"A rejeição do manifesto dos 70 pelo primeiro-ministro mereceu uma retumbante salva de palmas da plateia de 220 convidados que se juntaram no hotel Ritz, em Lisboa, para a conferência "Portugal pós-troika", organizada pelo Negócios e pela Renascença. O Negócios foi ouvir as opiniões de cinco notáveis presentes na sala, e a tese de Passos venceu por 4-1.
O manifesto do grupo dos 70 que propõe a reestruturação da dívida pública portuguesa preencheu grande parte das conversas entre os participantes da conferência "Portugal pós-troika". O primeiro-ministro, Passos Coelho, deu o mote ao responder à possibilidade de alterar as condições e pagamento de Portugal aos credores com um peremptório: "Nem pensar". A plateia rejubilou num sonoro aplauso. No coffee-break da sessão, o Negócios ouviu cinco opiniões: quatro subscrevem a tese do líder do executivo, mas registou também uma dissidência. É interna e tem génese no PSD.
O primeiro a concordar com a posição de Passos Coelho em rejeitar qualquer sugestão de reestruturação dos compromissos com os credores foi o "chairman" da EDP. E fê-lo de forma categórica. "Os subscritores desse documento evidenciam uma completa ignorância dos mecanismos do mercado financeiro", vociferou Eduardo Catroga. "Essa iniciativa é totalmente descabida nos seus termos e no seu timing", protestou.
Dissonante e dissidente foi o advogado e social-democrata, José Eduardo Martins. Talvez um dos poucos que não terão aplaudido a tirada do primeiro-ministro, quando este clamou que os que defendem reestruturação da dívida "são os mesmos que falavam na espiral recessiva". "Não queria encapuzar a carapuça do cepticismo que o primeiro-ministro tentou enfiar, mas a negação da realidade é imaginar que a dívida é paga nestes termos", atirou, apesar de concordar que esta discussão a dois meses da saída do programa de ajustamento não é a mais adequada.
Martins disse até perceber Passos, com quem partilhou percurso na JSD, porque é "compreensível que depois do percurso do Governo esta seja a atitude do primeiro-ministro". Mas deu um exemplo da contradição que identificou. "O discurso de quem pretende reestruturar a dívida é igualzinho ao discurso que faz desde que saiu do Governo o ministro da Economia deste Governo, durante dois anos, Álvaro Santos Pereira."
E acrescentou um argumento para contrariar a inevitabilidade de não reestruturar. "A pagar a dívida a este ritmo, com as regras do novo tratado orçamental, não libertaremos recursos para o crescimento e estamos condenados a desvalorizar salários", defende.
Por fim, José Eduardo Martins deixa um pensamento com remissão literária. "Vinte anos de contracção não são solução até 2035, mas se calhar estou um pouco como o [José] Régio, não sei muito bem para onde vou, sei que por onde estamos a ir não está a funcionar."
Há temas de que não se deve falar
O ex-presidente da Autoridade da Concorrência, Manuel Sebastião, discorda de José Eduardo Martins. "Um documento daquela natureza recorda-me uma discussão sobre desvalorização da moeda. São assuntos que mesmo que venham a ter lugar não se podem falar", reflectiu o professor universitário.
Sebastião afirmou que não teria um discurso tão efusivo como o que Passos teve na sessão de abertura do "Portugal pós-troika", porque "por norma sou uma pessoa muito cuidadosa na apreciação dos assuntos. A minha atitude é de reserva".
No entanto, o caminho percorrido tinha mesmo de ser caminhado. "Tínhamos de fazer este ajustamento. Poderemos discutir se o poderíamos fazer de maneira diferente em vários aspectos, mas a inevitabilidade é indiscutível", afirmou.
O director-geral do Fórum para a Competitividade, Jaime Lacerda, segue a mesma direcção nas ideias que devem ser prosseguidas no pós-troika. "Qualquer sinal de afrouxamento pode ser prejudicial. O que nós precisamos é de não vacilar no rumo, porque estamos a poucos meses de completar [o programa de ajustamento]".
O manifesto dos 70 seria esse sinal de afrouxamento? "É um mau sinal. Este programa tinha um objectivo que era o país voltar a financiar-se no mercado. Nós nas empresas aprendemos que nunca devemos perder o foco do objectivo central. Se começamos agora a provocar os mercados, isso é tremendo", explica.
Por fim, a administradora do IGCP, Cristina Casalinho, encerrou a discussão da reestruturação da dívida com um rótulo. "Extemporânea". E acrescentou: "Não faz sentido". Porquê? "Se pensar em termos de colaboração dos organismos europeus para serem suporte do país, já deram o seu apoio. Quer numa primeira fase quando reduziram as taxas, eliminando o prémio de risco, quer depois com a extensão de maturidades", rematou a economista."
