"Os órgãos de comunicação social são instrumentos fundamentais de defesa da Língua Portuguesa e o Jornal de Angola
tem feito um grande esforço para cumprir essa missão exaltante que é
preservar um património cultural e vital que convive connosco pelo menos
desde 1486, ano em que a armada de Diogo Cão subiu o rio Zaire até
Matadi e iniciou relações oficiais com o Reino do Congo.
Quando os
nossos antepassados tomaram contacto com a Língua Portuguesa ela era uma
jovem de 272 anos. E foram os contactos com os diversos povos de
África, Ásia, América e Oceânia que a que a mantiveram jovem, até aos
dias de hoje. Angola dá um contributo especial a essa juventude perene, à
sua renovação permanente, que a torna cada vez mais viva e especial.
Os
primeiros vestígios do chamado “português tabeliónico” foram
confirmados no galaico-português, veículo da mais bela e pura poesia
trovadoresca, as Cantigas de Amigo. Desde então, a Língua Portuguesa
ganhou personalidade própria e foi ferramenta fundamental de Bernardim,
mestre Gil Vicente ou Camões, quando compôs aqueles que são dos mais
belos poemas da Literatura Universal, na doce medida velha, para usarmos
a feliz expressão do poeta, na definição da poesia que mergulhava as
suas raízes nas cantigas de trovadores e jograis.
A maravilhosa
aventura da Língua Portuguesa cruzou mares, subiu montanhas e soou nas
“sete partidas”. O estádio supremo de uma cultura é o edifício da língua
que lhe serve de veículo. O Português entrou há seis séculos em nossa
casa e tornou-se membro da família. Ao chegar a África e logo a seguir à
América (Brasil) e ao Oriente, encontrou o elixir da eterna juventude. É
hoje falada por milhões de seres humanos em todo o mundo e adquiriu o
perfume especial de cada povo que a fala e a adoptou como língua
oficial.
Em Angola a Língua Portuguesa encontrou línguas africanas
bem estruturadas mas ágrafas, na altura. Ao ser adoptada pelos nossos
antepassados ganhou um ritmo diferente, sons melodiosos que a tornam
única, bela e com uma amplitude extraordinária, mas igualmente mais
complexa. Hoje o Português tem elementos das nossas línguas e um som que
a torna única. O extraordinário neste convívio é que nunca os angolanos
deixaram morrer as línguas africanas nem sequer as línguas falados por
pequenas comunidades, de norte a sul do país.
Como a Língua
Portuguesa nunca foi hegemónica, não matou as línguas africanas. Pelo
contrário, ao longo de 528 anos, mais de cinco séculos, todas as línguas
conviveram em harmonia e “contaminaram-se” mutuamente. E quando o
Português foi adoptado por Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e
São Tomé e Príncipe como língua oficial, teve um papel importante na
unidade nacional nestes países e não de conflitualidade.
O testamento
do rei D. Afonso II (terceiro de Portugal) a suas irmãs, datado de 27
de Junho de 1214, marca o nascimento da Língua Portuguesa. São 800 anos
de existência que exigem de todos os que falam português e dos países de
língua oficial portuguesa especiais responsabilidades na sua defesa e
preservação, o que seguramente não se consegue com o Acordo Ortográfico
já ratificado por alguns países.
A adopção do Acordo Ortográfico por
parte dos órgãos de informação portugueses causa-nos uma grande
perplexidade, porque, ao mesmo tempo, ignoram a linguagem jornalística e
as técnicas de construção da mensagem informativa. Quanto às técnicas
de ancoragem, nem se fala, são pura e simplesmente ignoradas, numa
olímpica falta de respeito pelos consumidores.
O Acordo Ortográfico é
um instrumento para facilitar o comércio das palavras. Nada mais do que
isso. Os órgãos de informação não são academias de linguistas e muito
menos usam uma linguagem rebuscada. A nossa mensagem é directa,
substantiva e afirmativa. Cabe nos nossos produtos a liberdade de captar
certas formas de contar e expressões populares. Por vezes, esses
materiais têm uma grande riqueza plástica. Mas a base de trabalho é
sempre a Língua Portuguesa e disso não abdicamos, por muito popular que
seja vender a ideia de que é preciso escrever nos jornais como se fala.
Nunca desceremos ao nível de quem sabe pouco, tudo faremos para levar os
nossos leitores ao nível dos que sabem mais.
Não passa pela cabeça
de ninguém fazer um “acordo” para que os estilos próprios de cada povo
sejam adoptados por todos os jornalistas de Língua Portuguesa.
A
Língua Portuguesa tem de ser defendida pelos que a amam e conhecem
profundamente. Sobretudo agora, que nos querem impingir um Acordo
Ortográfico que pretende pôr os brasileiros a abdicar da sua doce
medida, os portugueses da pátria de Pessoa, os angolanos das suas
construções harmoniosas, os moçambicanos das laranjas de Inhambane, os
cabo-verdianos da poesia crioula.
A Língua Portuguesa tem na sua
diversidade a marca da eternidade. Quem hipotecar a sua língua ao
difícil comércio das palavras tem de assumir essa responsabilidade
perante todos os falantes de todas as latitudes. Nós rejeitamos o
caminho de empobrecimento da nossa Língua Portuguesa.
Quanto mais não seja, em nome da unidade nacional."
aqui.
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