De um lado o juiz Carlos Alexandre. Do outro o ministro das finanças alemão Wolfgang Schäuble. Haverá alguma coisa que os aproxime? Há. O quê? O dia 24 de fevereiro de 2015. Porquê? Porque neste dia foram tomadas decisões que afetam o futuro próximo de Sócrates e da Grécia. O ex-primeiro-ministro ficou a saber que continua em Évora. E a Grécia que se mantém no Euro. Agora a pergunta é para ambos: até quando?
No caso da Grécia, o editor de Economia da BBC escreve que Varoufakis, com as suas propostas, compra estabilidade económica e financeira mas arrisca, na frente interna, agitação política. Aliás o título deste artigo diz muito sobre a nova posição grega: “Syriza dumps Marx for Blair. “Dumps” significa deitar fora.
Nas muitas leituras que estão a ser feitas sobre as medidas gregas há uma palavra comum: recuo. Sobretudo quando se comparam com as promessas do programa de Tsipras. Para perceber melhor o plano apresentado é obrigatório consultar esta análise comentada do coordenador de Economia do Expresso, João Silvestre.
Para já Atenas consegue tempo para respirar. Mas a troika (agora diz-se as instituições internacionais), pela voz do FMI e do BCE, avisa que terá de haver mais concessões. A discussão sobre a saída da Grécia da zona Euro continua na agenda. O ex homem forte do BCE, Jean-Claude Trichet, lembra que o “Grexit” será tão perigoso agora como o era no auge da crise das dívidas.
Passemos para a prisão preventiva de Sócrates. Carlos Alexandre
manteve a medida de coação mais grave para o ex-primeiro-ministro e para
o empresário Carlos Santos Silva. Mas o motorista João Perna deixou a
prisão domiciliária.
O jornal I escreve que o juiz “está confiante de que a Relação vai manter Sócrates na prisão”. E que há um “silêncio ruidoso” no PS que não quis comentar o prolongamento da medida de coação.
Joana Marques Vidal, Procuradora Geral da República, nesta entrevista à RR e ao Público, admite que magistrados com contactos mais próximos com alguns jornalistas
possam ter cometido alguns deslizes que conduziram a violações do
segredo de justiça. Na mesma entrevista, a PGR diz ainda que o “Ministério Público atua de acordo com a lei. Não há timings políticos”
OUTRAS NOTÍCIAS
Processos disciplinares para quem andou a espreitar o IRS de Passos Coelho. O Negócios escreve que a Autoridade Tributária já instaurou 27 processos a funcionários das Finanças que acederam ao cadastro fiscal do PM. Mas o sindicato antecipa que os casos possam chegar a uma centena.
Quase dois meses depois dos ataques em Paris, o Charlie Hebdo, o semanário satírico francês, regressa hoje aos quiosques.
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos denunciou que o DAESH (o autodenominado Estado Islâmico) raptou pelo menos 90 cristãos na Síria. Mas ativistas sírios já falam em pelo menos 150. Entretanto a polícia britânica acredita que já estão na Síria as três raparigas inglesas que fugiram para se juntar à organização terrorista. As autoridades avançam que as jovens entraram pela Turquia há quatro ou cinco dias.
Alô Dilma! Depois da bronca das escutas dos americanos à ‘Presidenta’, os brasileiros decidiram desenvolver um telefone encriptado que não permitirá que registos de chamadas, mensagens ou dados armazenados fiquem desprotegidos. A história é contada pela Bloomberg. Por falar em telemóveis, saiba que a Apple vai lançar (com a versão 8.3) o assistente de voz SIRI em português, no final do ano… mas num português do Brasil.
