Resultados da Sondagem | Considera a inclusão de alunos na educação especial:by Alexandre Henriques |
Como sempre, ficam os resultados e a análise de Paulo Guinote. Obrigado pela vossa colaboração ;)
Incluir, quem, como, quando?
Não
tenho qualquer formação nem Educação Especial, por isso o que vou
escreve é na qualidade de um professor regular que, por diversas
circunstâncias que se tornaram quase norma, tem leccionado a alunos com
diversos problemas de aprendizagem ao longo dos anos, dos que ora são,
ora não são, considerados com necessidades educativas especiais. Sendo
que a minha perspectiva está longe de ser ortodoxa ou uniforme, porque
varia muito com os casos e a capacidade que temos em lidar com eles.
Vou
começar pelo enquadramento geral que, sendo pano que dá para vários
fatos, tentarei circunscrever ao que acho mesmo essencial e que passa
por: despiste precoce, acompanhamento especializado de proximidade
dentro e fora da escola, “desenho” de um currículo adequado a cada caso a
partir de um conjunto de matrizes básicas, avaliação qualitativa,
trabalho em estreita colaboração (sempre que possível) com a família e
outros especialistas fora da escola. O que acho que está pior no
“modelo” e nas suas condições de funcionamento: definição de NEE como
sendo apenas as “permanentes” não a flexibilizando a situações que,
podendo não ser permanentes, necessitam de uma intervenção equivalente,
mesmo se mais curta no tempo; falta de pessoal especializado nas escolas
para acompanhamento de muitas situações (as tais equipas
multidisciplinares que não devem ser confundidas com equipas de
professores de quaisquer disciplinas), as quais estão muito para além da
eficácia no preenchimento da papelada burocrática (por necessária que
seja essa capacidade); desenho de soluções curriculares nem sempre muito
ajustadas ao perfil dos alunos.
O
que significa que, embora ache que a legislação limita excessivamente a
definição de NEE e as afunila num compartimento quase estanque em
relação a outros trajectos curriculares mais regulares, o principal
problema para mim é desde quando e de que forma se procede ao
acompanhamento deste tipo de alunos.
Quanto
a isso, sem qualquer pretensão de magistério sobre o tema ou sequer de
solução milagrosa ou inovadora a generalizar, apenas posso dizer como
oriento o meu trabalho sempre que fico com a responsabilidade de
leccionar Português, Introdução à Informática ou outra área a um grupo,
maior ou menor, de alunos com NEE, como acontece ainda este ano.
Em
primeiro lugar, procuro aperceber-me, com maior ou menor recurso a
papelada anterior de diagnóstico, do perfil de capacidades dos alunos em
causa. Para isso, em regra, deveria ter documentação técnica de boa
qualidade, produzida por quem sabe o que eu não sei. Nem sempre é a
regra, pelo que a abordagem empírica é indispensável, tudo melhorando
quando se trabalha vários anos com os mesmos alunos, em continuidade. O
que também não é sempre a regra por humores administrativos ou outros.
Em seguida, procuro que eles se sintam bem no espaço que partilhamos e
que em muitos casos é o de alunos com características muito diferentes,
personalidades diversas e com perfis de aprendizagem muito
diferenciados. O que transforma a sala numa espécie de patchwork
pedagógico e relacional, em que a maior preocupação não é a transmissão
de conhecimentos e conteúdos, mas sim a exploração de algumas
capacidades a ritmos muito variados. Exemplifico com dois alunos que
tenho, irmãos, com graus diferentes de desempenho na relação com a
informática. Um deles, o mais velho, com imensas dificuldades de
memorização de informação e que não consegue sequer adquirir níveis
mínimos de escrita para além da cópia das letras enquanto desenhos sem
significado para além desse, levou meses até conseguir adquirir as
rotinas funcionais mais básicas de ligar correctamente um equipamento,
reconhecer os ícones a usar para aceder a alguns programas ou à
internet; para fazer pesquisas foi necessário que ele usasse as letras
do teclado como uma espécie de ícones (imagens) a memorizar, associadas a
determinados conteúdos pretendidos. É ilusório pensar que uma hora é,
nestas condições, toda de “trabalho” na acepção limitada de algumas
mentalidades. Realizada uma pequena tarefa a consolidar segue-se uma
maioria de tempo de usufruto do equipamento em actividade lúdica.
Lamento que exista quem não perceba isto, mas acontece. Nem sempre as
formações aceleradas acrescentam sensibilidade a alguma aridez humana. O
outro irmão, mais novo, conseguiu num par de meses fazer tudo isto e
muito mais, já sabendo usar o equipamento (computador) com autonomia que
só esbarra nas dificuldades de escrita, que também tem mas em menor
grau. E já consegue levar cd’s e querer ver filmes que gosta ou copiar
ficheiros. Ajuda o irmão e essa é a maior conquista, associada ao apoio
que uma outra aluna do grupo lhes prestou desde o primeiro momento. De
acordo com uma escala preguiçosa, aprenderam pouca coisa. Na minha
perspectiva, mais preocupada com a forma como eles se sentem na escola e
na sala, há evidentes ganhos, traduzidos na forma como são aceites pelo
resto do pequeno grupo que chega a ter alunos “regulares”, quando estão
sem aulas, bem como pelo modo como parecem estar felizes naquele par de
horas semanais.
Se
isto é “inclusão” ou não, de acordo com definições nacionais ou
cosmopolitas? Não sei. Só sei que eles fazem parte integrante de um
grupo de trabalho tão funcional quanto heterogéneo. Se é este o melhor
método? Sim, para estes casos. Para outros, não sei. Depende. De
experimentarmos. De olharmos para os alunos e vermos os que eles têm lá
dentro em vez de despejarmos sobre eles as nossas teorias ou
formatações.
via com regras...
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