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Por Luísa Meireles
Redatora Principal
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5 de Agosto de 2015 |
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Emprego, desemprego e batatas com laranjas
Sim, já se está a ver que vai ser, já é, um dos grandes temas da campanha eleitoral. Os partidos trocam acusações sobre os números do emprego versus desemprego, parecendo esquecer aquela coisa simples de que pessoas não são números, a não ser para efeitos estatísticos ou contabilidades de terror. Duvido mesmo que, discutido desta maneira, o tema seja mobilizador para o eleitor. Este até pode estar empregado, mas numa daquelas qualidades que as estatísticas (de há longos anos!) contabilizam como tal, para além de ter um emprego certo: ocupado num trabalho que lhe ocupa uma hora por semana, a fazer uma formação que, no fim das contas, não dá para nada, ou num estágio findo o qual vem para a rua. Desempregado só mesmo quem não faz nada destas coisas e, ainda por cima, procura ativamente emprego. Porque, se não procurar, já não é uma coisa nem outra, é simplesmente inativo.
Confuso? Também eu. Mas tenho clara a ideia que a realidade - ou a perceção que as pessoas têm dela - choca de frente com os números. Estes são o que são e, hoje, que se espera mais um boletim do INE sobre o desemprego (segundo trimestre) temos garantida a continuação da polémica que, ontem estava mais ou menos assim: Passos Coelho veio a terreiro e o PSD disse, zangado, que não confundia batatas com laranjas, que os factos falavam por si, em resposta ao PS, que acha que o número de empregos destruídos é que conta. A verdade chã é que Portugal tem hoje menos 26 mil desempregados do que no arranque da legislatura, mas também tem menos 210 mil pessoas a trabalhar, num aparente paradoxo, como o Jornal de Negócios explicava muito bem aqui há dias: entre reduzir o desemprego e o emprego, o que é mais importante?
Recapitulemos. Tudo começou aqui, a notícia que dava o Governo furioso com o INE. Mas o tema é inesgotável. Por isso, entre muitos outros, sugiro-lhe estes dois artigos de opinião, que dão perspetivas diferentes: o do Daniel Oliveira, que se interroga sobre que tipo de emprego estamos a preparar para o futuro (e é bom refletir sobre isso) e o do Paulo Barradas, que fala sobre o milagre da criação de emprego.
OUTRAS NOTÍCIAS
Posto isso, tenha também como garantido que a polémica sobre... a sobretaxa vai continuar. A tal que o Jerónimo de Sousa disse na sua linguagem impagável que se trata de um chouriço em troca de um porco. O líder do PC tem esta vantagem de traduzir em linguagem que todos entendem alguns problemas que, convenha-se, o politicamente correto torna ininteligíveis. Pois, o PS diz que e o Governo responde que. O Diário Económico faz um fact check sobre o tema mas, lamento, é só para assinantes.
Tudo isto, claro, é já o país em modo pré-eleitoral. Os debates já estão marcados, serão entre 9 e 22 de setembro (arrancam com Passos e Costa) e afinal, Paulo Portas fica mesmo de fora e nada satisfeito. Quanto aos cartazes do PS que originaram grande chacota, o caso parece arrumado: são para arrumar (a seu tempo).
Os jornais de hoje focam-se aliás bastante no PS: o Público traz uma grande entrevista com Mário Centeno, o coordenador do cenário macroeconómico (e que está disponível para ser ministro), o Diário Económico com Ascenso Simões, diretor de campanha ( "o PS quer gastar menos 40% do que em 2011") e o I chama à colação Paulo Trigo Pereira, outro ministeriável, a propósito de umas suas declarações de 2012, em que defendia a constitucionalização da dívida, coisa que o partido considera um "disparate".
E falemos de outras notícias caseiras. dois homens, dois destinos. Um, engrandece-nos: António Simões, que assume que se não fosse gay não chegava onde chegou, vai ser o CEO do HSBC, o maior maior banco da Europa. O Económico também publica uma entrevista que vale a pena, se quiser saber mais sobre este homem que se define como "gay, baixinho e careca" (esqueceu-se de dizer que é inteligente, modesto e que foi o melhor aluno do seu curso). Ser líder tem custos: vai liderar uma unidade que tem de ser reestruturada e que prevê o corte de 50 mil empregos. O outro, diminui-nos: Rui Lucena Marques, ex-presidente do conselho de administração da CP/Fernave, foi detido por abuso de poder e peculato. Foi Angola que o denunciou, conta hoje o Correio da Manhã: aquele país pagou 200 mil por uma ação de formação, o administrador ficou com 150 mil.
