|
|
Hoje por Henrique Monteiro
Redator Principal
|
|
|
|
21 de Abril de 2015 |
|
O cenário do Mário, a temoisia da Maria e a 'Servidão Voluntária'
É hoje! É hoje! O PS, ou a sua “comissão de sábios” sob a batuta do economista Mário Centeno, apresenta o cenário macroeconómico para o país. Um cenário que visa simular o impacto, para o melhor e para o pior, das propostas políticas a que o PS já se comprometeu – palavra dada é palavra honrada, disse o secretário-geral, domingo, no Porto – como a devolução dos salários aos funcionários públicos ou a redução do IVA da restauração para 13%. A imprensa de hoje tenta adivinhar aquilo que ontem à noite destacados socialistas diziam desconhecer ainda (Vera Jardim na RR, por exemplo). E assim, o 'Correio da Manhã' diz que o PS "mete a TSU no programa" e o 'DN' diz (em manchete) que os " Socialistas querem dar um subsídio aos trabalhadores mais pobres".
Porém, o que sabemos é que este cenário de Mário se oporá ao de Maria (Luís), visto que o PS deverá propor uma política de crescimento pelo lado da procura (mais dinheiro nos bolsos das famílias) e o PSD quer agir pelo lado da oferta (e insiste em empresas mais competitivas a produzir bens transacionáveis). Claro que tanto num caso como noutro, há o ‘pequeno pormenor’ de não se explicar bem de onde vem o capital (porque para o sucesso de uma ou outra via e para a diminuição do desemprego, não podemos depender de importações nem de mais endividamento público; são necessárias empresas competitivas, logo é preciso haver capital que invista). Mas adiante: a tudo isto, soma-se o cenário desmancha-prazeres de Christine Lagarde e do FMI que escreve um relatório de onde se infere (e as contas de João Silvestre costumam dar sempre certas) que Portugal vai crescer 0,2% até 2020. Assim sendo, a década passada, tendo sido perdida, foi menos severa do que a atual, embora esta tenha tido três anos de recessão contra apenas um (2009) da década anterior. Acresce que Portugal é a sétima economia mais lenta do mundo. A espiral de que se falava não é recessiva nem de recuperação. É mais de casca de caracol… Mas é o que temos. Apesar disso, Passos diz que vamos recuperar, Portas prevê crescimentos superiores a 2% nos próximos anos e Costa diz que é possível acabar com a austeridade... Pode ser que seja o FMI a estar enganado...
O que se passa com os imigrantes de África é mau demais para ser referido. Os líderes europeus acham que o problema está na quantidade de recursos a utilizar ou no combate ao tráfico de pessoas (o que é louvável, mas lateral). Deviam ler o que diz Umberto Eco - que isto são migrações. Ponto final. É algo que vai continuar. É algo que é preciso aceitar. Pode ser que, até quinta-feira, data da cimeira que se dedicará a este assunto, os europeus sejam iluminados... Embora, pessoalmente, não o creia. A este propósito recomendo o artigo de Paulo Rangel hoje no 'Público', ou, para quem puder, a opinião do 'Wall Street Journal', que afirma que estes migrantes são os novos 'boat people' numa alusão aos dois milhões de vietnamitas que entre 1975 e 1990 abandonaram o país em barcos sem condições e muitos deles acabaram, por decisão de uma conferência internacional, alojados em vários países, incluindo europeus, e ainda nos EUA e Canadá. Gideon Rachman no 'Financial Times' sistematiza as hipóteses da Europa num artigo a ler.
OUTRAS NOTÍCIAS
O nosso ex-ministro da Economia Manuel Pinho, que se retirou do Governo depois de ter feito uns corninhos dirigidos a um deputado do PCP, quer 1,8 milhões de euros do Novo Banco, como podem ler no Expresso Diário. A verba tem a ver com o direito que ex-ministro do Governo PS advoga ter quanto à reforma do BES. Pinho diz que tem uma carta de Ricardo Salgado a garantir esse direito. Pergunto eu, que sou ignorante: Ricardo Salgado e Manuel Pinho não eram do BES mau?
A Europa decidiu processar o potentado russo Gazprom por abuso de posição dominante. Bruxelas, sentenciou ainda que, num negócio mais pequenino, a Altice tenha de vender a ONI e a Cabovisão para poder comprar a PT, o que já terá começado a fazer.
Afinal o rei Zulu Goodwill Zwelithini, estava cheio de boa vontade e nunca apelou a ataques contra os imigrantes que transformaram nos últimos dias a África do Sul num inferno, provocando sete mortos por violência étnica. O que aconteceu é que foi mal citado... Os jornalistas nem com os zulus acertam e o rei já pediu uma investigação aos media.
O ' mobilegeddon' (uma mistura de mobile e armagedão, a batalha final contra o mal prevista no Apocalipse, em inglês armageddon) chega hoje. Isso significa que o célebre motor de busca Google deixa de privilegiar qualquer página que não se adapte a vários formatos de Internet, sobretudo ao mobile. Eis uma explicação e simulação do 'DN'.
