A noite dos Óscares conta-se depressa: este foi o ano de Birdman, do mexicano Alejandro González Iñárritu: melhor filme, melhor realizador, melhor argumento original e melhor fotografia. Birdman é tudo menos um filme óbvio, muito menos um produto típico de Holywood, mas a Academia rendeu-se. Pode ler aqui um excelente relato da noite (“Agora
é fazer piadas sobre os quatro pássaros na mão”), feito pela malta mais
nova do Expresso, que agarrou a noite com o mesmo fervor com que saem à
noite: só largaram a pista quando já não havia música a tocar. Para
quem prefira o jornalismo mais clássico tem aqui a lista completa das estatuetas. A noite não foi das melhores da história, mas teve os seus momentos. Tem aqui um ótimo resumo desses momentos que fazem estas noites incontornáveis (“Oito momentos entre o estranho e o memorável”).
Não houve grande surpresas: Julianne Moore foi a melhor atriz, com Still Alice, o britânico Eddie Redmayne o melhor ator, em A Teoria de Tudo, J.K. Simmons o melhor ator secundário, por Whiplash e Patricia Arquette
a melhor atriz secundária, com Boyhood, uma experiência absolutamente
inovadora. Mas há um ponto importante a assinalar: o cinema independente
está a tomar conta dos Óscares, deixando os grandes estúdios de fora.
Desde 2009 que só um “melhor filme do ano” é que saiu de um grande
estúdio: Argo. De resto, Estado de Guerra (2009), O Discurso do Rei (2010), O Artista (2011), 12 Anos Escravo (2013) e agora Birdman, são todos produções independentes. As melhores ideias, as mais arriscadas ou inovadoras já não moram em Hollywood.
Ideias não faltaram ao Syriza antes das eleições. Nas últimas
semanas isso tem sido menos óbvio. E hoje é o momento da verdade: vamos
poder perceber em detalhe quais são as medidas que o governo grego apresenta como garantia da extensão de um empréstimo da troika,
perdão, das instituições (troika já não se usa). Depois das enormes
dúvidas do fim de semana, hoje chega o tira teimas: Atenas merece o
melhor argumento original ou só o de efeitos especiais? E atenção que já
há sinais de divisão dentro do Syriza. O melhor é ir espreitando o
Expresso Online para perceber o que acontece durante o dia.
OUTRAS NOTÍCIAS
José Sócrates vem hoje a Lisboa para ser ouvido sobre as queixas de violação de segredo de Justiça. É a primeira vez que o ex-primeiro-ministro sai da prisão de Évora e isto poucos dias depois de se saber que o seu ex-patrão, Lalanda e Castro, também já é arguído no caso.
O célebre caso das secretas, que o Expresso investigou e divulgou em 2011, continua a fazer estragos. Agora é o ex-super espião Silva Carvalho
a assuir na sua defesa que era normal aceder a listas de contactos
telefónicos, apesar de isso ser absolutamente ilegal. O DN faz manchete
com a história e deputados e constitucionalistas estão alarmados.
A Pordata faz hoje cinco anos e merece ser visitada.
Esta base de dados do Portugal contemporâneo mudou a nossa forma de
olhar para as estatísticas e pô-las ao alcance de todos. O melhor é
carregar no link só depois de ler este Expresso Curto ou ainda fica por
lá o dia todo…
Quem não vê as coisas andar para a frente são os lesados do papel comercial do Grupo Espírito Santo,
que se reuniram domingo em Leiria e prometem não desistir de reclamar
um solução que lhes permita reaver o dinheiro aplicado aos balcões do
BES, numa guerra em que CMVM e Banco de Portugal não se entendem.
O escândalo Swiss Leaks não para e agora atingiu em cheio o líder do HSBC
que, curiosamente, deve apresentar hoje as suas contas anuais. Vai ser
um mau dia para Suart Gulliver, que vai ter dificuldade em explicar às
autoridades, aos acionistas e aos clientes porque escondeu 5 milhões de libras num offshore do Panamá.
O dia de António Horta Osório vai correr bem melhor. O banqueiro português, que lidera o Lloyds,
vai poder distribuir dividendos pela primeira vez em seis anos, para
alívio dos acionistas e dos contribuintes britânicos que ajudaram a
salvar o banco. Horta Hosório vai receber ações no valor de 7 milhões de libras (sim, leu bem) por ter dado a volta ao banco.
Na Venezuela, as contas são outras, com o regime a prender os
principais dirigentes da oposição, sem qualquer acusação formada. Depois
da incrível detenção do presidente da Câmara de Cascais só uma líder do movimento que enfrenta Nicólas Maduro é que continua em liberdade. Até quando?
FRASES
“A ideia de que existe aqui um grupo de países na Europa que quer que a Grécia passe mal é um absurdo”. Pedro Passos Coelho a desmentir que Portugal tenha dificultado a vida a Atenas
"No fundo Portas é um mini-Varoufakis. É um sabidão". Marcelo Rebelo de Sousa no seu comentário semanal na TVI em que defendeu que, em matéria de comunicação, o governo “não acerta uma”
“São coisas minhas, que ninguém sabe”. Nani, a explicar porque chorou depois de marcar o melhor golo da jornada
O QUE EU ANDO A LER
Em tempos de absoluta intolerância religiosa, vale a pena regressar ao princípio. Os Versículos Satânicos
não são o princípio – essa coisa de matar ou mandar matar por algo que
se escreveu, filmou, pintou, etc é muito mais antiga – mas são “um”
princípio do que agora (re)vivemos. Os Versículos de Salman Rushdie
são de 1988 (estão muito bem traduzidos na Dom Quixote), um livro
arriscado e difícil, em que o escritor – já então famoso com o Booker
Prize dos Filhos da Meia Noite – entra pelo Islão adentro num
enredo fabuloso com atores indianos a caírem a pique de um avião que
explode sobre Londres e um profeta (Maomé, aqui Mahound) a ouvir o
Demónio em vez de Deus e a vacilar no politeísmo e na idolatria.
O ayatollah Khomeini não gostou e lançou uma fatwa sobre Rushdie e quem o traduzisse ou publicasse. E isso levou-me agora a Joseph Anton, a biografia dos anos de fuga do escritor, que foi capa do Expresso em setembro de 2012. Joseph (de Conrad) Anton
(de Tchékov) foi o nome que o escritor escolheu quando a polícia o
passou à clandestinidade. Tudo começa no dia dos namorados de 1989,
quando Rushdie se preparava para ir ao funeral de um dos seus melhores
amigos, o escritor Bruce Chatwin, onde, numa cena de filme, Rushdie e a mulher (quase ex, porque o casamento se estava a despedaçar) se sentam ao lado de Martin Amis, com Paul Theroux
na fila atrás. E é ali, na missa ortodoxa do maravilhoso viajante
Chatwin, que o melhor dos escritores de viagem, Theroux, dispara: “Creio bem que para a semana vamos estar aqui por ti, Salman”.
Enganou-se, Rushdie acabaria por fazer o funeral a Anton sem nunca
ceder na escrita e fazer esta duríssima biografia da clandestinidade.
Depois disto, resta-me desejar um bom dia e lembrar para estar atento ao Expresso Online, onde o dia passa sempre a correr. Ao fim da tarde arrumamos tudo, com opinião exclusiva e notícias em primeira mão no Expresso Diário. É só usar o código que está na capa da Revista. Saiba como aqui. Amanhã vai estar aqui o Pedro Santos Guerreiro, logo pela manhã.
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