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Hoje por Miguel Cadete
Diretor-Adjunto
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23 de Abril de 2015 |
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António Costa é igual a Passos Coelho?
“Quão grande deve ser o cemitério da minha ilha?” disse Giusi Nicolini, a presidente do município de Lampedusa. Não, não foi este fim de semana, depois de se terem descoberto mais oito centenas de mortos afogados no Estreito da Sicília. Não foi este fim de semana, dizia. Foi em novembro de 2012. Passados dois anos e meio, muitos mais morreram a tentar chegar à Europa. Mas em Lampedusa continuam sem saber o que fazer aos mortos – e aos vivos - que entretanto continuam a chegar. É por isso que hoje há uma cimeira de emergência da União Europeia. Que fazer?, pergunta-se quando os acontecimentos se tornaram mediaticamente insuportáveis.
Na reunião dos líderes europeus de hoje, convocada por Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, já se espera pouco para resolver uma questão que tem ocupado a agenda mediática. O Guardian revelou o rascunho das medidas a serem aprovadas (de que o Expresso dá conta aqui) neste encontro entre líderes europeus e adianta o que se vai passar em Bruxelas: de acordo com o pacote a ser aprovado hoje, na Europa não serão admitidos mais de cinco mil refugiados. Todos os outros serão devolvidos à procedência. Em 2104 foram 150 mil. Este ano, já se registaram mais de 36 mil casos de sobreviventes às viagens de barco que vindas do norte de África chegaram às costas de Malta, Grécia e Itália. E o Financial Times chegou a adiantar, durante esta semana, que vinha aí mais um milhão de emigrantes. E hoje diz que há um ambiente “anti-imigração”. A Europa continuará a não garantir vistos, fecha as fronteiras e faz do Mediterrâneo o fosso do seu castelo medieval.
Já era nesse sentido que o chefe do Frontex, Fabrice Leggeri, se havia pronunciado ontem, quando disse que a sua Operação Triton, encarregue da vigilância de fronteiras, não se poderia dedicar a salvar vidas. O Conselho irá por isso apenas ratificar a decisão de dobrar o investimento nos meios de patrulha, de alguma forma repondo aquilo que o governo italiano havia retirado no tempo de Berlusconi. As consciências ficarão certamente mais tranquilas quando hoje for declarada guerra aos traficantes de pessoas que fazem negócio da emigração ilegal. É aí que está a raiz do problema, de acordo com o documento revelado pelo Guardian, bem como na situação política desordenada de países como a Síria.
No Expresso Diário, Carolina Reis falou com o outro lado, o dos que querem vir “para cá”, e conta a história de Ahmed Abdalla. A guerra na Somália fê-lo deixar tudo para trás, atravessar África, chegar à costa da Líbia e meter-se num barco para cruzar o Mediterrâneo e aportar à Europa. “Não vamos à procura de uma vida melhor. Vamos à procura de vida. Atrás de nós só há morte.” Desde 2009 que vive na Bobadela. E hoje é cidadão português.
As fronteiras entre o Governo e o PS também estão cada vez mais bem definidas. Ainda que o partido da oposição tenha aproveitado o vazio aberto por Passos Coelho (“que se lixem as eleições”) para apresentar um plano macroeconómico que é suficientemente moderado para irritar o Bloco de Esquerda e o PCP, como ontem seu viu no Parlamento com recurso a letras de canções de Ney Matogrosso. É mais do mesmo, isto é austeridade, poderiam ter dito, quando a proposta de Mário Centeno propôs mais dinheiro nos bolsos dos portugueses, com menos impostos para os portugueses (com o fim da taxa extra) e mais salário (através da redução da TSU). Mas a flexibilização do desemprego também faz parte deste pacote proposto pelo PS que ganhou, desde logo, por se ter tornado vedeta na política cá de casa. É disso que se fala e não do Programa de Estabilidade do Governo. Este voltou a acusar o PS que querer voltar ao antigamente, agitando o fantasma do regresso da troika. Serão assim tão diversos estes programas? Uns procuram estimular a procura, dando dinheiros aos portugueses; outros vão pela oferta e preferem as empresas; mas o certo é que ambos continuam a pugnar por défices certinhos e concordantes com a União Europeia. São modelos de curto e médio prazo que continuam a deixar perdido no nevoeiro o que há-de vir: que economia será esta? Especializada em quê? Onde poderá crescer o investimento. Daí nada se sabe ainda. Pedro Santos Guerreiro, no Expresso Diário, vai mais atrás e discute a verosimilhança dos cenários apresentados tanto por Governo como pelo PS, montados em taxas de crescimento que provavelmente não são as de Portugal mas sim de um País das Maravilhas. E acaba a concluir, um pouco como Daniel Oliveira, que, afinal, PS e PSD podem ter sido feitos um para outro. Como no melhor sonho de Cavaco Silva.