Se tem filhos a estudar, já sabe, as notas dos exames do 9º ano foram uma razia a matemática. Em contrapartida, as médias do 12º na segunda fase subiram em relação a 2014. A Isabel Leiria foi mais longe e, neste trabalho, procura avaliar por que é que os alunos do público chumbam mais do que no privado. Creio que o leitor, mesmo não lendo tudo, chega lá por si.
Novidade é a manchete do DN: os pequenos acionistas do BES subiram a parada e vão pedir o arresto de bens do governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, e dos restantes membros do Conselho de Administração. Quanto aos restantes bancos, suponho que está ao corrente: regressaram todos aos lucros. O Negócios explica, o Económico também mas, lamento, é só para assinantes. O Montepio, esse, vota hoje uma nova administração.
Lá fora
Há oito dias, a morte de um emigrante no Eurotúnel abriu todas as notícias. Foi o começo de uma aparente revelação. Morre-se nas águas do Mediterrâneo e morre-se pendurado num camião debaixo de água. A Europa está a lidar cada vez pior com os emigrantes, a França e o Reino Unido estão agora na berlinda por causa do que acontece em Calais. Mas é a União como um todo que está em causa, com as novas cercas na Hungria de Viktor Orban, ou os cães e as pragas de David Cameron, que não suscita as simpatias europeias.
Fixe-se, pois, neste texto da Renascença, porque ainda lhe traz de bónus uma excecional reportagem (A Sul da Sorte) que foi Prémio Gazeta. E não perca este exercício melódico, que transforma em música os dados númericos das migrações. Tire o seu tempo (2 minutos, e não desista porque só começa a ouvir a partir dos 16 segundos) e vai perceber musical e visualmente como um mundo (o nosso) tinha em 1975 1,5 milhões de refugiados (1 em cada 2552 habitantes) e passou a ter 10,3 milhões (1 em 685) em 2012. A música termina aqui, estridente, hoje deve estar a explodir.
Na Alemanha, o ministro da Justiça demitiu o Procurador-geral. Motivo? Interferiu (ou obstruiu) numa investigação jornalística. E esta, hein?
Para não variar, não quero deixar de falar desse tema omnipresente que é o futebol. A pedido de muitos sportinguistas (e não sei se com raiva de outros), aqui faço o registo. Vem aí o Boateng e o Expresso mostra-lhe os seus sete melhores golos para lhe perceber a arte. Bem sei que ele ainda não joga no domingo, mas o Benfica que se cuide para a próxima. Os dois clubes estão preparados para a guerra?
FRASES
"É impossível flexibilizar mais a lei portuguesa, porque um contrato a prazo é um ato administrativo de despedimento. É despedimento a prazo, ou seja, a prazo conhecido", Mário Centeno, no Público.
"O caso Sócrates tem dois níveis: o individual, de sofrimento enquanto amigos dele. E podia ter ligação com a vida política, mas sentimos que não tem", Ascenso Simões, no Diário Económico.
"As reivindicações de Bruno Maçães são risíveis", Philippe Legrain, ex-consultor de Durão Barroso, no I
"Somos a última geração que pode fazer alguma coisa contra as alterações climáticas", Barack Obama, no I
"As eleições do próximo dia 4 de outubro serão certamente livres e enquadradas por todas as exigências básicas do formalismo democrático, mas não permitirão a expressão da vontade popular", João Cardoso Rosas, no Diário Económico
"Quando contei aos meus pais que dançava, foi um escândalo, tudo a chorar", Jorge Salavisa, ex-bailarino e programador artístico, no DN
O QUE ANDO A LER
Uma escritora que me enche as medidas e que a Cristina Peres aqui já deu nota, a propósito de um seu livrinho recentemente editado em Portugal. Decore o seu nome: Chimamanda Ngozi Adichie, uma nigeriana que divide o seu tempo entre a Nigéria e os Estados Unidos e que escreve fabulosamente. Leio agora o seu segundo livro, mas primeiro romance A cor do Hibisco (Asa), que recebeu vários prémios. Já li vários livros dela e acho cada um melhor do que o outro. Na contracapa deste, está escrito que "é uma história delicada e comovente sobre uma jovem vítima da intolerância religiosa e sobre o lado negro do Estado nigeriano". É verdade. Por isso lembrei-me deste artigo Rohingya Women Flee Violence Only to Be Sold Into Marriage, publicado ontem no International New York Times. Um é romance, outro é vida real. Também podia ser ao contrário.
Hoje fico por aqui. Já sabe que isto são escolhas, parcas e pessoais.
Tenha um ótimo dia. O tempo está bom. Divirta-se, se puder.
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