Num registo mais descontraído, deixe-me ainda voltar aos Óscares e às ‘mãozinhas’ de John Travolta. Este bem podia ser o título deste artigo sobre a importância das distâncias. Tudo por causa das carícias a Idina Menzel e dos amassos a Scarlet Johansson durante a gala e que estão a dar muito falatório nas redes. A BBC questiona o estilo “touchy-feely” de Travolta e lembra outros casos em que houve proximidade a mais: numa cimeira do G8 Merkel não gostou quando George W Bush lhe tentou fazer uma massagem nas costas. Ou mais recentemente quando o vice presidente do EUA, Joe Biden, agarrou a secretária da Defesa, tocando-lhe nos ombros ao mesmo tempo que lhe falava ao ouvido. Escândalos? Só mesmo na América!
FRASES
“Acho
que o Governo português foi imprudente. A fotografia não foi a melhor,
talvez fosse melhor termos seguido o exemplo da Irlanda”, António Vitorino, na SIC Notícias, sobre a atuação do Governo português na crise grega.
“A
malta acha que o Syriza é simpático e por isso não gosta que se
maltrate o Syriza. Penso que o primeiro-ministro [Passos Coelho] a certa
altura percebeu isso. Agora pergunte se lá estivesse o António Costa o
que é que ele faria?”. Pedro Santana Lopes, na SIC Notícias, sobre o mesmo assunto.
"Numa
união a 28 não é possível prometer um resultado que depende de
negociações com várias instituições, múltiplos governos, de orientações
diversas".António Costa, líder do PS, na conferência da Economist.
"TAP privada vai ser uma companhia bem melhor", Michael O’Leary, CEO da Ryanair, ao Jornal de Negócios.
O QUE ANDO A LER
A presença do Daesh
(o autodenominado Estado Islâmico) na Líbia levanta sérias questões à
Europa. O país ganhou uma importância estratégica para os radicais. E
por várias razões: “o caos, a abundância de armas e recursos naturais, mas sobretudo a sua posição no mapa”.
Neste site, Jihad&Terrorism Treat Monitor, podem ler-se duas cartas publicadas online de Abu Irhim Al-Libi,
um apoiante dos jihadistas, que descreve as vantagens da ocupação de
território líbio. No primeiro texto Al-Libi lembra que o país faz fronteira com o Egipto e a Tunísia e, mais importante, sublinha que é uma porta de entrada estratégica para a Europa ("Libya: The Strategic Gateway For The Islamic State"):
“é fácil para muitos ilegais chegarem ao sul da Europa e, com um
cuidadoso planeamento, é possível tornar esses países (do sul da Europa)
num ‘inferno’” escreve o apoiante.
Num segundo texto, com o título “A cruzada francesa na Líbia”,
Al-Libi prevê que em breve os franceses vão lançar uma intervenção
militar para proteger os seus interesses e para controlar os movimentos
dos mujahideens. O artigo termina com uma ameaça: “Os muhahideens vão esperar-vos. O deserto no sul da Líbia vai tornar-se num cemitério para os vossos soldados” (Libya's southern desert will become a "graveyard for your [France's] soldiers and their body parts…")
Deixem-me ainda aconselhar-vos este artigo, “What ISIS really wants” (de leitura mais demorada) da The Atlantic. Neste trabalho, Graeme Wood, o autor, fala de uma organização que continua a ser mal entendida pelo Ocidente e que não deve ser vista como um grupo de psicopatas. Wood diz que se trata de um grupo com crenças bem estruturadas e que entre elas está o apocalipse. O “End of Days” é aliás descrito como uma peça central para perceber o que os move, mas também para os conseguir parar.
Para concluir, um epílogo. Ou melhor um “Épilogue”. Trata-se do disco de Samuel Lercher Trio (da Sintoma Records) com temas originais e arranjos de grandes clássicos do Jazz.
O som de Samuel Lercher (que para ser totalmente transparente é meu cunhado) é sem dúvida um ótimo suplemento para arrancar o dia.
Hoje fico-me por aqui. Amanhã o Expresso Curto sai com o Ricardo Costa. Às 18 horas temos Expresso Diário. E não esqueça que estamos sempre em www.expresso.pt
Bom dia e até à próxima!
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