua, o que levou Guterres, em nome da ACNUR, a acusá-lo de agravar a crise. No meio de tudo isto, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, outro líder europeu que não vê com bons olhos a abertura das fronteiras, apesar de se dispor a acolher mais refugiados, passa hoje por Portugal, quando o governo de Passos Coelho se diz disposto a receber mais migrantes do que os 1500 que lhe cabiam, de acordo com a quota prevista, e António Costa propõe ocupações concretas para os que possam vir. A posição portuguesa contrasta com a de Espanha (que quer menos, embora as autonomias e a sociedade civil contrariem Madrid, diz o El País).
A ver vamos se isto não é, como disse Bagão Félix e ontem escreveu no Expresso Diário António José Teixeira, ‘a morte da Europa’.
“Fugimos da guerra para uma enorme prisão”. Eis como um migrante descreve a sua situação na Hungria à CNN. “Ajude-nos, Angela Merkel”, diz outro. Para os refugiados sírios, ao contrário do que se passa com tantos europeus, a chanceler alemã é o rosto da salvação. A cadeia norte-americana faz uma reportagem dentro de um comboio repleto de migrantes, em Budapeste, onde as autoridades mostram especial desumanidade no tratamento desta crise.
OUTRAS NOTÍCIAS
Paulo Portas ontem à noite, na TVI, esteve talvez mais nervoso do que seria de esperar, mas suficientemente bem para passar incólume. No geral, defendeu um corte nos impostos, a prazo, apelou aos indecisos afirmando ser a coligação a única força que pode alcançar a maioria absoluta, estabeleceu-se como defensor da classe média e deixou críticas aos reguladores da Banca (BdP e CMVM). As perguntas, a cargo de José Alberto Carvalho e de especialistas convidados pela estação, talvez estivessem demasiado centradas em aspetos económicos. Quanto à crise dos migrantes, Portas apoiou Merkel, o que agora parece ser um consenso nacional, do CDS ao BE. Jerónimo de Sousa deu também uma entrevista na RTP Informação. O líder do PCP disse a Vítor Gonçalves, o entevistador, que o PS tem de resolver a contradição entre ser um partido de esquerda e praticar uma política de direita.
Ana Gomes, deputada europeia foi a Angola e fez um relatório que apresentará ao Parlamento Europeu. Traça um quadro desolador: corrupção, falta de liberdade, presos políticos, direitos humanos espezinhados. Pode ler o relatório (em inglês).
Acabou o prazo para a concessão da STCP e do Metro do Porto que deu brado e teve contra o processo quase todos os autarcas do Grande Porto, a começar pelo independente Rui Moreira, que lidera o município da segunda maior cidade. Enquanto o desfecho não é conhecido, o Abílio Ferreira explica-lhe o processo e aposta que a Transdev e a Barraqueiro estão à frente na corrida. Pode ler aqui
Mario Draghi, que ontem completou 68 anos, reviu em baixa as previsões de crescimento na Europa para este ano e para os dois próximos. A taxa de juro aplicada às principais operações de refinanciamento mantém-se inalterada, em 0,05%. Por outro lado, a compra de dívida pública no mercado secundário pode ir até aos 33%, ultrapassando de largo os 25% inicialmente previstos. A chamada ‘bazuca financeira' também pode estender-se para lá de Setembro de 2016, quando estava previsto o seu fim. Numa palavra, voltaram os riscos de deflação. Mas o melhor, mesmo, é seguir o que sobre isto escreve o Jorge Nascimento Rodrigues.
A Uber continua a ter a oposição de todos os taxistas de todo o mundo. Mas, inscritos como condutores da empresa estão cerca de 160 mil pessoas. Algumas delas, como apenas têm essa ocupação, recorreram a um Tribunal da Califórnia, onde a Uber tem sede, com vista a serem considerados assalariados da empresa. Para já, o Tribunal concedeu-lhes a primeira vitória. Assim, parte dos condutores são objetivamente assalariados, o que obriga a empresa a pagar mais impostos e salários mínimos. Se aparecer uma nova empresa do género, teremos os taxistas da Uber a fazer aos outros o que lhes fazem a eles?
Lembram-se de Rebekah Brooks? A editora que abandonou a News Corp depois do escândalo das escutas promovidas pelo defunto jornal sensacionalista News of the World? Pois voltou a ser contratada pelo patrão, Rupert Murdoch para CEO da News UK. Um deputado trabalhista (Chris Bryant) reagiu da seguinte forma: “Centenas de jornalistas perderam o emprego quando Murdoch fechou o News of the World, mas parece que Rebekah Brooks tem direito a um tratamento especial…”
E qual é a pior companhia de aviação do mundo? Bem, os clientes da consultora SkyTrax votaram na Air Koryo, as linhas aéreas estatais da Coreia do Norte. Por qualquer motivo, não se estranha assim muito.
