sexta-feira, 13 de março de 2015

para dormir sobre o assunto [saúde]... reflexões para o fim de dia...!

"Linha telefónica para a insónia
 
Estudos recentes apontam precisamente para uma grande prevalência de problemas destes na população portuguesa. Um trabalho de 2014 da clínica Oficina da Psicologia indicava que 54% dos portugueses inquiridos afirmavam que se sentiam cansados após uma noite de sono e que só um em cada quatro se sentia revigorado ao acordar. Em 45% dos casos as pessoas atribuíram a dificuldade em dormir bem ao stress, à ansiedade e também à depressão. Além disso, 28% das pessoas reconheceram os problemas pessoais e profissionais como principais causas das dificuldades na hora de pôr a cabeça na almofada. Quanto ao número de horas de sono diárias, metade das pessoas diziam ficar-se apenas pelas cinco a sete horas.

Os resultados geraram preocupação e, neste ano de 2015, a Oficina da Psicologia decidiu assinalar o Dia Mundial do Sono com o lançamento de um projecto pioneiro, a Linha do Sono – um serviço telefónico (custa 10 e 25 cêntimos por minuto, consoante se ligue da rede fixa ou móvel) que funcionará através do número 707100015 sob o mote “ponha as insónias a dormir”. A iniciativa, explica um comunicado, “pretende ajudar os portugueses que dormem mal, sofrendo de insónias, problema que influencia a saúde das pessoas” e que pode “influenciar a vida pessoas ou profissional”.

Na fase de arranque a linha vai estar disponível entre as 11h30 e as 16h30 e as chamadas serão atendidas por dois psicólogos especialistas em estudo do sono. Fora do horário as pessoas podem deixar um recado no atendedor de chamadas e serão contactadas posteriormente. A linha funciona durante o dia, já que a ideia é dar uma resposta ao problema de forma mais continuada e não no momento em que ocorre a situação. “Este serviço pretende dar respostas às necessidades sentidas pelos portugueses depois de uma noite mal dormida, identificar possíveis causa e, ao mesmo tempo, sugerir procedimentos de rotina para um sono tranquilo”, adianta a mesma nota.

Também Teresa Paiva colabora num jornal distribuído gratuitamente em supermercados e parafarmácias nesta sexta-feira, feito em parceria com a Farmacêutica Bial e o grupo Auchan. A chamada “higiene do sono” é um dos pontos fundamentais sobre os quais querem passar mensagem. “As pessoas estão a pôr o trabalho e o dinheiro à frente de tudo o resto, sem perceberem que vão pagar caríssimo por isso. Quando a diferença no sono durante a semana e o fim-de-semana é superior a três horas, isso quer dizer que durante a semana se tem uma grande privação de sono ou uma doença”, defende. A neurologista sublinha ser fundamental deitar antes da meia-noite e dá uma imagem: “Se pensarmos que há uma espécie de polígono que tem por um lado o sono, por outro a alimentação, por outro o exercício, a actividade cognitiva e a actividade emocional, temos um pentágono. Temos de ter o equilíbrio nesse pentágono”, reforça.

Maria Arminda viveu as noites em claro praticamente sozinha. “O meu marido nem dava fé. Levantava-me, andava pela casa, nunca tinha sono quando era para adormecer e as pernas não paravam. Às vezes ia para uma cama no quarto da minha filha e conseguia adormecer nem sei bem porquê. Passei a vida a tomar medicação atrás de medicação, mas não sei o que é ter sono. O que sinto é cansaço. De manhã parece que levei uma tareia”, explica.

Agora que a sua companheira de noites foi baptizada como uma síndrome já está com medicação adequada, mas ainda em fase de adaptação. “Não sei se terei uma recuperação muito grande, mas já dei por mim a querer ir para a cama. Deve ser tão bom quando o corpo nos puxa. Acho que o meu maior desejo é esse. Gostava muito de chegar à cama e sentir que dormi aquele soninho bom de que as pessoas falam”, reforça.

“A privação do sono prolongada resulta em alterações metabólicas, do sistema cardio-circulatório, imunológico e de envelhecimento entre outras. Durante o sono o organismo produz hormonas que controlam a sensação de saciedade. A privação do sono aumenta a produção da hormona que estimula o apetite, contribuindo para o aumento do peso. É também durante o sono que o corpo estabiliza os valores glicémicos. Doentes com diabetes e com um sono insuficiente desenvolvem uma maior resistência à insulina, dificultando o controlo da doença”, avisa Ana Paula Santos, que destaca ainda doenças como a hipertensão.

Teresa Paiva junta ainda o cancro, sobretudo da mama, útero e próstata. E apela a que não se considerem normais situações que não o são. Ressonar é uma delas. Também não há, regra geral, pessoas preguiçosas, mas sim casos de doenças não diagnosticadas, como a narcolepsia – uma patologia de origem genética, que desregula o sono e causa hipersonolência diurna. “Tem-se a mania que as pessoas sonolentas são preguiçosas. A pessoa ou tem privação de sono ou uma doença”, lamenta. Maria Arminda sentiu-se pouco compreendida durante anos. “Há alturas em que já nem tinha força para me queixar e dizer outra vez que não dormia. Agora pelo menos sei o que tenho e porque é que o sono não vem”."


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