no público 'online'...
"De prova na mão e à porta da Escola Secundária de Vergílio Ferreira,
em Lisboa, Ana Rita, 17 anos, comenta com uma colega: “O exame não era
de Matemática, era de mandarim, para mim era chinês.” Esta aluna do 12.º
ano foi uma, entre cerca de 50 mil inscritos em todo o país, que fez
nesta quinta-feira a prova nacional de Matemática A com conteúdos, pela
primeira vez desde 2006, do 12.º e do 11.º. “Eu achei muito difícil”,
desabafa.
Ana Rita, aluna da área de Ciências e Tecnologia e
de nota 10 à disciplina, não é a única a achar que o exame, embora "mais
fácil" do que o de 2013 - que teve as notas mais baixas dos últimos
sete anos - foi na mesma "difícil". “O exame conta 30% da nota final,
por isso preciso de ter 8,5. Mas, pelas minhas contas, vou ter para aí
um três. Se estiver certa, vou ter de ir à segunda fase”, lamenta.
Garante que estudou e teve explicações. O problema foi o grau de
dificuldade dos exercícios e não a matéria, que era a esperada: “Saiu
complexos, probabilidades, geometria, continuidade de funções, derivadas
e um exercício de calculadora”, enumera.
Segundo os alunos que se
juntaram à porta desta escola, no fim do exame, a matéria do 11.º que
saiu valia no total dois valores em 20: “O exercício de geometria valia
1,5 e a questão do grupo de escolha múltipla sobre sucessões 0,5. O
resto, a maior parte, era matéria do 12.º ”, explica João Costa, de 20
anos.
Este estudante está a frequentar o ano zero do curso de
Turismo e Gestão Hoteleira, mas precisa de fazer Matemática para ter o
ensino secundário completo. Espera ter positiva, mas não tem a certeza
de que vá conseguir: “Pedi para acenderem velinhas, rezarem e fazerem
mezinhas, mas não sei se vai resultar”, diz, divertido.
André
Costa, de 17 anos, do 12.º ano da área de Ciências socioeconómicas, não
tem dúvidas de que o exame foi “difícil”: “Não sei se não vou ter de ir à
segunda fase… Pelas minhas contas, estou no limite, entre o 9 e o
10...” O aluno quer ir para o curso de Ciências do Desporto e, nesse
caso, Matemática é prova específica. Como anulou a matrícula, tem de ter
no mínimo 9,5. Apesar de garantir ter estudado “bastante” e ter tido
explicações durante todo o ano, preferia que o exame incluísse apenas
conteúdos do 12.º: “Era menos matéria para estudar, menos conceitos para
relacionar”, justifica.
Patrícia Rocha, 19 anos,
trabalhadora-estudante do 12.º, discorda: “As matérias do 11.º e 12.º
estão muito relacionadas, não acho que juntar conteúdos dos dois anos
torne o exame mais difícil”, explica. Apesar disso, a prova não lhe
correu bem: “Tinha exercícios bastante difíceis, com muitos cálculos e
contas em que era preciso pensar bastante. Correu mais ou menos, mas
mais para o mal. Positiva não vou ter de certeza. A segunda fase cá me
espera”, diz.
“Horrivelmente mal”
Nenhum dos
alunos ouvidos à porta da escola Vergílio Ferreira achou que o exame
lhes tivesse corrido bem. Tiago Bernardo, 20 anos, diz mesmo que lhe
“correu horrivelmente mal”: “Já estava à espera, não percebo nada
disto.” Só fez a escolha múltipla, mas não está muito preocupado, nem
tenciona ir à segunda fase: “Estou cá para o ano”, graceja.
Já
Sofia Mendonça, 17 anos conta ir à segunda fase: “Correu muito mal”,
lamenta. Ao lado, a amiga, Sara Marques, de 19 anos, acha que o exame
não era “assim tão difícil” para quem se preparou: “Tinha muitos
exercícios de probabilidades, que é a matéria mais fácil. Acho que os
colegas que estudaram vão ter boa nota.” Mas mesmo para quem garante ter
estudado “muito”, como Tiago Tavares, de 17 anos, o exame não foi
acessível: “Correu mal, eu achei difícil.”
Apesar de ser das
poucas a considerar que o exame até era acessível para quem se tivesse
empenhado, Sara Tavares entregou-o em branco: “Já vinha preparada para
não fazer. Anulei a matrícula, comecei a estudar a matéria do 11.º ano
tarde e estou atrasada”, justifica a aluna que, mesmo com “muitas
explicações”, considera que sair matéria de dois anos dificulta a vida
aos alunos. “É complicado, porque a matéria do 12.º ano já é muita, os
professores não têm tempo de dar tudo e fazer revisões”.
Se à
saída os alunos estavam menos confiantes nos resultados, à entrada para o
exame, pelo menos nesta escola de Lisboa, estavam relativamente calmos.
Vicente Xavier, 16 anos, já sabia que a prova ia ser “difícil” e estava
um bocadinho nervoso”, mas “nada de especial”.
Antes de a prova
começar, a presidente da comissão administrativa provisória do
agrupamento de escolas Vergílio Ferreira, Manuela Esperança, dizia que
os alunos estavam "expectantes" mas serenos. Mesmo que a Matemática seja
um "fantasma" para muitos, não sentiu especial nervosismo entre os
jovens e até achava que o facto de este ano as provas estarem a ser
“mais limpas” e “bem elaboradas” lhes dava “mais tranquilidade” e
“confiança”."
Sem comentários:
Enviar um comentário