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"Vem aí a revolução no ensino, e a mudança, como não podia deixar de ser, está a dar os primeiros passos na Finlândia – o país que, apesar de tudo, continua a ser “o exemplo a seguir” na Europa e no mundo. O ensino por disciplinas é coisa do passado. Agora chegou a altura de aprender por “tópicos”, e o modelo já tem um nome: o ensino de “fenómenos”. A experiência--piloto começou a ser introduzida há dois anos em algumas escolas da capital finlandesa. A responsável pela educação para jovens e adultos em Helsínquia põe a fasquia alta. “Vai ser uma grande transformação na educação da Finlândia, que estamos apenas a começar”, contou ao jornal britânico “The Independent” Liisa Pohjolainen. A questão, explica Pasi Silander, responsável pelo desenvolvimento da cidade, é que o país precisa de “um novo tipo de educação”.
A ideia é cortar com o modelo tradicional, em que os alunos saltam de uma disciplina para a outra ao longo do dia de aulas sem que os conhecimentos sejam relacionados. Em vez de aprenderem Biologia e depois Português para acabarem a tarde com Matemática, os alunos passam a aprender pelos tais “fenómenos”. Adelino Calado, director das Escolas de Carcavelos, em Cascais, exemplifica o processo: “O professor pergunta aos alunos o que é preciso para construir uma casa.E eles respondem que é preciso fazer cálculos. Ora isso envolve Matemática. E depois, o que será preciso? Conhecimentos de Física, e por aí adiante.” No final do exercício terão sido abordadas uma série de áreas do saber e o professor serviu de “orientador” da aprendizagem dos alunos.
Desafio maior: mudar mentalidades Mas Carcavelos? Porquê? A pergunta é legítima, mas tem uma resposta simples. É que no próximo ano três escolas do agrupamento a que Adelino Calado preside vão embarcar num “modelo semelhante” ao que o governo finlandês espera já ter sido alargado a todo o país até 2020: “Já há muitos teóricos a defender a tese de que o ensino deve ser feito por áreas de saber”, explica o director. “O problema é que estas mudanças obrigam a mexer na cabeça das pessoas, e mudar mentalidades é o maior desafio de todos”, diz Adelino Calado. Mudar culturas, mas mudar também a forma como a sociedade olha para a classe docente. “É preciso que o Ministério da Educação e os pais acreditem que os professores têm a capacidade de orientar os alunos, porque enquanto não se acreditar nada feito”, defende.
A evolução implica adaptação, sobretudo por parte dos professores. Em Helsínquia os docentes estiveram em contacto com especialistas de diferentes áreas para reforçar conhecimentos que depois ajudaram a pôr em prática o novo modelo de ensino. “É difícil levar os professores a começar e dar o primeiro passo, mas os que adoptaram a nova abordagem dizem que não conseguem voltar atrás”, destaca Pasi Silander, o responsável pelo de-senvolvimento da capital finlandesa.
A forma como a “reformatação” dos professores foi feita teve particular importância. O presidente do Instituto Superior de Ciências Educativas, Luís Picado, explica que houve “o necessário envolvimento e formação para participarem num projecto de generalização progressiva” e, dessa forma, os docentes sentem que “são parte da evolução e que esta se processa porque faz sentido, visando reforçar a posição da Finlândia nos rankings educativos”.
É pouco provável – para não dizer impossível – que Portugal venha a embarcar de forma alargada no mesmo modelo. “Estamos no porto, de costas para o mar, e nem sequer nos damos conta de que o barco já partiu”, ilustra Joaquim Azevedo. O responsável pela primeira comissão especializada permanente Políticas Públicas e Desenvolvimento do Sistema Educativo, do Conselho Nacional de Educação, é crítico em relação à ausência de pensamento sobre o ensino. “A escola pública está a tornar-se uma escola ocupacional, à privada cabe ensinar e é grave que os dirigentes políticos estejam tão pouco conscientes do que se está a passar”, aponta.
Joaquim Azevedo considera contudo que a mudança em curso na Finlândia não é assim tão radical. E Luís Picado concorda. O especialista em ciências educativas destaca que “as disciplinas tradicionais vão continuar, mas com maior multidisciplinaridade no ensino e em complemento com as áreas de competências transversais (temas), que serão trabalhadas em harmonia com as disciplinas”.
O modelo traz ainda assim vantagens aos alunos. “É altamente provável que os alunos vão exponenciar uma visão integrada e de compreensão do sentido das aprendizagens, que se tornarão mais significativas e ligadas aos desafios sociais”, acrescenta Luís Picado. Desde logo porque aquilo que aprendem na sala de aula – tenha essa “sala” a forma que tiver – estará muito mais ligado à realidade concreta, precisamente, dizem os responsáveis finlandeses, para pôr termo à pergunta: “Para que é que estou a aprender isto?”"
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