Quatro alinhados e um dissidente - Finanças Públicas - Jornal de Negócios
O manifesto do grupo dos 70 que propõe a reestruturação da dívida pública portuguesa preencheu grande parte das conversas entre os participantes da conferência "Portugal pós-troika". O primeiro-ministro, Passos Coelho, deu o mote ao responder à possibilidade de alterar as condições e pagamento de Portugal aos credores com um peremptório: "Nem pensar". A plateia rejubilou num sonoro aplauso. No coffee-break da sessão, o Negócios ouviu cinco opiniões: quatro subscrevem a tese do líder do executivo, mas registou também uma dissidência. É interna e tem génese no PSD.
O primeiro a concordar com a posição de Passos Coelho em rejeitar qualquer sugestão de reestruturação dos compromissos com os credores foi o "chairman" da EDP. E fê-lo de forma categórica. "Os subscritores desse documento evidenciam uma completa ignorância dos mecanismos do mercado financeiro", vociferou Eduardo Catroga. "Essa iniciativa é totalmente descabida nos seus termos e no seu timing", protestou.
Dissonante e dissidente foi o advogado e social-democrata, José Eduardo Martins. Talvez um dos poucos que não terão aplaudido a tirada do primeiro-ministro, quando este clamou que os que defendem reestruturação da dívida "são os mesmos que falavam na espiral recessiva". "Não queria encapuzar a carapuça do cepticismo que o primeiro-ministro tentou enfiar, mas a negação da realidade é imaginar que a dívida é paga nestes termos", atirou, apesar de concordar que esta discussão a dois meses da saída do programa de ajustamento não é a mais adequada.
Martins disse até perceber Passos, com quem partilhou percurso na JSD, porque é "compreensível que depois do percurso do Governo esta seja a atitude do primeiro-ministro". Mas deu um exemplo da contradição que identificou. "O discurso de quem pretende reestruturar a dívida é igualzinho ao discurso que faz desde que saiu do Governo o ministro da Economia deste Governo, durante dois anos, Álvaro Santos Pereira."
E acrescentou um argumento para contrariar a inevitabilidade de não reestruturar. "A pagar a dívida a este ritmo, com as regras do novo tratado orçamental, não libertaremos recursos para o crescimento e estamos condenados a desvalorizar salários", defende.
Por fim, José Eduardo Martins deixa um pensamento com remissão literária. "Vinte anos de contracção não são solução até 2035, mas se calhar estou um pouco como o [José] Régio, não sei muito bem para onde vou, sei que por onde estamos a ir não está a funcionar."
Há temas de que não se deve falar
O ex-presidente da Autoridade da Concorrência, Manuel Sebastião, discorda de José Eduardo Martins. "Um documento daquela natureza recorda-me uma discussão sobre desvalorização da moeda. São assuntos que mesmo que venham a ter lugar não se podem falar", reflectiu o professor universitário.
Sebastião afirmou que não teria um discurso tão efusivo como o que Passos teve na sessão de abertura do "Portugal pós-troika", porque "por norma sou uma pessoa muito cuidadosa na apreciação dos assuntos. A minha atitude é de reserva".
No entanto, o caminho percorrido tinha mesmo de ser caminhado. "Tínhamos de fazer este ajustamento. Poderemos discutir se o poderíamos fazer de maneira diferente em vários aspectos, mas a inevitabilidade é indiscutível", afirmou.
O director-geral do Fórum para a Competitividade, Jaime Lacerda, segue a mesma direcção nas ideias que devem ser prosseguidas no pós-troika. "Qualquer sinal de afrouxamento pode ser prejudicial. O que nós precisamos é de não vacilar no rumo, porque estamos a poucos meses de completar [o programa de ajustamento]".
O manifesto dos 70 seria esse sinal de afrouxamento? "É um mau sinal. Este programa tinha um objectivo que era o país voltar a financiar-se no mercado. Nós nas empresas aprendemos que nunca devemos perder o foco do objectivo central. Se começamos agora a provocar os mercados, isso é tremendo", explica.
Por fim, a administradora do IGCP, Cristina Casalinho, encerrou a discussão da reestruturação da dívida com um rótulo. "Extemporânea". E acrescentou: "Não faz sentido". Porquê? "Se pensar em termos de colaboração dos organismos europeus para serem suporte do país, já deram o seu apoio. Quer numa primeira fase quando reduziram as taxas, eliminando o prémio de risco, quer depois com a extensão de maturidades", rematou a economista."
Quatro alinhados e um dissidente - Finanças Públicas - Jornal de Negócios
"Os subscritores desse documento evidenciam uma completa ignorância dos mecanismos do mercado financeiro. Essa iniciativa é totalmente descabida nos seus termos e no seu timing"
Eduardo Catroga
Chairman da EDP
Eduardo Catroga
Chairman da EDP
"Qualquer sinal de afrouxamento pode ser prejudicial. O que nós precisamos é de não vacilar no rumo, porque estamos a poucos meses de completar [o programa de ajustamento]."
Jaime Lacerda
Director-geral do Fórum para a Competitividade
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