Já há lista, ainda não há reformas e por enquanto há dinheiro.
Era perto da meia-noite quando a Grécia entregou a lista de reformas estruturais propostas ao presidente do Eurogrupo,
Jeroen Dijsselbloem, e aos representantes da Comissão Europeia, Banco
Central Europeu e FMI, que integram a
organização-antes-conhecida-como-troika.
É mais um passo na negociação na União Europeia. A aprovação da lista de reformas gregas é essencial para a extensão do programa de resgate por mais quatro meses
– e a primeira reação foi boa: “a lista apresentada é suficientemente
abrangente para ser um ponto de partida válido para uma conclusão com
sucesso", disse fonte em Bruxelas.
A lista não é ainda pública, mas a correspondente do Expresso em
Bruxelas, Susana Frexes, teve acesso a um documento que garante que
muitas medidas do programa eleitoral do Syriza, vão ser mantidas,
nomeadamente a resposta à crise social e humana ("eletricidade
gratuita" a 300 mil famílias, subsídios de refeição para famílias sem
rendimentos e restituição do subsídio de Natal a mais de um milhão de
pensionistas com pensão até 700 euros.) A grande expectativa está nas
reformas no Estado e no pacote de medidas de combate à corrupção, à
evasão fiscal e ao contrabando.
Há razões para ter esperança, escreve o Financial Times
na sua edição de hoje. Os ministros das Finanças dos 18 países da zona
euro deverão falar, através de teleconferência, esta tarde. Continuamos
em suspenso, mas a acrimónia baixou. É um dia de cada vez.
OUTRAS NOTÍCIAS
A austeridade também chegou a Angola, que vai lançar uma "contribuição especial" sobre as operações cambiais, noticia o Diário Económico
em manchete. Uma má notícia para os trabalhadores portugueses naquele
país, pois as transferências privadas para o estrangeiro vão ser
penalizadas, com uma taxa que pode ir até aos 20%. Já o Correio da Manhã
noticia que as remessas de Angola caíram 51,5%. O país lusófono está a sofrer a consequências da queda do preço do petróleo – que afeta diversos produtores.
É o caso da Nigéria, que quer uma reunião de urgência dos países produtores de petróleo reunidos na OPEP, para inverter a queda do preço. Mas quem manda é a Arábia Saudita,
que parece continuar disponível a suportar uma descida dos preços que,
segundo algumas previsões, pode chegar aos 35 dólares por barril na
primavera. Há várias teorias de conspiração para explicar esta descida “patrocinada” pelos árabes, a maioria das quais explica a decisão com o combate ao gás xisto, que está em franco crescimento no Estados Unidos e que perde competitividade com um petróleo barato. Mas muitos vêm motivações diferentes, que passam por fragilizar a economia russa, o Irão e até o autodenominado Estado Islâmico (Daesh).
A preocupação com o crescimento do Daesh voltou a ganhar visibilidade com a notícia da partida de três jovens de 15 e 16 anos, de Inglaterra para as fileiras na Síria.
Continuamos a perguntar-nos o que leva miúdos a aderirem a este
recrutamento, tanto mais que é o difícil não é entrar em Raqa, mas sair:
a capital do Daesh é “como uma grande prisão”, dizem os ativistas.
Ontem, foram raptados cerca de 200 homens de várias aldeias cristãs na
Síria: o Daesh estará a exigir a libertação de militantes pelas forças
armadas curdas, explica a Rádio Renascença. Vale a pena ler este artigo na CNN segundo o qual a guerra no futuro
não vai nada ser com drones e alta tecnologia, mas sim com exércitos
numerosos, de baixa tecnologia, inseridos entre civis e que não se
confinam a fronteiras dos Estados nação.
Faz três meses que Sócrates foi preso preventivamente em Évora, de onde saiu ontem pela primeira vez para ser ouvido durante cinco horas em dois processos por violação de segredo de justiça, motivados pelas entrevistas que deu entretanto. João Araújo, o seu advogado, continua convicto de que o ex-primeiro-ministro vai ser libertado. A Procuradoria já esclareceu que Sócrates não é arguido.
O procurador Rosário Teixeira, que lidera a investigação a Sócrates e casos como o BPN ou a Operação Furacão, tem os seus arquivos num sítio, digamos, surpreendente,
revela o Diário de Notícias: um corredor de acesso ao estacionamento
subterrâneo, no piso -4, do DCIAP, em Lisboa. Apenas uma rede separa a
papelada do estacionamento e circulação de veículos.
