"Estado das Coisas, de rui rangel
Criminalizar a gestão danosa
Um membro do Banco Central da Islândia disse que Portugal deve investigar quem está na origem do elevado endividamento do Estado. Disse, ainda, que é preciso ir aos incentivos e saber quem ganhou com isto, quem puxou os cordelinhos porque o fizeram e o que fizeram. Só por estas declarações este simpático islandês nunca podia ser português! Recorda-se que na Islândia o Primeiro-Ministro foi julgado por gestão danosa e por incompetência grosseira na gestão da coisa pública.
Um membro do Banco Central da Islândia disse que Portugal deve investigar quem está na origem do elevado endividamento do Estado. Disse, ainda, que é preciso ir aos incentivos e saber quem ganhou com isto, quem puxou os cordelinhos porque o fizeram e o que fizeram. Só por estas declarações este simpático islandês nunca podia ser português! Recorda-se que na Islândia o Primeiro-Ministro foi julgado por gestão danosa e por incompetência grosseira na gestão da coisa pública.
Esta receita de moralização da vida pública, que
responsabiliza quem puxou os cordelinhos públicos, jamais fará parte da
formação cívica da nossa classe política. Entre nós, o resultado do
desastre financeiro provocado por gestão ruinosa e por incompetência
grosseira dos dinheiros públicos, foi o de obrigar toda a gente a pagar a
crise que só uns criaram. Procurar os responsáveis políticos pelo
elevado endividamento do Estado, saber quem ganhou com isto é assunto
que não interessa. E se disserem que é preciso responsabilizar
criminalmente os políticos, é considerado um "herege", que merece ser
lançado à fogueira. Não cabe nos pergaminhos da democracia julgar,
criminalmente, os políticos responsáveis pelo défice monstruoso que
deixaram. Dirão, ainda, que o que querem é judicializar a política. Este
disparate está na linha de pensamento daqueles que, agora, querem uma
petição dirigida ao Parlamento para fazer uma investigação à
investigação criminal do processo ‘Casa Pia’. Santa ignorância!
Aqui
no nosso burgo o que se pretende é perseguir cidadãos que pouco têm,
por prestarem declarações falsas às finanças. Mas deixa-se de fora os
dirigentes políticos que levaram Portugal à falência. Saber porque o
fizeram e o que fizeram não faz parte das preocupações da agenda
política. Em nenhuma democracia civilizada a actividade política escapa
ao escrutínio da sanção penal. Não se pode prescindir da criminalização
da actividade política, sendo esta a única maneira de salvar a política.
A responsabilidade criminal é a forma mais eficaz de moralizar a
política e a única que permite responsabilizar alguém, depois de largar o
cargo, seja porque perdeu as eleições, seja por vontade própria. A mera
responsabilidade política é curta e insuficiente e não garante que
essas pessoas não voltem a desempenhar cargos importantes. Estar
habituado a exigir dos outros que prestem contas não é o mesmo que as
dar. Este é um dos males da nossa democracia. Alguém que autoriza de
forma arbitrária encargos financeiros elevados sem mandato, só na via
criminal deve encontrar o caminho da redenção e/ou da prisão. Aqui deixo
um provérbio, para pensar: "o verdadeiro herói é aquele que tem mais
coragem contra si mesmo"."
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