E se quer saber como se fazem determinadas atividades ilegais via Internet, saiba que há a ‘Dark Net’ ou seja a 'net obscura’ que o analista de social media Jamie Bartlett explica como funciona: a partir de um browser que inicialmente era um projeto da espionagem da marinha americana. Pode comprar-se, diz Jamie, cocaína de alta qualidade a baixo preço. Parece ficção, mas não é…
FRASES
“Se um estrangeiro vier residir contigo na tua terra, não o oprimirás. O estrangeiro que reside convosco será tratado como um dos vossos compatriotas e amá-lo-ás como a ti mesmo, porque fostes estrangeiros na terra do Egito”. A Bíblia, Livro do Levítico, cap. 19, Antigo Testamento. Há sabedorias antigas que nunca se impõem, apesar do bom senso.
“O plano de Merkel envergonha o medo de Cameron”, Philip Stevens editorialista do jornal britânico Financial Times, a propósito da crise dos migrantes
“O título de fornecedores do islamismo radical não pertence aos iranianos. Nem perto disso. Pertence aos nossos putativos aliados, a Arábia Saudita”, Thomas L. Friedman, editorialista do The New York Times, pondo o dedo numa ferida antiga, e apontando-o para os opositores do acordo de Obama com o Irão.
O QUE EU ANDO A LER
Esta secção deveria chamar-se “o que eu ando a preparar-me para ler”. Porque, na verdade, ainda não ganhei coragem, determinação e o fim de uma tendinite para pegar no calhamaço de mais de 800 páginas (notas incluídas) do historiador britânico Nikolaus Wachsmann. O livro é duro, é um tijolo da editora D. Quixote, e chama-se ‘A História dos Campos de Concentração Nazis’. A prestigiada The New Yorker promete, logo na capa, que este é um livro que revoluciona a história; e o nosso conhecido Ian Kershaw, autor da biografia de Hitler que o Expresso recentemente ofereceu aos leitores, diz ser “difícil imaginar” que este trabalho, destinado a ser a obra de referência sobre os campos de concentração nazis, seja ultrapassado. Segundo nos prometem, o autor, professor de História Moderna em Londres, cruza toda a informação que recolheu de uma exaustiva investigação arquivística e examina tudo ao pormenor. Todos os campos, todas as forças – políticas, legais, sociais, económicas e militares – envolvidas nesta página negra desse negro século que foi o passado e vai a pormenores pessoais, como refere Timothy Snyder, na recensão do Wall Street Journal. Para terem uma última ideia de como isto é verdade, eis a transcrição das primeiras duas linhas (e atenção que isto não é um romance, mas um livro de História):
“Com que então queres enforcar-te?”, perguntou o SS Steinbrenner ao entrar na cela de Hans Beimler, em Dachau, na tarde de 8 de maio de 1933”. Leu bem – 1933 – foram os primeiros campos improvisados, como o de Dachau, para onde foram enviados milhares de opositores dos nazis. Opositores alemães, também exterminados e torturados.
Enfim, acho que já o convenci a ler o calhamaço. Coisa que não é de somenos, numa época em que a Europa parece ter, de novo, alguns olhos fechados e corações empedernidos.
E, por hoje, é tudo. Às 11:30 o WhatsApp do Expresso lança uma informação em exclusivo para os seus seguidores (recordo que o número é 96 628 12 13 e que para nos acompanhar pode seguir as informações aqui prestadas). Também através do Snapchat (snap-expresso) pode acompanhar os principais lances da campanha eleitoral fornecidos pela nossa redação (aliás no Snapchat andamos a trabalhar desde terça-feira; se não viu, perdeu uma selfie da nossa jornalista Iryna Shev com um admiradíssimo Passos Coelho, mas terá outras oportunidades, mais à direita e mais à esquerda). Mais logo, às 18 horas temos o Expresso Diário e amanhã é o dia do Expresso semanal e ainda de o melhor do Expresso Diário. Nesta máquina que nunca descansa, segunda-feira, logo pelas nove, teremos o Curto bem servido pelo sempre atento Ricardo Costa.
Bom fim de semana e boas leituras (se haverá boas notícias já não sei dizer).
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