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Por João Vieira Pereira
Diretor-Adjunto
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4 de Agosto de 2015 |
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Diga adeus à sobretaxa de IRS e olá ao Pixuleco
Bom dia,
Este é o seu Expresso Curto de terça-feira, 4 de agosto. O último que vos faço chegar antes de entrar em férias. E para variar vou começar pela Grécia. E com elevada probabilidade o primeiro que fizer quando regressar a Lisboa deverá começar pelo mesmo assunto.
“Se queremos que tudo continue como está, é preciso que tudo mude”, já dizia Tancredi, personagem do Gattopardo, obra de Tomasi de Lampedusa onde relata a vida da decadente aristocracia italiana ameaçada pelo surgimento das ideias republicanas.
Na Grécia também foi necessário que tudo mudasse para que tudo continuasse igual. Cinco semanas depois a bolsa de Atenas reabriu em queda abrupta. O mercado caiu mais de 16%, o pior resultado desde 1985, com destaque para as ações dos bancos a caírem 30%. Como se não fosse suficiente, saíram os dados sobre a produção industrial na Grécia em julho e a queda foi de quase 20 pontos, para os 30,2 pontos. Qualquer valor abaixo dos 50 pontos é sinal de contração da economia. Também o sentimento económico caiu no mês passado para de 90,7 para 81,3 pontos, o mais baixo desde outubro de 2012.
Com tanta incerteza, e com as negociações para o terceiro resgate a avançarem devagar, já se fala da necessidade de um segundo empréstimo intercalar. É que no dia 20 de agosto Atenas tem de fazer um novo pagamento, de 3,2 mil milhões de euros, ao BCE e dos 7,16 mil milhões aprovados recentemente já pouco ou nada sobra.
Quem também faliu foi Porto Rico ao falhar um pagamento de obrigações no valor de 58 milhões de dólares. O território norte americano tem uma dívida de 72 mil milhões de dólares, considerada demasiado elevada para a pequena economia. O desemprego está a aumentar e a economia em queda acentuada. Para piorar, a ilha enfrenta um período de seca.
Por cá, diga adeus à devolução da totalidade ou parte da sobretaxa do IRS. Quem o diz, indiretamente, é a Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO), ao afirmar que a meta orçamentada paras as receitas fiscais está em risco. Além de prever que o défice deverá ficar acima dos 3%, opinião partilhada por várias instituições internacionais, deixa a dúvida se de facto haverá espaço para a devolução do imposto extra e desdiz o que o governo tinha estimado. A conclusão da UTAO foi rapidamente contrariada pelo Ministério das Finanças, que acredita que, tal como aconteceu nos anos anteriores, as metas de cobranças de impostos vão ser atingidas e até ultrapassadas. Ou seja, reafirma que em 2016 irá haver alguma devolução.
Verdade? Mentira? Muito provavelmente só depois das eleições saberemos. Mas pelas contas do Expresso a situação é positiva para o bolso dos contribuintes, para já.
José Dirceu está outra vez preso. Desta vez por causa de um processo com origem no caso Lava Jato. Dirceu, considerado o homem forte do início do governo de Lula da Silva, é suspeito de receber luvas disfarçadas na forma de consultorias, por meio de sua empresa JD assessoria, entretanto dissolvida. A Folha de São Paulo diz que esta é a “17ª fase da Lava Jato, denominada “Pixuleco”, o nome usado pelo ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, para designar as luvas recebidas na sequência dos contratos com a Petrobrás. O advogado diz que Dirceu é um “bode expiatório” e que a sua prisão é “política”.
Dirceu tem bastantes ligações a Portugal, nomeadamente à antiga Portugal Telecom, à Oi e à Ongoing. E ou muito me enagano ou vamos ouvir falar deste Pixuleco durante bastante tempo. Ligações que o Observador sistematiza aqui.
Uma boa notícia (para países que não dependem dele) é a nova descida do preço do petróleo. O barril voltou a quebrar os 50 dólares, o que não acontecia desde Janeiro. Os analistas estimam que existe um excedente global de produção de 2 milhões de barris por dia.
OUTRAS NOTÍCIAS
Tom Hayes tornou-se a primeira pessoa no mundo a ser culpada por um júri de manipular a taxa Libor. E a sentença é tudo menos pequena: 14 anos de prisão efetiva. Hayes, uma antiga estrela do mundo financeiro que já tinha ganho mais de 5 milhões de libras antes dos 30 anos, conhecido pelo “Maquiavel da Libor”, foi considerado culpado de oito crimes após uma investigação que durou dois anos e meio.
Uma “estranha epidemia” afectou 360 professores do distrito de Bragança. Todos invocaram motivos de saúde e necessidades específicas de tratamento, seu ou de familiares, para justificarem uma mudança de escola. O caso já está a ser investigado pelo ministério de Nuno Crato.
