"Linha telefónica para a insónia
Estudos recentes
apontam precisamente para uma grande prevalência de problemas destes na
população portuguesa. Um trabalho de 2014 da clínica Oficina da
Psicologia indicava que 54% dos portugueses inquiridos afirmavam que se
sentiam cansados após uma noite de sono e que só um em cada quatro se
sentia revigorado ao acordar. Em 45% dos casos as pessoas atribuíram a
dificuldade em dormir bem ao stress, à ansiedade e também à depressão.
Além disso, 28% das pessoas reconheceram os problemas pessoais e
profissionais como principais causas das dificuldades na hora de pôr a
cabeça na almofada. Quanto ao número de horas de sono diárias, metade
das pessoas diziam ficar-se apenas pelas cinco a sete horas.
Os
resultados geraram preocupação e, neste ano de 2015, a Oficina da
Psicologia decidiu assinalar o Dia Mundial do Sono com o lançamento de
um projecto pioneiro, a Linha do Sono – um serviço telefónico (custa 10 e
25 cêntimos por minuto, consoante se ligue da rede fixa ou móvel) que
funcionará através do número 707100015 sob o mote “ponha as insónias a
dormir”. A iniciativa, explica um comunicado, “pretende ajudar os
portugueses que dormem mal, sofrendo de insónias, problema que
influencia a saúde das pessoas” e que pode “influenciar a vida pessoas
ou profissional”.
Na fase de arranque a linha vai estar disponível
entre as 11h30 e as 16h30 e as chamadas serão atendidas por dois
psicólogos especialistas em estudo do sono. Fora do horário as pessoas
podem deixar um recado no atendedor de chamadas e serão contactadas
posteriormente. A linha funciona durante o dia, já que a ideia é dar uma
resposta ao problema de forma mais continuada e não no momento em que
ocorre a situação. “Este serviço pretende dar respostas às necessidades
sentidas pelos portugueses depois de uma noite mal dormida, identificar
possíveis causa e, ao mesmo tempo, sugerir procedimentos de rotina para
um sono tranquilo”, adianta a mesma nota.
Também Teresa Paiva
colabora num jornal distribuído gratuitamente em supermercados e
parafarmácias nesta sexta-feira, feito em parceria com a Farmacêutica
Bial e o grupo Auchan. A chamada “higiene do sono” é um dos pontos
fundamentais sobre os quais querem passar mensagem. “As pessoas estão a
pôr o trabalho e o dinheiro à frente de tudo o resto, sem perceberem que
vão pagar caríssimo por isso. Quando a diferença no sono durante a
semana e o fim-de-semana é superior a três horas, isso quer dizer que
durante a semana se tem uma grande privação de sono ou uma doença”,
defende. A neurologista sublinha ser fundamental deitar antes da
meia-noite e dá uma imagem: “Se pensarmos que há uma espécie de polígono
que tem por um lado o sono, por outro a alimentação, por outro o
exercício, a actividade cognitiva e a actividade emocional, temos um
pentágono. Temos de ter o equilíbrio nesse pentágono”, reforça.
Maria
Arminda viveu as noites em claro praticamente sozinha. “O meu marido
nem dava fé. Levantava-me, andava pela casa, nunca tinha sono quando era
para adormecer e as pernas não paravam. Às vezes ia para uma cama no
quarto da minha filha e conseguia adormecer nem sei bem porquê. Passei a
vida a tomar medicação atrás de medicação, mas não sei o que é ter
sono. O que sinto é cansaço. De manhã parece que levei uma tareia”,
explica.
Agora que a sua companheira de noites foi baptizada como
uma síndrome já está com medicação adequada, mas ainda em fase de
adaptação. “Não sei se terei uma recuperação muito grande, mas já dei
por mim a querer ir para a cama. Deve ser tão bom quando o corpo nos
puxa. Acho que o meu maior desejo é esse. Gostava muito de chegar à cama
e sentir que dormi aquele soninho bom de que as pessoas falam”,
reforça.
“A privação do sono prolongada resulta em alterações
metabólicas, do sistema cardio-circulatório, imunológico e de
envelhecimento entre outras. Durante o sono o organismo produz hormonas
que controlam a sensação de saciedade. A privação do sono aumenta a
produção da hormona que estimula o apetite, contribuindo para o aumento
do peso. É também durante o sono que o corpo estabiliza os valores
glicémicos. Doentes com diabetes e com um sono insuficiente desenvolvem
uma maior resistência à insulina, dificultando o controlo da doença”,
avisa Ana Paula Santos, que destaca ainda doenças como a hipertensão.
Teresa
Paiva junta ainda o cancro, sobretudo da mama, útero e próstata. E
apela a que não se considerem normais situações que não o são. Ressonar é
uma delas. Também não há, regra geral, pessoas preguiçosas, mas sim
casos de doenças não diagnosticadas, como a narcolepsia – uma patologia
de origem genética, que desregula o sono e causa hipersonolência diurna.
“Tem-se a mania que as pessoas sonolentas são preguiçosas. A pessoa ou
tem privação de sono ou uma doença”, lamenta. Maria Arminda sentiu-se
pouco compreendida durante anos. “Há alturas em que já nem tinha força
para me queixar e dizer outra vez que não dormia. Agora pelo menos sei o
que tenho e porque é que o sono não vem”."
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