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Hoje por Miguel Cadete
Diretor-Adjunto
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20 de Fevereiro de 2015 |
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Grécia: hoje há conquilhas, amanhã não sabemos
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Bom dia!
Hoje, às 15 horas de Bruxelas (menos uma hora em Lisboa), os ministros
das Finanças da Zona Euro reúnem-se pela terceira vez nos últimos dez
dias para decidir o futuro da Grécia e, muito provavelmente, o da
Europa. Será desta? É pouco crível que Yanis Varoufakis, o grego,
chegue atrasado vinte minutos, já com Mário Draghi a discursar como sucedeu na passada segunda-feira.
Hoje já falta tempo. E hoje é outra vez o último dia do resto da vida
da Grécia. Ou o primeiro? A diferença é que desta vez o resto da Europa
parece estar mais dividida: Berlim não concorda com Bruxelas, Merkel
discorda do seu vice-chanceler e, por cá, o PSD também não se alinha com
o CDS. Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos.
“Hoje Há Conquilhas, Amanhã Não Sabemos” é
o título do terceiro álbum da Banda do Casaco, batizado, em 1977,
depois de Nuno Rodrigues, o líder do colectivo, ter visto o dichote
escrito numa ardósia de um tasco em Torremolinos, Espanha. Hoje,
Varoufakis já não precisa de dar nas vistas mas a incerteza sobre o
futuro da Grécia também é imensa: continua ou não na Europa? Nada ficou
mais claro depois do que sucedeu ontem. O acordo parecia próximo depois da carta apresentada pelo ministro das Finanças grego ter surgido como um enorme recuo, ou mesmo uma “quase capitulação”, pedindo o prolongamento do empréstimo por mais seis meses com condições semelhantes às que vingaram até agora. Mas esse pedido foi liminarmente recusado por Wolfgang Schaüble. A irredutibilidade alemã, ou a vez de Schaüble fazer bluff, chocou alguns. Mas não Paul Krugman que voltou a identificar na missiva de Varoufakis a intenção de baixar o défice primário para 1,5% do PIB e de lançar políticas de crescimento económico na Grécia. Assim sendo, para o economista e Prémio Nobel, é evidente que a Alemanha forçará já hoje a saída da Grécia do euro. Mesmo que Angela Merkel, que ontem terá falado ao telefone durante 50 minutos com o primeiro-ministro grego Alexis Tsiras, possa vir em seu socorro, como adiantava o Finacial Times.
Ontem, o “não” de Schaüble, que teme que a Grécia se torne num free rider dentro da União Europeia, contrastou com a luzinha acesa anteontem – ou seriam lágrimas de crocodilo? – por Jean Claude Juncker, quando disse que a troika havia pecado ao impor tamanha austeridade à Grécia e a Portugal,
acrescentando ainda que não tinha legitimidade democrática para o
fazer. Uma luz no fundo do túnel? Talvez. A outra acendeu-a o ministro
da Economia alemão e vice-chanceler, Sigmar Gabriel, parceiro de
coligação de Merkel no governo, que desconsiderou a nega de Schaüble. Berlim não atina com Bruxelas. E os partidos do executivo alemão mostram fissuras numa coligação que parecia uma muralha de aço..
Em Portugal, o governo também reagiu mal ao mea culpa de Juncker. Marques Guedes, Ministro dos Assuntos Parlamentares, decretou que nunca a nossa dignidade “havia sido beliscada” pela troika. Mas o vice-primeiro ministro Paulo Portas recuperou a teoria do protetorado e o “vexame”
por que uma nação com “900 anos de história” passou desde 2011. Outra
coligação dividida? Provavelmente. Mas aqui talvez valha a pena lembrar
que o programa de resgate português já terminou e que não é tão
interessante a sua discussão hoje.
O futuro da Grécia está ligado ao do euro? E ao da Europa? Hoje ainda há
conquilhas, amanhã não sabemos. E este amanhã é já no próximo dia 28 de
fevereiro, data em que termina o programa grego. Ou mesmo antes, caso o
dinheiro entretanto acabe.
OUTRAS NOTÍCIAS
Domingo há Óscares, pela 87ª vez.