O corpo do homem que praticava geocaching foi encontrado na serra de Aire e Candeeiros a apenas 50 metros do seu carro. O caso trouxe para a ribalta esta atividade (Geocaching), uma espécie de caça ao tesouro moderna para a qual é preciso ter algumas cautelas.
Os cartazes polémicos do Partido Socialista, que foram criticados dentro do partido e ridicularizados nas redes sociais, vão ser retirados, escreve o jornal I. Apesar do fracasso, Edson Athaíde deverá continuar a trabalhar com o PS.
O cheque formação, ferramenta criada pelo governo para ajudar a qualificação e requalificação dos trabalhadores, vai poder ser usado para pagar a formação obrigatória que as empresas têm de realizar todos os anos. A notícia faz manchete do Negócios.
Ainda na sequência do aumento das tentativas de emigrantes ilegais entrarem no Reino Unido, o governo britânico quer que os proprietários despejem os inquilinos que sejam identificados como ilegais, mesmo sem ordem de um tribunal. E quem não garantir o estatuto legal dos inquilinos que alberga pode apanhar multas pesadas ou mesmo incorrer em pena de prisão até cinco anos. A proposta já está a gerar uma onde de contestação no Reino Unido. Só entre a noite de domingo e a manhã de segunda-feira 1700 emigrantes foram impedidos de chegar ao túnel do Canal da Mancha.
O QUE DIZEM OS NÚMEROS
1,2 mil milhões de euros – é quanto os portugueses investiram em PPR nos primeiros seis meses do ano, o valor mais alto dos últimos cinco anos. O Diário Económico escreve que as baixas taxas de juro estão a aumentar a procura por estes produtos.
850 mil euros – é quanto Lisboa vai poupar por ano ao substituir as luzes dos semáforos por lâmpadas LED
FRASES
“Saída do euro seria um beneficio económico para Portugal” – D Duarte Pio, Diário de Notícias
"Não há razão para isto aparecer. É uma recapitalizaçao que tem de ser resolvida até 2017 e estamos a meio de 2015. É um não assunto" João Lopes, presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Empresas do Grupo CHD, sobre as criticas de Passos Coelho à Caixa, Negócios.
O QUE EU ANDO A LER
Como as férias (pelo menos as minhas) se estão a aproximar deixo aqui a minha lista de leitura para este período.
Começo com um amigo, com um romance e com os Açores. Faz parte da minha lista de desejos assim que nasceu nas prateleiras e agora faz parte da minha mala. Arquipélago é a mais recente obra de Joel Neto, com quem tenho saudades de jogar golfe. A sua escrita apaixonada por uma terra que o apaixona é transportada numa obra, até agora, apaixonante. “Afinal, a chuva caíra com estrondo mas demorara-se pouco, impelida no sentido dos grandes cones vulcânicos do interior da ilha. O cheiro doce do húmus, aquela delicada combinação de erva molhada, leite morno e bosta de vaca, provocava-lhe uma inesperada sensação de bem estar.” Não perca.
Regresso à minha praia. Ultimamente tenho devorado tudo onde figura o nome de Piketty. Desta vez é um pequeno livro que reproduz um debate entre o economista francês, Thomas Piketty e os Nobel da Economia Paul Krugman e Joseph Stiglitz. “O Debate sobre a Desigualdade e o Futuro da Economia” teve lugar no dia 4 de março de 2015 e está agora vertido em livro. Depois de o "Capital" Piketty tornou-se num nome incontornável da economia mundial. Tive a oportunidade de o ouvir, e ao seu inglês com uma pronúncia francesa quase impercetível, numa conferência organizada pela Gulbenkian, confirmando que ele é de facto uma estrela económica em ascensão. A recente crítica de Paul Krugman a uma outra obra sua, ‘The Economics of Inequality, que se pode classificar de absolutamente assassina, abriu-me o apetite pelo pequeno livro do qual já li metade durante o jantar de ontem.
Para terminar deixo duas sugestões de Michael Pollan. Um jornalista e professor de jornalismo em Berkeley que publicou vários livros sobre… comida. Na mala levo dois: “Saber comer - as 64 regras de ouro” e “Em defesa da comida”, ambos editados em Portugal pela Leya. O primeiro é um guia rápido sobre o que pode e não pode fazer em termos de alimentação. Só para nos lembrar que somos o que comemos. São regras simples como (1) “Coma comida” ou (13) “Coma apenas alimentos que podem apodrecer”. A segunda é um manifesto pela comida e os alimentos verdadeiramente saudáveis e um conselho para que se mantenha longe dos produtos transformados que enchem as prateleiras dos supermercados. Mesmo escrito por um americano para o mercado americano e sobre o mercado americano é uma lição que não quero perder.
Boas leituras.
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