"O governo acabou asfixiado, sem oxigénio suficiente. Minado internamente
pela sofreguidão de futuro de Paulo Portas, e cercado externamente
pelas necessidades presentes do povo, Passos Coelho enfrenta um teste
decisivo às suas reais capacidades políticas.
E as capacidades políticas requeridas ultrapassam os
arrimos clássicos da ética da convicção e da ética da responsabilidade.
Nem sequer me refiro a qualquer dimensão extraordinária como estadista,
pois que os países europeus terão de resolver os problemas do dia com
dirigentes normais em democracia. Refiro--me, sim, a uma inteligência
aguda da situação, para além das ideias feitas com que chegou ao poder.
Ora
a inteligência da situação passa por não considerar a proposta sobre a
TSU como a única questão que a coligação terá de rever. O governo terá
ainda de recuar no seu perigoso afrontamento com o Tribunal
Constitucional quanto aos salários da função pública e às pensões de
reforma. Ou seja, o governo terá de refazer o já anunciado para a
proposta de orçamento. O afunilamento do governo para resolver
unicamente as iníquas percentagens da TSU será um erro que não abafará o
clamor que se levanta em toda a nação.
O
principal problema de qualquer governo em Portugal nos próximos tempos é
o de conseguir alterar os termos da sua relação negocial com a troika.
Da atitude passiva actual de bom aluno mesmo de maus mestres, qualquer
outro governo deverá evoluir para uma atitude de negociador capaz,
responsável e transparente, quer perante o seu povo quer perante os
organismos internacionais envolvidos. Neste aspecto, como noutros, o
executivo de Passos Coelho falhou redondamente. Essa falta de sentido
negocial com a troika é mesmo a grande crítica que endereço a Vítor
Gaspar, cuja meritória trajectória institucional é conhecida. A ida ao
Conselho de Estado para explicar esse quadro negocial perante o PR deve
ter sido um exercício potencialmente virtuoso…
Este
governo acabou por razões internas e exteriores como o levantamento
popular de sábado. O PR tudo fará para lhe adiar a certidão de óbito até
à apresentação de uma modelada proposta orçamental. A partir daí, o
caminho estará traçado. Só faltarão o tempo e o modo."
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