quinta-feira, 9 de julho de 2015

a actualidade do dia-a-dia, numa visão pessoal do jornalista...!

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Pedro Santos Guerreiro
Por Pedro Santos Guerreiro
Diretor Executivo
 
9 de Julho de 2015
 

Medo na Grécia, pânico na China 


A Bolsa de Xangai abriu hoje a sessão a perder mais 3% e inverteu a toada para terreno positivo depois de mais uma intervenção dos reguladores. Mais do que o dia-a-dia deste mercado, importa perceber que o pânico financeiro está a emergir na China, onde a principal bolsa já perdeu mais de cinco vezes o valor da dívida grega, compara o Negócios. Como afirma o Financial Times, o problema económico chinês é potencialmente muito maior do que o da Grécia. O El Pais não poupa no risco: é de ser um gigantesco crash.

A Vice News explica que tudo pode piorar. E dois trabalhos da Vox explicam a dimensão do problema e as suas razões em oito gráficos. Houve demasiado investimento bolsista financiado em dívida, o que sobreaqueceu o mercado com investimento especulativo. Faz lembrar o que se passou nos Estados Unidos em 2007/2008 - lembra-se da falência do Lehman Brothers?

Na CNN fica claro que o governo chinês está a fazer tudo para suster a queda que ontem acumulava 32% desde 12 de junho: as taxas de juro foram reduzidas, as OPV foram suspensas e – pasme-se! -, a instituição estatal CSF está a emprestar dinheiro às corretoras para que elas comprem ações. Sim, leu bem, o Estado está a emprestar dinheiro para comprar ações.

Regressemos à Europa, onde se aproxima o derradeiro fim de semana negocial com a Grécia. A situação já não está entre o “nai ou oxi” do referendo, mas entre o “yes ou no” europeu - ou o “ja ou nein” de Berlim.

Como explicamos no Expresso Diário, “o limite para um acordo é domingo, na cimeira europeia. Se não houver fumo branco, a Grécia voltará a falhar pagamento ao FMI, e a um incumprimento em larga escala pode juntar-se um colapso bancário”. Os bancos continuarão fechados até segunda feira, dia em que já se saberá se andou ou se rachou.

Depois de a Grécia já ter pedido formalmente um novo resgate, que inclui medidas de austeridade como corte de pensões e aumentos de impostos, Alexis Tsipras mostrou-se confiante num “acordo justo”. Para o Público, o pedido “dá sinais de aproximação à troika”.

Como explica o New York Times, a ação do Banco Central Europeu permanece decisiva. É curioso como os Estados Unidos têm olhado para a crise, com o secretário de Estado do Tesouro, Jack Lew, a tomar uma posição clara contra deixar “cair” a Grécia. O Financial Times diz mesmo que Lew e Lagarde estão a exercer forte pressão para dissuadir um Grexit.

Ora veja as últimas declarações: 

Jack Lew (EUA): “Há muitas incógnitas se este processo evoluir para uma situação de um colapso completo da Grécia. É um risco desconhecido para a economia europeia e global. E acho que é geopoliticamente um erro”.

Christine Lagarde (FMI): a situação da Grécia exige "reestruturação" da dívida.

Manuel Valls (França): “França recusa a saída da Grécia do euro (…) As consequências de uma saída da Grécia seriam terríveis, porque ela nunca se faria com calma e sem dramas”.

Guy Verhofstadt (Bélgica) para Alexis Tsipras: “Você passa a vida a falar de reformas mas nunca vemos propostas concretas” (A intervenção de oito minutos, que o Observador considera “memoráveis”, pode ser vista aqui).

No Expresso, continuamos a publicar reportagens diárias sobre a crise. Depois de uma semana e meia em Atenas, a enviada Joana Pereira Bastos explica que “no principal hospital de Atenas faltam médicos para socorrer todos os que precisam de ser tratados. Há quem regresse a casa sem ter sido atendido.” O texto está no Expresso Diário. Daniel Oliveira, que também está de regresso de Atenas, analisa em artigo de opinião o “cerco” montado para desacreditar o novo ministro das Finanças, Tsakalotos. E a jornalista Elsa Araújo Rodrigues continua a publicar testemunhos de gregos que vivem em Portugal: “Não vamos roubar o planeta para pagar a dívida grega”, desabafa Filippos Gavrilidis, dono de um restaurante grego na Costa de Caparica e segundo de quatro casos que estamos a publicar diariamente – hoje há mais às 18 horas.

Mais artigos de opinião sobre o tema: 

Henrique Raposo: “O grande problema não hoje em dia não é o peso da dívida mas a ausência de reformas internas”. No Expresso Diário.

Henrique Monteiro: “Obama tem a sua própria Grécia que espera resolução. A Grécia de Obama é Porto Rico”. Ibidem.

Helena Garrido: "Não existem condições políticas para dar à Grécia um perdão de dívida já". Na CMTV.

Pedro Santana Lopes: “Estou cada vez mais convencido de que a teoria das duas velocidades voltará a aparecer e, principalmente, a propósito da moeda única.” No Negócios.


OUTRAS NOTÍCIAS
A questão grega foi amplamente debatida ontem no debate do Estado da Nação, onde Passos afirmou que “a estratégia que seguimos foi a mais acertada” e Portas ativou o modo de campanha dizendo que “há vida além do défice e a mudança somos nós”. O debate (desinteressante…) pode ser relido aqui, onde incluímos os dois soundbytes dos líderes do governo e da oposição: o PS puxou dos sete pecados capitais do Governo, Passos respondeu com as dez pragas do Egito.

