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27 de Abril de 2015 |
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Lopetegui: Diz o meu nome, Jesus. Di-lo!
Tenho uma teoria:
Às tantas, depois das más experiências com Maicon e Kelvin, Jorge Jesus lá compreendeu a lógica da coisa: os campeonatos ganham-se contra os pequenos e perdem-se contra os grandes.
E então decidiu que o seu Benfica teria duas caras e que essas duas caras corresponderiam a duas ideias tão diferentes como o ataque e a defesa. A equipa que acelera, que não se importa de errar, que dá espectáculo e que goleia os que pode golear; e a equipa que trava, que joga no erro, que aborrece e que não sofre golos de quem não pode sofrer. Luminosa nuns dias, sombria noutros. O Dr. Jekyll. E o Mr. Hyde.
Ontem foi dia de Mr. Hyde: num dos clássicos mais chatos de que há memória, Benfica e FC Porto dividiram o meio-campo na primeira-parte, a ver qual deles queria mais que o outro não jogasse – porque nenhum dos dois procurou jogar. E, na segunda-parte, quando Lopetegui tentou esticar um bocadinho a corda, com Herrera e Quaresma, Jesus puxou o travão de mão e fez entrar Fejsa para segurar um pontinho e a vantagem de três (que são quatro) na Liga.
E “goodbye” era o que José Mourinho podia ter dito a Arsène Wenger – não o disse, mas disse coisas piores. “O Chelsea é aborrecido? Aborrecido é estar 10 anos sem ganhar um título.” Pois, imagino que seja. O Chelsea de Mourinho, uma versão 6.0 do Dr. Jekyll e Mr. Hyde de JJ, foi ao Emirates com seis médios e zero pontas-de-lança e trouxe de lá um 0-0 que mantém os blues com 10 pontos de avanço sobre o Arsenal. A Premier League quase, quase entregue a uma equipa cheia, cheia de cinismo.
Mas nem tudo é ruim.
Na Alemanha, mora a equipa que joga sempre da mesma forma e normalmente fá-lo bem, desde que Dante não escorregue em cascas de banana imaginárias. O Bayern de Munique conquistou a sua 25ª Bundelisga e Guardiola o seu quinto título de campeão nacional em seis épocas: três pelo Barcelona, dois pelo Bayern.
OUTRAS NOTÍCIAS
A terra tremeu a 7.8 na escala de Richter e engoliu e esmagou a vida de 3.200 pessoas no Nepal. E na Índia. E no Bangladesh. E no Tibete. E no Monte Evereste. Leio no Wall Street Journal que isto estava previsto desde 1934, o ano em que pela última vez se tinham aberto fracturas no chão em forma de feridas profundas e incicatrizáveis. É que este lugar é um acidente à espera de acontecer desde que a Índia deixou de ser uma ilha quando chocou na Euroásia há 50 milhões e anos. Os terramotos vão continuar e demografia e a má construção civil são as cartas que completam o castelo que inevitavelmente ruirá pela base se nada se fizer.^
O que deve ser feito, segundo Bank-Ki-Moon, é evitar que às tragédias dos migrantes que cruzam os mares para chegar ao Velho Continente se somem tragédias pelo uso da força para os impedir. O secretário-geral da ONU chega hoje a Itália para se juntar ao primeiro-ministro Matteo Renzi num acto de solidariedade pelos 800 mortos no Mediterrâneo do passado dia 19. A palavra-chave é: compromisso.
Mas para que haja entendimento é preciso contacto e este pode ser esporádico ou diário - depende do problema em mãos. No caso da Grécia vs. Alemanha vs. Eurogrupo, o melhor é trocar números de telefone e falar. E falar outra vez. Tsipras e Merkel decidiram estreitar laços porque a reunião do Eurogrupo em Riga correu mal para os lados gregos - e Varoufakis foi chamado de chico-esperto. A Lua-de-Mel da Grécia com a Europa começou e acabou no mesmo dia: o das eleições.
É que o casamento é um compromisso mesmo aquele que é celebrado e mantido por conveniência. Foi António Costa que o disse sobre o anúncio da coligação PSD/CSD-PP do dia 25 de abril à noite. Jerónimo de Sousa falou em insultos; Catarina Martins em não-assuntos. Para os partidos da oposição, o problema esteve no conteúdo e na forma.
FRASES
“FDR [Frank Roosevelt] 1936: ‘Eles são unânimes no seu ódio em relação a mim; e eu dou as boas vindas a esse ódio’. Uma citação que muito próxima do meu coração (e da realidade) nestes dias.” Yanis Varoufakis, o-que-gosta-de-ser-mal-amado, na sua conta no Twitter após uma reunião com os ministros do Eurogrupo.
“Como foi possível passar pela cabeça [de PS, PSD e CDS], em vésperas do 25 de Abril, um esquema que se prestava à interpretação de uma censura prévia. Dá a sensação que a partidocracia, o poder dos partidos, vai tão longe, tão longe, tão longe, que eles têm medo da cobertura das campanhas eleitorais. Só faltava meter coronéis, como noutros tempos da censura”. Marcelo Rebelo Sousa e os tempos da outra senhora, nos comentários à TVI
“O PT acomodou-se. Eles não inventaram a corrupção, mas roubaram demais, exageraram e o seu projeto converteu-se num projeto de poder”. Carlos-‘agora-é-a-minha-vez’- Lupi, antigo ministro do Trabalho do PT brasileiro que se demitiu do cargo por indícios de corrupção… comprovados. Lupi acusa Dilma no caso Petrobras.
“Ted Cruz disse que negar a existência das alterações climáticas converteu-o num Galileu. Mas, na verdade, essa não é uma comparação que faça sentido: Galileu acreditava que a Terra gira à volta do sol. E Ted Cruz acredita que gira à volta de Ted Cruz”. Barack- ‘vou-dar-uma-mão-à-Hillary’-Obama, sobre o candidato à presidência republicano no jantar dos correspondentes da Casa Branca.
O QUE ANDO A LER
É um livro estreitinho e curto mas dentro dele cabe a vida de Gabriel García Márquez. Chama-se assim: “Eu Não Venho Fazer Um discurso”. E isto foi o que ele disse aos seus colegas a 17 de novembro de 1944, aos 17 anos, quando terminou o secundário. Terá sido o primeiro discurso e está no primeiro texto desta obra (“A Academia Do Dever”) que reúne as suas intervenções públicas ao longo do tempo dele, que foi diferente do nosso.
Nestes discursos encontramos a piada e a irreverência e a capacidade para encaixar as suas histórias à medida de quem as ouve. E há passagens deliciosas, como esta, que nos remete para o “Cem Anos de Solidão”.
Conta Gabriel García Márquez que tinha 590 páginas escritas “à máquina a dois espaços e em papel ordinário” para mandar por correio, do México a Buenos Aires, e que o custo do envio era 82 pesos – e ele e Mercedes, a mulher, só tinham “cinquenta e três”. Enviaram a segunda metade do livro julgando ser a primeira, o editor gostou tanto que lhes adiantou dinheiro para que lhe enviassem a primeira. Estava escrito algures que ia correr bem. “Foi assim que voltámos a nascer na nossa nova vida de hoje.”
Por hoje é tudo.
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