"Até que ponto a filosofia pode ser popular?
Aí há dois planos. O do pensamento do concreto e o da transmissão de um pensamento filosófico ao homem comum. O pensamento do concreto, como do abstracto, se quiser, faz parte da prática filosófica, que é tão rigorosa e exigente como um ramo da física. Para isso temos de nos arrancar a esse nível empírico comum, e isso é muito difícil. Pensar a esse nível de rigor, de imanência na própria existência, não é um jogo. Isto do pensar filosoficamente é um pensar vida também. Não quer dizer que se viva uma vida filosófica, mas tem-se uma vida em que os conceitos não são um divertimento.
Não surgem por acaso. Não são um acaso, a tal coisa etérea que se pode ter. Não, implicam a sua existência. Tomar a sério as suas ideias, viver as suas ideias. E para isso é preciso pôr vida nas suas ideias. Há aqueles professores que ensinam Filosofia como se ensina uma matéria científica que tem a ver com um aspecto do objecto escolhido e a vida está separada de tudo isto. É preciso que a filosofia, quando pensa esse concreto, pense também na vida.
Depois então a vocação para comunicar essa vida?
É isso mesmo. É o outro aspecto. Como transmitir, que é toda uma arte. Tudo depende do professor, da forma como se vive a experiência filosófica, e viver a experiência filosófica é comunicar ele próprio, dentro dele e fora dele, com o que não é pensado filosoficamente, e portanto articular. Como é que vou mostrar, em estética, por exemplo, que o artista para criar precisa de ser atraído por um caos? E um caos de quê? De pensamento, de forma, de sensações? Uma pessoa comum, que nunca pensou nestas coisas, não pensa que é preciso um caos para pintar um quadro, uma vertigem por um acontecimento qualquer."
aqui.
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