Uma sondagem Público/TVI/Intercampus dá a vitória sem maioria absoluta ao PS nas próximas eleições, com 37,6%, mais quase cinco pontos percentuais do que a coligação PSD/CDS. A mesma sondagem, muito extensiva, conclui que para os portugueses, no caso do ex-primeiro-ministro detido, a justiça esteve bem e Sócrates mal.

Foi notícia ontem nos telejornais e hoje está detalhada nos jornais: as buscas à Bial. Foram constituídos arguidos 16 delegados de informação médica por indícios de prática de crimes de corrupção, explica o Jornal de Notícias. Os delegados, completa o Correio da Manhã, são suspeitos de subornar médicos para prescreverem a falsos utentes medicamentos comparticipados pelo Estado.

“Poesia, aplausos e uma paragem no Rato na despedida da única fundadora do PS”, titula o Diário Notícias, sobre o cortejo fúnebre de Maria Barroso, que faz a fotografia na primeira página do jornal. “Maria Barroso não morreu!”, escreve Pedro Bacelar de Vasconcelos, no Jornal de Notícias. ”Somos testemunhas da sua coragem tranquila e da inabalável determinação com que pisou todos os palcos a que subiu - no teatro ou na política, no exílio ou na prisão.” Já no Observador, Maria João Avillez diz que Maria de Jesus “teria ido muito longe na política não fora a partilha de vida com alguém chamado Mário Soares. Foi por outro caminho. O que nunca, em quase setenta anos de teto comum, quis dizer sombra.”

Em 2014, Mais de metade dos depósitos a prazo simples tiveram remuneração inferior a 1%. Dados do Banco de Portugal.

No Reino Unido, Osborne reduz apoios sociais e impostos, aumentando o salário mínimo. Análise no Diário de Notícias. E explicação no The Guardian.

É uma das notícias do dia: a primeira entrevista de Armando Almeida desde que manda na PT. No Diário Económico, o homem da Altice explica que “A PT vai investir muito mais do que investia”. E garante que não haverá venda de empresas nem programas de despedimentos.

Educação. A hipótese já tinha sido aventada, agora avança. A partir do próximo ano letivo, os testes de Cambridge que os alunos do 9º ano começaram a fazer há dois anos vão contar para a classificação final.

Cultura. David dos Santos, diretor do Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado, em Lisboa, demitiu-se em colisão com o secretário de Estado da Cultura.

A Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância do Conselho da Europa alerta para o "aumento dramático" nas redes sociais do discurso do ódio, do antissemitismo e da islamofobia, relata o Jornal de Notícias.

Em Itália, Silvio Berlusconi foi condenado a três anos de prisão por subornar um senador, conta o El Pais. O vídeo da condenação em tribuna pode ser visto no Corriere Della Sera. Mas o processo pode prescrever...


FRASES
“Merkel é como 007: por detrás da sofisticação não há amor, honra, amizade profunda. Só interesses.” Fernando Sobral, no Negócios.

“Ferro Rodrigues é o caso mais gritante de falta de capacidade do PS para se renovar.” Octávio Ribeiro, no Correio da Manhã.


O QUE ANDO A LER
David Smith é um artista plástico desencantado que, em desespero perante o seu fracasso, faz um pacto com a morte: terá apenas mais 200 dias de vida em troca de poder esculpir com as próprias mãos qualquer coisa que imagine. Só que, no primeiro dos seus últimos 200 dias, encontra o amor da sua vida... Esta é a história de “The Sculptor”, do norte-americano Scott McCloud, um grande livro de BD lançado este ano. Os críticos não lhe pouparam elogios, do The Guardian ao New York Times.

Quem eu leio sempre, e desde sempre, é a jornalista Teresa de Sousa, que nos informa e nos forma no Público sobre os grandes temas internacionais. Ontem, a Teresa foi distinguida com o Prémio Dona Antónia Consagração de Carreira, numa cerimónia em Vila Nova de Gaia. Aqui lhe aplaudo ruidosamente o prémio e presto a minha curvadíssima vénia.

A ler: o tema de capa de hoje da Visão, “o Tesouro de Pacheco Pereira”, uma visita guiada ao espólio documental do historiador. E que inclui documentação sobre quando o PPD e Sá Carneiro se prepararam para entrar na clandestinidade.

A quinta edição do anuário XXI, Ter Opinião, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, já está publicada. A direção é de António José Teixeira, sendo que eu sou membro do Conselho Editorial, mas não é por declaração de interesses que recomendo a edição que tem como tema “pisar o risco”, com textos de Pacheco Pereira, Eduardo Lourenço, José Pena do Amaral, Carlos Fiolhais, Ricardo Arroja ou Bagão Félix. Entre todos, saliento o monumental “Petit, o grande”, escrito por António Araújo, sobre Philippe Petit, o artista funâmbulo que em 1974 passou de uma para a outra das Torres Gémeas, em Nova Iorque, sobre um cabo de aço a 400 metros do solo. “Em cima de uma corda, nunca tive medo”, disse uma vez Petit, “estou demasiado ocupado para isso”.

Lisboa, música: hoje começa o Nos Alive. As sugestões do Expresso Diário para este festival estão aqui.

Porto, conhecer: aproveitámos o suposto desdém de Sara Carbonero pela cidade e desenhámos um extenso e maravilhoso roteiro para mostrar o que é bom à namorada de Casillas (já dado como certo no Dragão). Por Carbonero ou por si, leia se faz favor. E viaje.

Viseu, arte: os Jardins Efémeros vão a caminho do último fim de semana e justificam uma visita à capital da Beira Alta. Estive lá no sábado e voltei a ver a arte urbana e programação diversificada e intensa. Consulte o programa e perca-se – ou encontre-se – por Viseu.

Encontre também no Expresso a informação de que precisa. Sempre no site e às 18 horas no Diário.

Tenha um excelente dia!

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