quinta-feira, 6 de agosto de 2015

a actualidade do dia-a-dia, numa visão pessoal do jornalista...!

Nicolau Santos
Por Nicolau Santos
Diretor-Adjunto
 
6 de Agosto de 2015
 

A bomba, o canal, o desemprego e o emigrante que faz anos 


Bom dia,

Exatamente há 70 anos, numa manhã de sol tão bonita como esta que está hoje em Lisboa, um bombardeiro batizado Enola Gay, largava sobre Hiroxima a primeira bomba atómica a ser lançada no mundo. Morreram instantaneamente pelo menos 140 mil pessoas. Três dias depois, uma nova bomba de urânio foi lançada sobre Nagasaki, matando pelo menos mais 80 mil pessoas. Foi o início do fim da II Guerra Mundial e o nascimento de uma nova ordem mundial, que tem vigorado quase intocada até aos dias de hoje. O poder destruidor foi de tal ordem que Shintaro Yokoshi, um sobrevivente, diz no seu arrepiante testemunho publicado hoje no jornal i: «Pensei que tinha caído o Sol».

Mas se no Japão se assinala uma data dramática, no Egito assinala-se a conclusão de mais uma grande obra de engenharia. As cerimónias de inauguração do novo canal do Suez decorrem hoje, um ano depois de iniciadas as obras. A concretização da nova rota de 72 quilómetros custou 8,5 mil milhões de dólares (cerca de 7,5 mil milhões de euros), sendo considerada essencial para o comércio regional e global. O Egito prevê a duplicação do tráfego e um crescimento de mais de 250% das receitas até 2023, além da criação de um milhão de empregos na sua zona económica.

Estarão presentes vários chefes de Estado, entre os quais François Hollande, mas não consta que estejam presentes portugueses. Contudo, a 17 de novembro de 1869, aquando da inauguração do primeiro canal do Suez, dois jovens portugueses encontravam-se entre os convidados para as grandiosas comemorações. Eram eles o Conde de Resende, com 25 anos, e o seu grande amigo, «ao tempo mais notável pelas suas gravatas que pelas suas obras», Eça de Queiroz, de 23 anos. («O Egipto – Notas de viagem», Edições Livros do Brasil). É uma boa ocasião para recordar o que era o Egito no final do séc. XIX de acordo com o olhar daquele que viria a ser um dos maiores escritores portugueses.

Por cá, o que está no centro da polémica são os números do desemprego. E há opiniões para todos os gostos, de Passos Coelho, Marco António Costa, Mota Soares e Cecília Meireles, pelo lado da maioria, contrariados pela oposição em peso. Contudo, o Governo recebeu um aliado de peso: o secretário-geral da UGT, Carlos Silva, que afirmou várias vezes a sua «satisfação» pelos números mais recentes. A propósito, leia o que Paulo Barradas escreve no Expresso on line, a propósito de «O milagre da criação de emprego».

O Diário de Noticias titula que «dois terços dos empregos criados são a prazo». Por sua vez, o Público diz que o «desemprego é mais baixo que há quatro anos mas o emprego também é menor». O ministro da Economia responde no jornal i. Pires de Lima «acusa a oposição de não acreditar na capacidade dos portugueses». E o Jornal de Negócios pergunta: «Desemprego em mínimos de 4 anos e meio ou a maior destruição de emprego dos últimos 50?»

Entretanto, a chuva de milhões europeus consubstanciados no programa Portugal 2020 já começou a cair: as associações empresariais inauguraram os concursos e já receberam luz verde para 57 milhões de euros, um valor que mesmo assim fica aquém do montante que estava disponível. Têxteis e calçado lideram a lista de apoios.

O vencedor da corrida ao Novo Banco não vai ter só de se preocupar com a instituição, procedendo a um aumento de capital no mínimo de mil milhões de euros. Com efeito, os três candidatos – os chineses da Fosun e Angbang e o fundo norte-americano Apollo – receberam uma carta dos lesados que investiram em papel comercial do GES, avisando: «Se vos disseram que os clientes do papel comercial não têm o direito a ser reembolsados pelo Novo Banco ou por quem o vier a comprar, não acreditem!"