O mais importante prémio Pulitzer de jornalismo deste ano foi ganho por um pequeno jornal de Charleston, Carolina do Sul, por uma série de reportagens sobre violência doméstica. O 'New York Times', que ganhou o prémio para reportagem internacional, traz a lista.
O QUE DIZEM OS NÚMEROS
Mais de 5200 mortos no Mediterrâneo nos últimos 15 meses. Eu repito: Mais de 5200 mortos no Mediterrâneo nos últimos 15 meses. Uma vez mais, para não se esquecerem: Mais de 5200 mortos no Mediterrâneo nos últimos 15 meses. E, por último, dedicado à Cimeira Europeia extraordinária a realizar depois de amanhã, quinta-feira, um número para eles refletirem: Mais de 5200 mortos no Mediterrâneo nos últimos 15 meses.
FRASES
“O chamado "Acordo Ortográfico" ("AO") nem é acordo, porque não ratificado por todas as partes assinantes, nem ortográfico, pois o seu texto prevê a existência de facultatividades. Só por via de uma imposição autoritária tem sido tentada a sua adopção ” Texto aprovado por um conjunto de cidadãos contra o AO e reproduzido no ‘Público’ (se não fosse o p de adoção nem havia diferença) que exigem um referendo (Pode haver referendos para a gramática? Para a Matemática? É todo um mundo que se abre).
“Já sabiam há quatro anos que ia ser assim. Se não se prepararam foi por má-fé dos professores ou preguiça dos alunos. Recuar seria desastroso, acabando com o que resta de coesão no espaço de língua portuguesa. Afinal, o que foi mais grave para a lusofonia: o acordo ou a entrada da Guiné Equatorial na CPLP?” Carlos Reis, catedrático do Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas da Universidade de Coimbra, especialista em Eça de Queirós e defensor do AO, em entrevista ao Expresso semanal (ver fim do texto). A pergunta é pertinente e demonstra o nível de paixão e indignação que a ortografia gera, versus a que motiva uma ditadura brutal num país onde nem português se fala. Assim vivemos…
“ Estou convencido de que a Grécia não sairá da eurozona. O tratado não prevê que um país possa ser formalmente e legalmente expulso do Euro”, Vítor Constâncio, num comentário feito a parlamentares europeus, citado pelo ‘Wall Street Journal’. Veremos se acerta, porque segundo nos informa a dupla da ‘Sala de Pânico’ (Jorge Nascimento Rodrigues e João Silvestre) também Mohamed El-Erian escreveu na ‘Bloomberg’ que há 55% de hipóteses da Grécia evitar o default.
“ Sete anos depois do pior crash desde 1929, o facto alarmante é que os reguladores financeiros ainda não sabem quase nada sobre o verdadeiro risco a que estão expostos os grandes bancos”, Robert Lenzner, no ‘Financial Times’. Lenzer, que além de ter sido editor da ‘Forbes’ e um dos mais reputados jornalistas financeiros dos EUA, foi Shorenstein Fellow, em Harvard (na Kennedy School de políticas públicas), dá-nos esta perspetiva tranquilizadora do que pode vir por aí…
O QUE EU ANDO A LER
Por ter como compromisso, sábado passado, fazer uma pequena intervenção num encontro da Associação Portuguesa de Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica, onde aliás fiquei numa simpática mesa moderada por Luís Delgado (não o jornalista, mas o professor do ISPA), com Joana Amaral Dias e o professor Coimbra de Matos, andei à procura de uma frase de Michel de Montaigne que diz que os incultos disfarçam a sua incultura através de palavras caras. De Montaigne, cheguei ao seu melhor amigo: o filósofo, poeta e humanista Étienne de La Boétie, que morreu com apenas 32 anos, em 1563, deixando o seu espólio a Montaigne. Aos 18 anos, em 1548, quando estudava na Universidade de Orléans, escreveu um pequeníssimo mas famoso opúsculo: ' O Discurso da Servidão Voluntária', um célebre libelo contra a legitimidade de quem governa. Escreveu-o no seguimento de um motim contra um novo imposto sobre o sal, que foi esmagado. Para La Boétie, o poder explica-se pelo facto de a maioria das pessoas se deixarem dominar, serem voluntariamente servas, pois de contrário, rebelavam-se e tinham força para derrubar tiranos. Há quem o considere um precursor do pensamento anarquista, mas tal parece-me errado. Cada qual que aquilate porque ( oh, surpresa, isto não é só falar de livros antigos) deixo aqui o link para o poderem ler em português do Brasil (que me perdoem os adversários do Acordo Ortográfico, mas é o que há na Internet).
E, por hoje é tudo, que a minha servidão não é voluntária... Logo às seis da tarde teremos, como sempre nos dias úteis, o Expresso Diário, onde já se explica o cenário PS e, amanhã, o Expresso Curto é servido pela redatora principal Luísa Meireles, uma estreia absoluta que, sendo de quem é, vai correr auspiciosamente.
Bom dia!
|
|
Sem comentários:
Enviar um comentário