Bom dia, este é o seu Expresso Curto |
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22 de Março de 2016 | ||
Terrorismo: manhã de caos e medo em Bruxelas
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Este Expresso Curto corre o risco de estar desatualizado poucos minutos depois de ser publicado. Quando o comecei a escrever ainda não tinham sido ouvidas as duas explosões que devastaram a zona de partidas do aeroporto de Bruxelas (Zaventem), provocando um número de mortos e feridos ainda indeterminado. E quando o estava a tentar terminar, já tinha havido outra explosão, agora no metro da capital belga, na estação de Maalbeek.
O aeroporto foi imediatamente encerrado, os comboios em direção a Zaventem foram interrompidos e decretado o alerta máximo em todo o país. O encerramento do metro aconteceu poucos minutos depois, numa frenética sucessão de acontecimentos e com a inevitável contagem de mortos e feridos, que depois de várias informações não oficiais, já impressionava: mais de dez mortos e dezenas de feridos, só no aeroporto.
Poucos minutos depois, novos relatos de nova explosão no metro, agora na estação de Schuman, muito perto da sede das instituições europeias. Não é preciso ser um especialista em terrorismo para se perceber que estamos perante uma ação concertada e que tudo acontece poucos dias depois da detenção, em Bruxelas, do principal suspeito do atentado de Paris.
A capital belga está na origem de boa parte dos princiais atentados na Europa nos últimos meses, devido a uma mistura complexa de fatores: fronteiras com vários países, bairros de emigrantes muito fechados, a maior percentagem europeia de nacionais alistados no Estado Islâmico e um sistema policial e de contra-terrorismo que não funciona e que pura e simplesmente não comunica entre si.
As críticas à polícia e aos sistemas de informação belgas são bastante antigas, mas ganharam imensa força na sequência dos atentados de Paris. Os últimos meses têm sido muito complexos para as autoridades belgas, que tiveram extrema dificuldade em reagir aos atentados de Paris e não tinham quaisquer pistas para encontrar o principal suspeito. Este não é o momento para fazer perguntas, mas não é fácil perceber como é que se levam duas bombas - pelo menos - para a zona de partidas de um aeroporto de uma capital europeia, que já estava em alerta terrorista. O atentado no aeroporto terá sido suicida.
Estes ataques surgem na sequência da principal vitória da polícia belga e lançam o caos na capital, mas dada a ação coordenada terão sido preparados muito antes. Os transportes públicos estão parados e a população com medo óbvio de novos atentados. Esperemos que nada mais aconteça, mas o caos e o medo tomaram conta da capital belga. O exército já está na rua e os voos internacionais foram praticamente todos anulados.
OUTRAS NOTÍCIAS
Hoje havia muito por onde começar o Expresso Curto, sobretudo na frente internacional, com a histórica visita de Obama a Cuba e com o histórico processo Lava Jato no Brasil, a ameaçar a Presidete Dilma Roussef de impeachment.
É verdade que a palavra “histórico” deve ser usada de forma comedida em jornalismo (e não só), mas está visto que os dois casos são mesmo… históricos. A visita de Obama não vai mudar Cuba de um dia para o outro nem transformar a política americana da noite para o dia, mas é um facto que poucos acreditavam ser possível.
Nem tudo foram rosas na visita e na conferência de imprensa conjunta, com Raul Castro a ser fortemente pressionado por causa dos presos políticos e Obama a não conseguir dar garantias sobre o fim do embargo comercial dos EUA a Cuba. Com estes grossos grãos de areia na engrenagem, a verdade é que se fez história em Havana e que estas imagens vão ser recordadas por muitos anos, naquilo a que o Expresso chamou “um bacalhau para a história”.
No Brasil, ainda é difícil saber o que vai ou não ficar para a história, além da enorme confusão política e judicial, que ontem mostrou os seus estilhaços políticos nos prejuízos históricos que a Petrobras apresentou (34 mil milhões de reais…) A petrolífera brasileira está na origem do maior escândalo de corrupção do país, que originou a operação Lava Jato e ondas de choque sem fim à vista.
Lula já está em Brasília, onde aterrou sem saber se é ou não ministro e se, claro, pode ou não ser preso. A luta judicial é complexa e joga-se no Supremo, não só por causa da validação da posse de Lula como ministro – em que passaria a ter imunidade – como sobre que instância judicial pode ou não investigar e eventualmente mandar prender o ex-Presidente.