Na Caixa Económica Montepio Geral, pode ser que os ânimos venham a acalmar, agora que José Félix Morgado foi eleito para presidente executivo da instituição mutualista, substituindo Tomás Correia, que diz sair «sem pena». Pois… Como dizem os brasileiros: «me engana que eu gosto».

E no twitter, o secretário de Estado dos Assuntos Europeus, Bruno Maçães, polemizou com o economista britânico e ex-consultor de Durão Barroso, Philippe Legrain. Maçães postou um artigo do “The Wall Street Journal” que demonstrava “como os países em crise da zona euro deixaram para trás os seus problemas”, afirmando que Portugal cresceu pela primeira vez sem dívida em 40 anos. Uma resposta imediata surgiu, pelo teclado de Philipe Legrain: “Sim, a economia de Portugal está ainda 7,5% mais pequena que há sete anos. É a isso que chama deixar os problemas para trás?”, rematou. Hoje, ao Diário de Notícias, o economista britânico vai mais longe: «o Governo tentou ser mais alemão que os alemães e foi desastroso».

No desporto, o avançado grego Mitroglou chega hoje. Mas depois de quase um mês a serem relatadas as negociações entre o Sporting e o jogador, eis que ele desembarca na Portela mas … com destino ao Benfica. É a vingança dos encarnados sobre o eterno rival, depois de terem visto Jorge Jesus mudar-se para o outro lado da segunda circular e dos vários reforços que todos os dias enchem as páginas dos jornais desportivos destinados ao Sporting e Futebol Clube do Porto.


Lá fora
Na Grécia, há três temas que ainda separam Atenas das instituições internacionais. São os calendários e a implementação das reformas exigidas pelos credores, os moldes em que decorrerão as privatizações e a recapitalização bancária. Na frente política deverá haver eleições antecipadas no Outono, onde o primeiro-ministro, Alexis Tsipras espera recuperar a maioria no parlamento, que perdeu devido às dissidências no Syriza.

Hoje é uma super quinta-feira no Reino Unido. Há dados económicos e decisões em catadupa ao meio-dia. O Banco de Inglaterra vai divulgar uma avalancha de dados: as atualizações económicas trimestrais, as atas da última reunião do BoE e a sua decisão sobre as taxas de juro, na já chamada "super quinta-feira".

Já se sabe também que o pedaço de asa encontrado na ilha de Reunião pertence mesmo ao voo MH370, que desapareceu há 17 meses, com 239 pessoas a bordo. As dúvidas, no entanto, continuam a ser muitas: porque só apareceu este pedaço de asa do Boeing 777 da Malaysia Airlines até agora? Porque nenhum corpo deu à costa? Pode ser, contudo, que o mistério se tenha começado a deslindar.

Por seu turno, o baixo preço do petróleo continua a afetar os países produtores. A Arábia Saudita está a preparar uma emissão de 27 mil milhões de dólares para colmatar as suas combalidas finanças públicas, revela o Financial Times.

Entretanto, a Netflix anunciou que dará licenças parentais sem limite de tempo aos seus funcionários que sejam pais, por defender que isso os deixa menos angustiados com essa questão e que os torna mais disponíveis e felizes para trabalhar na empresa. Há quem, contudo, considere que isso pode ser uma má ideia para outras companhias, como relata o Washington Post. Também dos Estados Unidos vem uma surpresa: Warren Buffet, o oráculo de Omaha, tem conseguido, ao longo de décadas, bater o desempenho da bolsa norte-americana. Este ano, o 50º à frente da Berkshire Hathaway, não está a consegui-lo. Enquanto o S&P 500 sobe, os títulos da “holding” caem.

E em França François Hollande melhorou a sua popularidade depois da intervenção que teve para desbloquear a crise grega e das suas propostas para a criação de um núcleo duro da zona euro, integrando os países fundadores e a Espanha. A crise de uns é a sorte de outros.

