Da Nóvoa a subir, Sócrates a descer e a TAP vai ficar em terra
Amanhã é feriado, Dia do Trabalhador, e por isso já sabemos que não há tempo a perder. Vamos aos factos! Quem esteve no lançamento da candidatura de Sampaio da Nóvoa, ontem, no Teatro da Trindade, em Lisboa: Mário Soares e Jorge Sampaio (na primeira fila), mãe e padrasto de António Costa (segunda fila), João Cravinho, Mário Lino, Rui Vieira Nery, Pinto Ribeiro (qual? apesar do rigoroso e perspicaz testemunho da jornalista Rosa Pedroso Lima ficou por esclarecer se era o causídico ou o culto, o ex-coordenador-geral da Gulbenkian ou o ex-ministro da Cultura), Jorge Lacão, Vítor Ramalho, Elza Pais, Duarte Cordeiro e Vasco Lourenço (outras filas). Família PS, portanto. Que disse o candidato? Caro leitor faça o favor de observar a compilação de distintas frases abaixo reproduzidas.
Quem não esteve? António Costa. E Ramalho Eanes, que teria completado um hat-trick ao juntar todos os Presidentes eleitos em democracia. Quem nunca podia estar? Cavaco Silva! O atual Presidente não esteve de corpo presente mas por lá se encontrou o seu espírito. Não por ter sido ele a lançar Sampaio da Nóvoa na vida política, no já distante 10 de Junho de 2012, mas por certamente se ter revisto num dos argumentos atirados à esgotadíssima plateia de 480 almas: a ausência de carreira política não é, para Nóvoa, uma desvantagem. É, pelo contrário, “a diferença” desta candidatura. Uma carta de princípios será apresentada brevemente, anuiu.
O que precisamos mesmo saber: Amanhã há aviões da TAP apesar da greve marcada para os próximos dez dias? Há, sim. Em serviços mínimos. Sobretudo para a Madeira e Açores mas também para o Brasil e Angola, além de outros países com largas comunidades portuguesas. Ao todo, esses voos representam cerca de 10% do total de voos agendados. Pode haver mais? Sim, pode. Na medida em que a greve dos pilotos seja furada por outros pilotos que discordem do sindicato que a convocou, o SPAC. A greve pode ser desmarcada? É pouco crível, ao contrário do que sucedeu em outras ocasiões. Não só porque o SPAC reafirmou ontem, em comunicado, a sua luta mas, sobretudo, porque o Governo e a administração da TAP já disseram que não podem ir mais longe. Não há qualquer reunião marcada entre as partes, escreve o Diário de Notícias.
Oferecemos o que não podíamos, queixou-se o administrador Fernando Pinto. Ontem, o secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, disse na SIC Notícias que “este acionista – o Estado – já deu o que tinha a dar. Acabou”. E desenhou o cenário para o futuro da transportadora aérea: “se a empresa não tiver dinheiro para solver os seus compromissos, fecha”. Ou é obrigada a uma reestruturação como sucedeu na Polónia e no Chipre onde saíram 30% a 40% dos trabalhadores. E em jeito de conclusão, depois de garantir que o Governo não desiste do processo de privatização cujas propostas podem chegar até dia 15 de maio: “a TAP não vai ser a mesma no dia 16 de maio”.
E Sócrates, o ex-primeiro-ministro, está tramado? Ainda não se sabe. Mas o Ministério Público continua a acumular indícios. Depois da prisão há uma semana de Joaquim Barroca, o administrador do Grupo Lena, ontem foram conhecidos os mandados de busca que conduziram à sua detenção. De acordo com informação vinda dos bancos suíços, o ex-primeiro ministro terá recebido 12 milhões oriundos de empresas controladas por Hélder Bataglia (fundador da ESCOM), três milhões do próprio Grupo Lena e outros dois milhões de um empresário holandês, Jeroen van Dooren tal como revelou ontem o Expresso Diário e está hoje na capa da revista “Sábado”.
OUTRAS NOTÍCIAS
A coligação de direita teve ontem à noite luz verde dos partidos para andar. Passos e Portas querem escolher o seu candidato presidencial, vincando a simetria face à candidatura de esquerda. Para isso, admitiram que o podem escolher ainda antes das legislativas, apressando todo o processo, ao contrário do que tinham dito noutras luas. “Preferencialmente”, disse Passos Coelho ontem à noite, será depois das legislativas. “Preferencialmente”. Mas a Agenda para a Década e o lançamento da candidatura de Sampaio da Nóvoa podem ter obrigado a acelerar o ritmo. Rui Rio é o nome de que se fala, em detrimento de Marcelo Rebelo de Sousa ou Pedro Santana Lopes. Qual dos três dá mais?
