segunda-feira, 27 de julho de 2015

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Bom dia, já leu o Expresso Curto Bom dia, este é o seu Expresso Curto
Nicolau Santos
Por Nicolau Santos
Diretor-Adjunto
 
27 de Julho de 2015
 

Passos triste, Carlos Alexandre indecifrável 


Quando começar a ler este Expresso Curto, já os representantes das instituições internacionais (Comissão Europeia, BCE, FMI e Mecanismo Europeu de Estabilidade) iniciaram em Atenas as negociações com o governo grego visando finalizar um terceiro empréstimo aquele país, que pode ascender a 86 mil milhões de euros. Até 20 de agosto, a Grécia tem de pagar mais 3,19 mil milhões de euros ao BCE e em setembro é a vez do FMI receber 1,5 mil milhões.

A esta hora ainda não se iniciou, contudo, a cerimónia comemorativa da atribuição do Prémio Nelson Mandela a Jorge Sampaio, que vai decorrer hoje na Gulbenkian, a partir das 18.30. É a primeira vez que este prémio é entregue e o ex-Presidente da República recebeu-o sexta-feira passada em Nova Iorque, na sede das Nações Unidas. O Prémio Nelson Mandela foi criado pelas Nações Unidas para reconhecimento de todos os que dedicam as suas vidas ao serviço da Humanidade, promovendo princípios e valores da ONU e honrando a vida e o legado do histórico líder sul-africano. A sessão tem como oradores o presidente da Gulbenkian, Artur Santos Silva, a embaixadora da África do Sul em Portugal, Keitumetse Matthews, os testemunhos de António Correia de Campos e Leonor Beleza, terminando com os agradecimentos de Jorge Sampaio.

Entretanto, Ricardo Salgado passa hoje a primeira segunda-feira da sua vida em prisão domiciliária, uma decisão do juiz Carlos Alexandre, justificada com os tradicionais perigo de fuga, perigo de perturbação de inquérito e da aquisição e conservação de prova. O Ministério Público tinha pedido apenas a proibição de se ausentar do país. Os motivos invocados por Carlos Alexandre para justificar a sua decisão causam enorme perplexidade a qualquer cidadão com um mínimo de inteligência, embora desprovido de quaisquer conhecimentos jurídicos: então durante um ano Ricardo Salgado não representou qualquer perigo de fuga, perigo de perturbação de inquérito e da aquisição e conservação de prova, andou sempre em liberdade e agora, de repente, pode fugir e perturbar o inquérito? Se quisesse fugir não o teria feito já antes? Se quisesse perturbar o inquérito não poderia tê-lo feito até agora? E que dizer da decisão de o manter em prisão domiciliária com dois polícias à porta em vez de se decidir pela utilização da pulseira eletrónica, que sai bem mais barata ao Estado (16 euros por dia contra 264 euros, ou seja, 480 euros por mês contra 8000 euros?). E não foi exatamente isto que recusou a José Sócrates, ou seja, regressar a casa sem pulseira eletrónica mas com polícia à porta?

A justiça tem certamente razões que a razão desconhece, mas há decisões que ultrapassam qualquer raciocínio minimamente coerente. E que deixam no ar a interrogação se não estaremos perante dois pesos e duas medidas. Mas o juiz Carlos Alexandre parece ser um semi-deus, que ninguém se atreve a questionar, nem mesmo quem tem essa obrigação.

No caso GES/BES, há entretanto novos arguidos: Machado da Cruz, o «comissaire aux comptes» do grupo no Luxemburgo, e que disse no Parlamento que Salgado não só sabia que as contas não revelavam a verdadeira situação do grupo como o aconselhou a ir viver para bem longe de Portugal; José Castela, ex-secretário-geral do GES; e Amílcar Morais Pires, braço direito de Salgado e que este propôs como seu sucessor ao Banco de Portugal.