Hoje há greve no metro em Lisboa até às 10 horas (repete na sexta), protestando por melhores condições de trabalho.
O Conselho Nacional de Educação defende o fim dos chumbos. A notícia foi ontem explorada no Expresso Diário,
que pode ler ou assinando ou usando o código publicado na revista do
Expresso de sábado. O órgão consultivo do Ministério da Educação diz que
a retenção dos alunos sai cara ao Estado, pode provocar "problemas
emocionais" nos alunos e não é eficaz.
A Comissão Europeia aprovou uma comparticipação de 136 milhões para a linha ferroviária de transporte de mercadorias entre o porto de Sines e a fronteira em Elvas, um projeto com investimento total de 267 milhões.
Em causa está a construção da segunda fase da variante de Alcácer do
Sal e a modernização da linha que liga Bombel e Vidigal a Évora.
Em vez de cair, a dívida pública sobe. É a única: há vários anos
que a dívida das famílias desce e, agora, também o peso da dívida das
empresas está em queda. Foi isso que levou o Expresso Diário a escrever
que o Estado aperta o cinto... dos outros, num artigo que explica por que é que a dívida do Estado continua a subir.
A verdade é que a dívida total do país ao exterior voltou a crescer em
2014 e ultrapassou pela primeira vez a barreira dos 400 mil milhões de
euros, nota o Negócios. Entretanto, em janeiro, os empréstimos dos portugueses ao Estado também disparou para 19 mil milhões de euros, com a adesão forte aos certificados de aforro.
Uma dívida que não desce e nem sequer é paga é a do Grupo Espírito Santo. O imbróglio com o papel da RioForte prossegue,
com a CMVM a defender que o Novo Banco assuma a responsabilidade do
pagamento junto de clientes de retalho. Carlos Tavares, citado no Diário Económico, defende que a resolução do problema “é uma questão de respeito”.
FRASES
“Se houve um caso ou outro em que alguém abusou, que lhe caia a força da lei e da justiça em cima", diz Paulo Portas, citado pela Lusa.
“Os governantes portugueses vivem de cócoras perante os homólogos alemães e, como tal, aceitam ser a sua tropa de choque”, afirma Mário Nogueira no Correio da Manhã.
“O nosso Governo não fez pela soberania, identidade e interesse de
Portugal em três anos e três meses, o que o novo Governo grego conseguiu
fazer pela Grécia em três semanas”, escreve Miguel Guedes no Jornal de Notícias.
“Libertem as empresas do controlo de alguns”, proclama António Costa no Diário Económico, defendendo a desblindagem de estatutos do BPI, que o La Caixa pretende com a OPA.
“Tem Portugal uma política externa própria? (…) Não vamos à Expo'2015 por oito milhões de euros. É a imagem da nossa miséria”, lamenta Fernando Sobral, no Negócios.
O QUE EU ANDO A LER
“Aos banqueiros estão a ser exigidos padrões mais elevados do que os dos bispos”, proclamou ontem Stuart Gulliver, presidente do HSBC, descontente com as pressões subsequentes ao escândalo de evasão fiscal SwissLeaks. Pobre banqueiro... Mas afinal, por que é o mundo tão mau a encontrar o rasto a dinheiro sujo? A pergunta é feita neste artigo da Bloomberg,
precisamente a propósito do envolvimento da filial suíça do HSBC no
caso de ocultação de riqueza e fuga aos impostos. A resposta é que
talvez tenhamos regulação a mais e não a menos. E sobreposição de
funções e jurisdições.
Noutro artigo, desta vez na The Atlantic, é explicado “como é que o dinheiro sujo entra nos bancos”.
Trata-se de uma entrevista muito elucidativa a Stephen Platt, professor
em Georgetown e especialista em prevenção de crime financeiro, que
afirma que as instituições financeiras continuam a prestar serviços que,
na prática, facilitam a prática de crimes de branqueamento de capitais.
No seu livro mais recente, “Criminal Capital”, Platt diz que o sistema
financeiro “não está apenas globalmente interligado, mas também
inextrincavelmente ligado ao crime”.
E pronto, assim bebemos mais um Expresso Curto, que amanhã será servido
pelo Editor de Política do Expresso, Bernardo Ferrão. Até lá, acompanhe a
atualidade em www.expresso.pt e leia o Expresso Diário às 18 horas. Ah: e tenha um excelente dia!
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