A chamada lista dos pedófilos deixou a ministra da Justiça quase tão isolada quanto os pilotos da TAP. “Não desistirei”, disse Paula Teixeira da Cruz na Assembleia da República depois de oposição, Procuradoria Geral da República, Comissão Nacional de Proteção de Dados e constitucionalistas terem contestado a fundamentação da sua proposta para criar uma lista de abusadores sexuais de menores com efeitos muito para lá das penas a que foram condenados. A lei será votada hoje no Parlamento e deverá ser aprovada pela maioria. Os pais poderão a partir de então consultar uma lista em que estarão arrolados os pedófilos que vivem nas redondezas.
FRASES (especial Sampaio da Nóvoa)
“Não foi fácil a decisão de me candidatar” (para a família)
“Não venho para deixar tudo na mesma” (para outros descontentes)
“Não serei um espetador impávido da degradação da nossa vida pública” (para Cavaco Silva)
“Um Presidente pode fazer a diferença” (idem)
“Não me resignarei perante a destruição do Estado Social” (aspas aspas)
“Chegou o tempo de acordar e despertar” (para os adormecidos)
“O que falta a Portugal? Um projeto de mudança” (para os aborrecidos)
“Unir os portugueses e criar pactos para o futuro” (para os desunidos)
“(Portugal) tem tudo para ser um país de referência no século XXI” (para o diretor da Monocle. E para o secretário de Estado do Turismo)
“Não podemos perder o país que conseguimos levantar nas últimas décadas, nem por silêncio, nem renúncia” (para a comunidade de fãs dos Silence 4)
“(Darei) especial atenção às Forças Armadas, militares e antigos combatentes” (para a comunidade castrense)
“(A minha campanha terá) uma grande contenção de custos e enorme transparência de contas” (para a comunidade de fãs de Vítor Gaspar)
“Nas últimas décadas, os portugueses criaram condições como nunca tiveram nas suas vidas em tantos domínios. Não deixemos que tudo isto voe para trás. Podemos preparar-nos” (para a comunidade académica e científica, aprés Mariano Gago)
“Que não se feche na Europa, que se abra ao mundo e em particular à língua portuguesa" (para a comunidade da Lusofonia. Inclui Guiné-Equatorial?)
“Não podemos continuar à espera que nos salvem” (para chatear a comunidade católica, mais a messiânica e sebastianista)
“Peço a todos que se elevem acima da mediocridade e não esmoreçam perante as dificuldades” (para todos os estrangeiros)
O QUE ANDO A LER
Um livro que foi publicado na semana passada sobre “A Charola do Convento de Cristo – História e Restauro” mas que é sobre um monumento que se começou a construir no século XII. Resulta de um processo de restauro que durou 25 anos para terminar em 2013. Um dia, em 1987, fizeram ali uma missa que foi transmitida na Eurovisão e só então se reparou no estado deplorável das pinturas murais da Charola. Não sou eu que o digo, é a diretora do Convento de Cristo, Andreia Galvão, ao Diário de Notícias. A sede dos Templários em Portugal nunca será demais conhecida: seja pelas pinturas de Gregório Lopes, pela arquitetura de João de Castilho ou por tudo o mais. Fica a 117 quilómetros de Lisboa (e 170 de Évora), mas é também o lugar de planta octogonal que tem a forma dos espaços de batismo e de sepultamento, onde os vivos e os mortos se podem encontrar. Ou se quisermos, a mesma arquitetura de muitos edifícios de Jerusalém. Uma maneira de unir o Ocidente e o Oriente, tal como inúmeros livros empenhados na charlatanice nos ensinaram. Não é o caso deste, que é coisa séria e monografia dada ao pormenor. Mas também conta histórias épicas, como a do monumental cadeiral que as tropas napoleónicas fizeram arder em 1810. Hoje só se conhece o seu desenho. E ele lá está, nesta edição de mais de 370 páginas da DGPC, por uns módicos €37.5. Caso lhe perguntem se os templários assistiam à missa na Charola montados a cavalo, não acredite. Não vem neste livro. Mas há lá um cinto mais a respetiva fivela esculpidos na pedra que são de pasmar. Dizem que é da Ordem da Jarreteira. Honi soit qui mal y pense.
Por agora é tudo.
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