Quem também nos têm habituado a mudanças de posição é Pedro Passos Coelho. Depois do seu famoso «que se lixem as eleições»,ontem foi à tradicional festa do Chão da Lagoa, na Madeira (foi a primeira vez que lá esteve) pedir «humildemente» para governar mais quatro anos para poder «dar uma outra alma a Portugal», «agora que pusemos a crise para trás». Que o país precisa de outra alma está fora de questão. Que seja Passos a propô-la é que já é surpreendente, dado que até agora não deu qualquer sinal de que vai alterar um milímetro que seja as políticas que tem vindo a seguir. E como já dizia Einstein, ou Benjamin Franklin, ou Rita Mae Brown (é escolher porque não há a certeza de quem a disse), «fazer todos os dias as mesmas coisas e esperar resultados diferentes é a maior prova de insanidade». A não ser que esteja guardada alguma enorme surpresa para o programa eleitoral que a atual coligação no poder vai apresentar amanhã, dia 28.

Em qualquer caso, o primeiro-ministro confessou que anda «entristecido», pois cada vez que aparece um resultado positivo de que os partidos da oposição não gostam «dizem que é mentira» e que o Governo «está a falsear a realidade». E deixou no ar uma filosófica pergunta: «Que mal fez o nosso povo à oposição para que a oposição só goste quando as coisas correm mal no país e fique desagradada quando as boas notícias começam a aparecer?».

É claro que notícias como esta – cinco famílias são despejadas por dia por rendas em atraso – não ajudam o povo e pelo que diz Passos devem agradar à oposição. Mas são os dados do Balcão Nacional de Arrendamento.

Ao contrário, esta é uma boa notícia: vai abrir no Hospital Santa Maria, em Lisboa, um megacentro de investigação para testar medicamentos destinados a doenças oncológicos, cardiologia, diabetes e neurologia.

E voltando à coligação «Portugal à frente», devem ser conhecidos hoje os cabeças de lista, todos do PSD, pelos diferentes círculos eleitorais. Para passar a ideia de renovação e de um novo ciclo político, poucos ministros encabeçam as listas. As exceções são José Pedro Aguiar Branco, Jorge Moreira da Silva e Maria Luís Albuquerque.


OUTRAS NOTÍCIAS
Nos Estados Unidos, as coisas correm bem ao truculento e polémico multimilionário Donald Trump e mal ao Partido Republicano, cujos dirigentes não o querem de todo como o seu candidato à Casa Branca. Mas uma sondagem da CNN dá Trump como o favorito das bases do partido, com 18% das intenções de voto, contra 15% para Jeff Bush e 10% para o governador do Wisconsin, Scott Walker. Em Iowa, contudo, o estado que é tomado como uma referência nacional para conhecer as intenções de voto, Trump é segundo atrás de Walker.

Na Europa, François Hollande ganhou um novo fôlego com a crise grega e prepara-se para propor no outono uma refundação da zona euro. As propostas francesas contemplam a criação de um grupo de países que possam avançar mais rapidamente numa união fiscal e social, que contemple um salário mínimo e um imposto sobre os lucros das empresas comuns.

Voltando aos Estados Unidos, será que é possível não ter sido já tudo escrito sobre Richard Nixon, conhecido como o «Ricardinho dos truques», e o caso Watergate? Pois parece que não. Dois novos livros publicados agora são avaliados no Washington Post por Carl Bernstein, um dos jornalistas que conduziu as investigações jornalísticas ao caso que derrubou o ex-presidente do Partido Republicano: “One Man Against the World” , de Tim Weiner e “Being Nixon” de Evan Thomas.

E na sua visita ao Quénia, o presidente norte-americano Barack Obama incentivou os quenianos a lutar contra a corrupção e a discriminação. «Não há limites para o que podem conseguir», disse em Nairobi, num estádio cheio para o ouvir.