OUTRAS NOTÍCIAS
Real Madrid e Juventus são os dois outros semifinalistas que se vão juntar a Bayern de Munique e Barcelona. O Mónaco, treinado por Leonardo Jardim, tinha perdido por uma bola na primeira mão e não conseguiu desfazer o nulo no jogo de ontem. Já o Real Madrid venceu, e passa à fase seguinte, com um golo sem resposta de Javier Hernandez, depois de assistência de Cristiano Ronaldo. O sorteio que ditará quem joga com quem nas meias-finais tem lugar sexta-feira, às 11 da manhã.
Montepio aumenta capital com recurso a fundo que já foi criticado pelo presidente da CMVM. No Jornal de Negócios pode ler-se que as unidades de participação só poderão contudo ser subscritas por investidores institucionais e poupando os clientes particulares. A decisão haverá de ser tomada na Assembleia Geral de 30 de abril. Entretanto, Tomás Correia disse na SIC Notícias que, além de Teixeira dos Santos, há mais três nomes que podem garantir a sua sucessão na presidência daquela instituição.
FRASES
“O PS dispõe-se a causar o maior buraco de sempre na Segurança Social”. Paulo Portas no Parlamento
"Nós partimos da realidade que existe e não de uma realidade ficcionada, partimos de uma abordagem prudente". Maria Luís, no Parlamento
“Não sei quem é o deputado excitado; ah, é o senhor deputado João Galamba, mais uma vez". Pedro Passos Coelho
“A sua deselegância politica e pessoal em relação ao deputado João Galamba não tem nenhuma espécie de aliança aqui nesta bancada. O senhor tem de respeitar todos os deputados e o deputado João Galamba é um grande deputado neste parlamento”. Ferro Rodrigues
“É preciso algum descaramento para que um Governo, que falhou todos os objetivos a que se tinha proposto, que chegou ao fim do seu mandato com uma dívida 30 pontos percentuais acima daquela com que começou, que tem uma taxa de desemprego como aquela que tem, se permita questionar dessa forma as propostas dos outros". António Costa
O QUE EU ANDO A OUVIR E A LER
No início dos anos 60, antes de começarem os jogos do Liverpool em Anfield Road, o DJ de serviço passava no sistema de som todas as canções do Top 10. Houve porém uma canção que, mesmo depois de ter deixado de figurar na tabela dos mais vendidos, continuava a ser cantada em coro pelo público presente nas bancadas. Essa canção era “You’ll Never Walk Alone” que desde então passou a ser o hino do Liverpool. Depois de Gerry & the Pacemakers, muitos outros vieram a gravar novas versões como é o caso de Elvis Presley, Frank Sinatra, Judy Garland e Barbra Streisand. Mesmo os Pink Floyd utilizam uma gravação do coro dos adeptos do Liverpool num dos seus temas. E se há vídeos emocionantes no YouTube, tanto destes artistas como, sobretudo, capturadas ao vivo nos jogos do Liverpool! Mas a razão por que me fui pôr a ouvir outra vez “You’ll Never Walk Alone” é muito mais simples. A 16 de maio, Steven Gerrard fará o seu último jogo pelo Liverpool em Anfield, antes de rumar aos Estados Unidos onde terminará a carreira a jogar pelo LA Galaxy. O Liverpool, já se sabe, não vai à final da Taça de Inglaterra. E é uma pena para o Gerrard que faz anos nesse dia. E assim, perdida a glória de poder participar nessa final, Gerrard despede-se dos seus adeptos a 16 de maio. Ora, eu quero estar sentado no sofá a partir das 17h30 desse sábado com a letra da canção bem sabida, de cor e salteado. Steven Gerrard foi considerado por alguns, como Zinedine Zidane, o melhor jogador de futebol do mundo. Ganhou amiudadas vezes nas sondagens feitas aos adeptos do seu clube de sempre – nunca jogou noutro – sobre o melhor jogador da história do Liverpool FC. É exímio no passe, marca golos e transmite confiança aos companheiros, afirmando-se por tudo isto e muito mais como um autêntico líder, não só no seu clube mas também na seleção inglesa. Como é costume nos jogadores ingleses de maior cartaz, publicou um dia a sua autobiografia (na verdade da autoria de um escritor fantasma). O livro termina com estas palavras: “I play for Jon-Paul”. E quem é Jon-Paul? O primo de Steven Gerrard que em 1998 morreu na tragédia de Hillsborough. Tinha 8 anos e foi a vítima mais jovem das 96 que foram esmagadas numa meia-final da Taça de Inglaterra. Um ano depois deste trágico acontecimento, Steven Gerrard passou a jogar pelo Liverpool. Pelo Jon-Paul, claro. Eu vou ver aquele jogo com a certeza de que há coisas que não valem nada e que nos emocionam. Como o futebol. Ou a música popular.
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