Como já é costume desde 2008, o Expresso apresenta as previsões de
Jorge Leitão Ramos, oscarista encartado que tem acertado em quase todos
os vencedores nas categorias mais relevantes. Nesta edição, porém, a
luta entre "Boyhood" e "Birdman" pela conquista da estatueta de melhor
filme do ano está bem assanhada. E há quem diga, não o Jorge, que
"Sniper Americano" ainda pode entrar na corrida. Julianne Moore, essa
sim, é uma vencedora anunciada. Vale uma aposta? Está tudo na Revista do
Expresso de sábado.
O Sporting perdeu com o Wolfsburg por
dois a zero e vê mais longe a possibilidade de continuar na Liga
Europa. Apesar do bom jogo, os alemães não perdoaram as oportunidades de
que dispuseram no início da segunda parte.
O costume. Mas para a equipa de Alvalade, para o treinador e para o
presidente, o final da época pode tornar-se penoso: o campeonato já lá
vai e a Taça da Liga também. Assim sendo, a segunda mão da eliminatória
com o Wolfsburg, a 26 de fevereiro, e as meias-finais da Taça de Portugal, com o Nacional na Madeira, a 5 de março, tornam-se decisivos para salvar a temporada.
O "Guardian" continua a cavalgar a saída intempestiva do "Telegraph" de Peter Oborne,
o jornalista quegerou controvérsia por acusar o seu jornal de censura
no caso do escândalo da filial suíça do banco HSBC. Ontem veio a público
que os
irmãos Barclay, proprietários do jornal "Telegraph", terão contraído um
empréstimo, em dezembro de 2012, de 250 milhões de libras esterlinas junto daquela instituição bancária. No início da semana, Peter Oborne abandonou o diário britânico "Telegraph", publicando um texto em
que acusava o jornal de censurar, ou oferecer um espaço reduzido, ao
noticiário que envolvia o HSBC em fraudes como aquela recentemente
revelada por Hervé Falciani. O "Telegraph", fundado em 1855, apresentou,
também ontem, a sua defesa, anunciando
que iria apresentar publicamente as directivas que regulam a
colaboração entre o seu departamento editorial e comercial. No mesmo
texto, acusa a BBC de subsistir à custa dos contribuintes britânicos, o
"Guardian" de viver alienado da realidade devido ao sustento de uma
fundação ou o Times de utilizar os tablóides do seu grupo para subsidiar
a sua atividade deficitária.
FRASES
“Estou
habituada a ver referências ao meu nome, tanto de forma lisonjeira como
de forma muito crítica. Portanto já me habituei a isso. (…) Posso apenas
dizer que entra na categoria das lisonjeiras” - Manuela Ferreira Leite, ontem, na TVI24 quando questionada sobre a sua possível candidatura a Belém
"É horrível dizer isto mas eu não acredito que o presidente Obama ame a América" - Rudy Giuliani, antigo mayor de Nova Iorque, quarta-feira, num jantar dos conservadores norte-americanos
"Os mísseis podem matar terroristas, mas a boa governação mata o terrorismo" - Barack Obama, perante vários líderes mundiais, quinta-feira, no encerramento da cimeira sobre terrorismo
O QUE ANDO A LER
A nova revista do "New York Times",
que chega às bancas com a edição do próximo domingo. Demorou quatro
meses a conceber e percebe-se porquê: tem novas colunas, novos
cronistas, novas fontes tipográficas, um novo logótipo e um novo design.
Respeita a sua vetusta história, que já é longa de 119 anos mas também
ousa, logo na capa, que aparece em quatro versões diferentes. Todas elas
com a imagem de um globo terrestre. Este primeiro número é dedicado a David Carr,
o jornalista veterano e crítico de media do "New York Times" que na
semana passada morreu em plena redação, minutos depois de moderar um
debate entre Glenn Greenwald, Laura Poitras (atenção à sua entrevista na
próxima Revista do Expresso) e, a entrar por video-conferência, Edward
Snowden.Isto por si já podia ser inspirador, mas a reportagem de Matthew Shaer na favela do Complexo do Alemão
volta a tornar as coisas surpreendentes. E a fazer pensar. É sobre um
grupo informal, Papo Reto, que se dedica a reportar excessos da polícia
fazendo uso de telemóveis. "Não havia ninguém que quiséssemos impressionar mais todas as semanas", escreveu o editor da revista do New York Times sobre David Carr.
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