No Brasil, a Operação Lava-Jato está ao rubro. O Ministério Público Federal sustenta que o cartel, as fraudes e as comissões pagas por baixo da mesa só foram possíveis no esquema de corrupção da Petrobras porque eram do conhecimento dos dois presidentes, Marcelo Odebrecht, do Grupo Odebrecht, e Otávio Marques de Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez. Os dois estão acusados de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

É contra Marcelo Odebrecht que o Ministério Público considera ter mais indícios, dado que muitos resultam de anotações pessoais, além de chamadas telefónicas e mensagens do telemóvel. Para os procuradores,Odebrecht tinha como plano B fugir do Brasil.

Ainda do Brasil chega uma notícia surpreendente: a censura terá proibido um dueto entre Milton Nascimento e Dorival Caymmi para o disco do primeiro «Milagre dos Peixes», de 1973. O Globo revela a letra original da música «Hoje é dia d’ El Rey», que acabou por ter apenas uma versão instrumental.

Morreu Bobby Kristina, a única filha de Whitney Houston. A jovem, de 22 anos, estava em coma profundo desde 31 de janeiro, quando foi encontrada inanimada na banheira da sua casa.

No desporto, o Sporting de Jorge Jesus conseguiu o primeiro troféu da época, ao derrotar por 2-0 o Crystal Palace, da primeira liga inglesa, na final do torneio da África do Sul, com dois golos de Montero, que saltou do banco depois do intervalo substituindo Teo Gutiérrez para resolver o assunto. O Benfica, pelo contrário, continua a perder, mas jogando sempre muito bem, segundo a imprensa desportiva. Desta vez foi em Nova Iorque, contra esse colosso do futebol mundial, o New York Red Bulls, por 2-1, por causa de um erro de Luisão, mas o treinador Rui Vitória está muito contente com o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido. Com efeito, é sempre muito melhor perder com estilo do que ganhar sem classe. (Declaração de interesses: sou sportinguista de pelo menos três gerações).


FRASES
"O meu testemunho em relação ao ex-primeiro-ministro José Sócrates é de uma relação absolutamente impecável na defesa do interesse público, em todas as áreas em que trabalhei com ele", Fernando Medina, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, ao Público

"Votar PS é entregar a guarda de uma casa a um incendiário". Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional da Madeira, Público

"Descer salários e qualificar empresas não é conciliável". António Pires de Lima, ministro da Economia, no Diário Económico

"Sim, é verdade: Augusto Santos Silva não voltou à TVI24. Mas por ser malcriado, não porque a sua voz é incómoda". Sérgio Figueiredo,diretor de informação da TVI, Diário de Notícias


O QUE EU ANDO A LER E A OUVIR
Este fim-de-semana li «O que fazer com este país», de um dos mais brilhantes economistas da nova geração, Ricardo Paes Mamede. Trata-se de uma análise detalhada e sustentada sobre as razões pelas quais o país chegou até aqui – e o aqui é o pedido de ajuda internacional e os quatro anos que entretanto decorreram. Mas é também uma dissecação impiedosa do que é hoje, para um país periférico, viver na atual União Europeia; «tanto a recuperação da economia e do emprego nos anos mais próximos, como a sustentabilidade económica, social e ambiental de Portugal no longo prazo são fortemente condicionadas pelas regras europeias em vigor. Dificilmente será possível aspirarmos a um futuro mais promissor sem estarmos disponíveis para desafiar essas regras. No entanto, se o fizermos estaremos sujeitos à pressão e à chantagem dos poderes dominantes na EU. Perante isto, os Portugueses devem decidir se querem viver com a certeza de um retrocesso civilizacional gradual ou se estão dispostos a correr riscos para procurar um caminho para o desenvolvimento sustentável deste país».

Mas como nem só do nosso problema na Europa vive um homem e o país, escrevo muitas vezes (e assim foi com grande parte deste texto) a ouvir um dos melhores CD’s de jazz português dos últimos anos: Kolme, de Ruben Alves (piano), Miguel Amado (contrabaixo) e Carlos Miguel (bateria). São onze temas magníficos, o último dos quais interpretado por Mayra Andrade, que nos reconciliam com a vida. E Rui Veloso também aparece por lá.

E pronto, o Expresso Curto está tirado. Tenha um excelente dia.

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