No Mediterrâneo, mais uma tragédia, com o afundamento de um barco de pesca ao largo da Líbia, com cerca de 700 pessoas a bordo. Para já há 25 mortos confirmados, mas há centenas de pessoas desaparecidas.


FRASES"Stewart tornou a vida um pouco mais suportável para milhões", Robert Lloyd, no Los Angeles Times, a propósito de Jon Stewart, que conduz esta noite pela última vez o seu conhecidíssimo programa de humor político e social corrosivo Daily Show. Sobre Stewart, disse Barack Obama: "uma grande dádiva para o nosso país", jornal Público

"Os últimos dados disponibilizados pelo INE dizem-nos que os portugueses estão já a pagar do seu bolso 28% das suas despesas de saúde", José Mário Martins, estomatologista e membro da Associação de Medicina de Proximidade, jornal Público

"O Ministério das Finanças tornou-se um ser omnipotente e omnipresente na sociedade, a viver acima da lei, e a cobrança de impostos, taxas e multas passou a constituir o momento de terror das famílias e das empresas à abertura do correio", Henrique Neto, empresário e candidato presidencial, jornal i

"Recusei um encontro com Richard Gere para manter um compromisso com uma rádio", Dulce Pontes, cantora, ao Diário de Notícias. Pois talvez tenha feito mal, Dulce…

"A culpa não é de Edson", Viriato Soromenho-Marques, jornal Diário de Notícias

"Lenny Kravitz. Pénis à mostra em concerto em Estocolmo", título do Diário de Notícias. O cantor rasgou as calças durante uma atuação na Suécia, mostrou mais do que queria e já apelidou o caso de «penisgate»


O QUE ANDO A LER A E A OUVIR
Se está de férias e se quer apenas divertir recomendo-lhe vivamente os vários volumes de crónicas de Luís Fernando Veríssimo. Uma fazem sorrir, outras rir até às lágrimas. Recomendo em particular «As mentiras que os homens contam» - desde a infância, passando pelo namoro e seguindo pelo casamento - e «O analista de Bajé», com o seu infalível método de cura designado por «joelhaço», ele que se intitula «freudiano de carteirinha» e que andou a criar uma rececionista «que passou do ponto».

Ontem morreu Ana Hatherly, escritora, poeta, artista plástica, romancista e tradutora. Se não conhece a sua obra vale a pena ler alguns dos seus poemas. Deixo um extrato do poema «Príncipe»:

Príncipe:/ Era de noite quando eu bati à tua porta / e na escuridão da tua casa tu vieste abrir / e não me conheceste. / Era de noite / são mil e umas / as noites em que bato à tua porta / e tu vens abrir / e não me reconheces / porque eu jamais bato à tua porta (…)

E porque há outra pessoa talentosíssima que nos deixou há mais de um ano, e era tão jovem, e tinha ainda tanto para dar, recomendo vivamente que comprem e ouçam o CD onde Carlos do Carmo e Bernardo Sassetti recriam algumas das melhores canções nacionais mas também algumas internacionais, que passaram a fazer parte do património da Humanidade.

PS – Permitam-me uma nota pessoal para terminar. Hoje faz 29 anos um emigrante português. Foi um dos muitos que partiu há mais de dois anos porque o país, este país, onde nasceu e que ama, o tratava mal, dando-lhe um emprego precário, a recibo verde, de 800 euros, para trabalhar subcontratado para uma multinacional. É um dos muitos que o primeiro-ministro diz que podem voltar. Não vai ser fácil. Casou com uma americana e trabalha numa empresa tecnológica na Califórnia. Ganha três vezes mais o que lhe pagam aqui e não é subcontratado. Formou-se no Instituto Superior Técnico, é engenheiro eletrotécnico, parte da sua formação foi paga pelos contribuintes portugueses. Faz-me muita falta. Parabéns, filho.

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