no observador...
"As aulas acabaram e as escolas e jardins de infância preparam-se
para fechar. O pesadelo de muitos pais: onde deixar as crianças? Ou,
mais do que isso, o que fazer com elas durante dois longos meses para
não descuidar na sua educação e ao mesmo tempo as manter entretidas e
ocupadas? As possibilidades são muitas, ainda que variem consoante os
orçamentos, e normalmente passam por campos ou colónias de férias, aulas
de música, grupos de estudo ou até mesmo o ATL da própria escola. Mas o
conselho dos especialistas é outro: não planear muito e deixar os
miúdos brincar. Só isso.
O verão tem tudo para ser (e é) a época preferida das crianças e
jovens: representa o fim dos horários – para acordar, estudar, brincar,
deitar-, o fim das aulas e o fim das atividades supervisionadas por
adultos, ora pais ora professores. E não há problema nenhum que o seja,
garante um grupo de psicólogos norte-americano da Universidade do
Colorado, que tem vindo a fazer importantes avanços nesta matéria e que
este mês acaba de publicar um novo estudo.
Brincar sem limites é um dos melhores valores educacionais que os
adultos podem proporcionar às crianças, defendem estes psicólogos do
Colorado. Quanto mais tempo as crianças passarem, durante o seu tempo
livro, em atividades estruturadas e supervisionadas (como aulas de
qualquer instrumento musical ou treino desportivo), pior será a sua
capacidade de trabalhar de forma produtiva e autónoma. Ou seja, brincar
de forma livre, assumir riscos, sonhar acordado e descobrir coisas novas
é um terreno fértil que permite aos mais novos fortalecer relações
sociais, desenvolver maturidade emocional e, acima de tudo, desenvolver
capacidades cognitivas. O termo técnico é desenvolver o “funcionamento
executivo” das crianças, escreve a revista The Atlantic e, surpreendentemente, só se consegue a brincar.
Segundo a publicação norte-americana, o funcionamento executivo é um
termo bastante amplo que diz respeito a capacidades cognitivas como a
organização, o planeamento de longo prazo, a capacidade de iniciativa ou
a capacidade para alternar entre tarefas, e é uma parte vital da
preparação escolar. A longo prazo, o funcionamento executivo das
crianças é mesmo visto como um indicador importante para o desempenho
académico e, mais tarde, para uma vida pessoal e profissional de
sucesso.
Para chegarem a estas conclusões, os autores do estudo testaram os
hábitos e os horários de brincar de 70 crianças com seis anos de idade,
medindo o tempo que cada uma dedicava a atividades espontâneas,
auto-recreativas e menos estruturadas, e, por outro lado, o tempo que
dedicavam a atividades estruturadas, isto é, organizadas por adultos. O
resultado foi que aquelas que passavam mais horas em
brincadeiras espontâneas tinham a tal função executiva mais desenvolvida
e, por isso, tinham mais autonomia e eram mais organizadas. Por outro
lado, quanto mais tempo passavam em atividades convencionais,
estruturadas por adultos, pior era o seu sentido de responsabilidade e
auto-controlo.
Por isso, pais, se querem realmente aproveitar os longos meses de
interrupção lectiva para preparar as crianças para o novo ano, esqueçam a
maioria das atividades e aulas extra-curriculares que planearam para
eles e deixem-nos brincar. Façam do tempo livre, precisamente o que ele
é, tempo livre, e deixem-nos ter domínio sobre a sua própria imaginação
em vez de serem dominados pela vontade excessiva de os educar."
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