No Senado, a batalha não é menos complexa, com o PT e Dilma Roussef a perderem terreno e apoios todos os dias, transformando a possibilidade de impeachment numa realidade. Não é nada que o Brasil não tenha já visto, com Collor de Melo, mas não deixa de ser uma curiosidade brasileira. As notícias correm tão depressa que aconselho ir espreitando o que se passa ao longo do dia.
Por cá, continua agitada a discussão sobre a interferência do governo no desenho da banca nacional. Entre manifestos anti-Castela e vários jogos de bastidores, o Negócios escreve hoje que Isabel dos Santos é opção para tirar o Estado do BCP. A entrada da empresária angolana no BCP pode eventualmente ocorrer num aumento de capital para reembolsar os "CoCos", ou seja o empréstimo feito pelo Estado.
Neste cenário, o BCP já se poderia posicionar como alternativa para a compra do Novo Banco, vedada a qualquer entidade que tenha no balanço ajudas do Estado. É melhor estar atento a estas movimentações, porque ainda vai mexer muita coisa, entre a vontade do governo, as imposições de Bruxelas, as regras do BCE e força dos principais bancos espanhóis, nada é absolutamente claro.
Ainda na banca, há uma nova polémica com o governador do Banco de Portugal a recusar enviar aos deputados a auditoria feita ao Banco de Portugal. O argumento é simples, a auditoria é sobre o caso BES e a comissão parlamentar versa sobre o Banif, mas já se percebeu que os deputados não vão desistir.
Noutra frente, o procurador Rosário Teixeira tem, em princípio, até hoje para definir quanto tempo ainda precisa para concluir a investigação ao ex-primeiro-ministro José Sócrates e aos outros doze arguidos. A defesa tem-se queixado de estar a ser alvo de uma “tortura lenta”, mas hoje ficará a conhecer, como todos nós, os prazos do nosso processo mais mediático e importante.
A Justiça norte-americana anunciou ontem à noite que encontrou uma solução para desbloquear um iPhone ligado aos atentados de San Bernardino, num surpreendente desenvolvimento de um braço de ferro que opôs o FBI à gigante Apple durante vários meses.
Curiosamente, este anúncio surgiu poucas horas depois do CEO da Apple, Tim Cook, ter anunciado que a empresa se recusava a fornecer ao governo as chaves para desencriptar o telefone, por poder colocar em causa a privacidade de milhões de utilizadores de iPhones.
Já agora, tudo isto correu no dia em que surgiu o iPhone mais barato de sempre, uma versão mais pequena mas aparentemente poderosa e com uma boa câmara. Parece que iPhone SE é sobretudo destinado aos mercados emergentes, mas que vai poder ser comprado em todo o mundo. Tem a mesma capacidade de processamento do iPhone 6S no corpo do iPhone 5S. Em Portugal a versão de 16 GB vai custar 499 euros.
O novo telefone dominou boa parte das conversas nas redes sociais, incluindo o Twitter que fez ontem dez anos, entre a felicidade de ter mais de 320 milhões de utilizadores e o problema de não ter modelo de negócio e de estar a ser ultrapassado pelo Facebook e pelo Snapchat.
Ainda assim, o Twitter continua a ser uma forma extraordinária de sabermos o que se passa no mundo. Foi nesta rede social que todos os gigantes da tecnologia prestaram esta madrugada homenagem a Andy Grove, o ex-CEO da Intel, que morreu aos 79 anos. Tim Cook, Bill Gates e tutti quanti de Silicon Valley recordaram no Twitter a importância de Grove na evolução dos microprocessadores e das transformações tecnológicas das últimas décadas.
FRASES
“Deem-me a lista de nomes de presos políticos. Se houver algum, sai em liberdade”. Raul Castro, Presidente Cubano, na conferência de imprensa conjunta com Obama
“Embargo a Cuba vai acabar, mas nãos ei quando”, Barack Obama na mesma conferência de imprensa
“Não só é legítimo como também é importante que o primeiro-ministro se preocupe com a banca nacional”. Miguel Sousa Tavares, no seu espaço de comentário no Jornal da Noite da SIC
O QUE EU ANDO A LER
Os Emigrantes, de W.G. Sebald, um livro que conta a história de quatro judeus expulsos das suas terras, num processo de reconstrução histórica inimitável. Sebald pega nos casos de Henry Selwyn, Paul Bereyter, Ambros Adelwarth e Max Aurach, que em algum momento das suas vidas se cruzaram com o autor, e percorre as suas biografias, num texto seco e minucioso, entrecortado por fotografias, imagens de objetos ou documentos.
Não será uma leitura que empolgue todos os leitores, mas que esmaga pelo detalhe e pela forma como, através de quatro vidas cruzadas, retrata a Europa e as extremas contradições de uma civilização que permitiu o holocausto e foi quase indiferente a migrações, expulsões e perseguições.
Lido agora, num momento em que a Europa convive com a maior vaga de refugiados desde a Segunda Guerra, este trabalho de um escritor incrivelmente original, que morreu precocemente num acidente de viação em Inglaterra quando o seu nome já era discutido pelo comité Nobel, faz-nos chocar de frente com um passado nada longínquo, de exôdos forçados, fronteiras apagadas e memórias esquecidas, como as de Henry Selwyn:
“À minha pergunta, de onde era ele afinal, contou-me que tinha partido aos sete anos com a sua família de uma aldeia lituana, perto de Grodno. (…) Durante anos as imagens desse exôdo estiveram desaparecidas da sua memória, mas ultimamente, disse ele, voltaram a manifestar-se, reapareceram.”
O livro de Sebald é uma lição poderosa e incómoda para uma Europa que tem extrema dificuldade em lidar com as migrações.
Para leituras mais rápidas e atualizadas tem sempre o Expresso Online e, já com mais tempo, ao fim da tarde chega o Expresso Diário, com notícias em primeira mão, opinião e toda a informação arrumada. O ciclo informativo volta a abrir, amanhã bem cedo, com mais um Expresso Curto.
“Deem-me a lista de nomes de presos políticos. Se houver algum, sai em liberdade”. Raul Castro, Presidente Cubano, na conferência de imprensa conjunta com Obama
“Embargo a Cuba vai acabar, mas nãos ei quando”, Barack Obama na mesma conferência de imprensa
“Não só é legítimo como também é importante que o primeiro-ministro se preocupe com a banca nacional”. Miguel Sousa Tavares, no seu espaço de comentário no Jornal da Noite da SIC
O QUE EU ANDO A LER
Os Emigrantes, de W.G. Sebald, um livro que conta a história de quatro judeus expulsos das suas terras, num processo de reconstrução histórica inimitável. Sebald pega nos casos de Henry Selwyn, Paul Bereyter, Ambros Adelwarth e Max Aurach, que em algum momento das suas vidas se cruzaram com o autor, e percorre as suas biografias, num texto seco e minucioso, entrecortado por fotografias, imagens de objetos ou documentos.
Não será uma leitura que empolgue todos os leitores, mas que esmaga pelo detalhe e pela forma como, através de quatro vidas cruzadas, retrata a Europa e as extremas contradições de uma civilização que permitiu o holocausto e foi quase indiferente a migrações, expulsões e perseguições.
Lido agora, num momento em que a Europa convive com a maior vaga de refugiados desde a Segunda Guerra, este trabalho de um escritor incrivelmente original, que morreu precocemente num acidente de viação em Inglaterra quando o seu nome já era discutido pelo comité Nobel, faz-nos chocar de frente com um passado nada longínquo, de exôdos forçados, fronteiras apagadas e memórias esquecidas, como as de Henry Selwyn:
“À minha pergunta, de onde era ele afinal, contou-me que tinha partido aos sete anos com a sua família de uma aldeia lituana, perto de Grodno. (…) Durante anos as imagens desse exôdo estiveram desaparecidas da sua memória, mas ultimamente, disse ele, voltaram a manifestar-se, reapareceram.”
O livro de Sebald é uma lição poderosa e incómoda para uma Europa que tem extrema dificuldade em lidar com as migrações.
Para leituras mais rápidas e atualizadas tem sempre o Expresso Online e, já com mais tempo, ao fim da tarde chega o Expresso Diário, com notícias em primeira mão, opinião e toda a informação arrumada. O ciclo informativo volta a abrir, amanhã bem cedo, com mais um Expresso Curto.
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