"De um lado estão professores que acham que as provas foram demasiado difíceis, de outro os que aplaudem um aumento da exigência.
Ninguém
se entende sobre de quem é a culpa pelos maus resultados nos exames do
básico e do secundário. As notas revelam uma razia: médias negativas a
Matemática e Português em todos os níveis. O problema é perceber o que
correu mal: alguns apontam o dedo aos enunciados e aos critérios de
classificação, outros dizem que é preciso mais trabalho nas escolas e em
casa.
Exames para bons alunos
Para Ana Vieira Lopes,
da Associação de Professores de Matemática (APM), o grau de dificuldade
das provas justifica a avalanche de chumbos. «As provas do 6.º e 9.º
anos têm demasiados itens difíceis», afirma, explicando que no exame do
9.º ano «42% das questões são de grau de dificuldade elevado» e qualquer
deslize faz um aluno médio chumbar. O mesmo serve para explicar o
descalabro nas notas do 12.º ano, cuja prova era, para Ana Vieira Lopes,
«muito extensa» e difícil.
«As provas têm de ser feitas para
alunos de nível médio. A escola é para todos, não para uma elite»,
defende a professora, que desvaloriza a discrepância entre notas
internas e de exames. «A avaliação feita na escola tem que ver com o
trabalho feito ao longo do ano». Se não fosse assim, diz Ana Vieira
Lopes, «bastava fazer exames». A docente frisa que «os bons resultados
dos alunos portugueses nos testes internacionais» provam que o problema
está nos exames e não nos estudantes.
Mas Miguel Abreu, da
Sociedade Portuguesa de Matemática, (SPM) discorda. Diz não ter ficado
surpreendido com os maus resultados, mas antes satisfeito por haver «uma
evolução no grau de exigência». A única surpresa para Miguel Abreu
foram as baixas classificações no 9.º ano, porque a prova «não foi mais
difícil do que no ano passado e as notas desceram 10%». A SPM diz que
«não há milagres» e que o bom trabalho do Ministério da Educação, «que
estabeleceu metas curriculares no ensino básico» vai demorar a mostrar
resultados. Para Abreu, a única saída é reforçar o ensino da Matemática
no 1.º ciclo, «porque depois é difícil recuperar». E também aí há muito
por fazer: no 4.º ano «menos de 60% tiveram positiva a Matemática».
Para
dar a volta a isso, Miguel Abreu acha que se deve «reforçar a formação
de professores na área científica» e dar ferramentas aos pais. A SPM tem
um projecto para o fazer: «Estamos, com a Fundação PT, a traduzir 200
vídeos da Khan Academy, com conteúdos de Matemática do 1.º ao 12.º ano».
Carlos Portela, da Sociedade Portuguesa de Física, também não
se surpreendeu com os maus resultados. «É uma tendência estrutural»,
comenta, explicando que se trata de uma cadeira difícil que exige boas
bases a Matemática. Para Portela, deve-se «aumentar a exigência,
sobretudo no básico», para que os alunos cheguem ao secundário mais bem
preparados.
Mudanças confundem alunos
A Português, as
opiniões não estão tão divididas sobre as razões das más notas. Para a
Associação de Professores de Português (APP), o problema esteve em
exames demasiado difíceis. No parecer sobre o exame do 9.º ano – que
teve a média mais baixa desde 2005 –, a APP demonstrava «perplexidade»
por haver perguntas de gramática mais complexas do que na prova do 12.º
ano.
Paulo Guinote, autor do blogue A Educação do Meu Umbigo e
professor de Português, aponta a instabilidade nos programas como razão
para as más notas. «Houve um programa novo em 2007, pelo meio e antes de
acabar um ciclo de nove anos, houve metas curriculares em 2010, com
Isabel Alçada, e agora metas com Nuno Crato», enumera, explicando que o
novo Acordo Ortográfico, novos manuais e alterações à gramática vieram
criar ainda mais confusão. «Critérios de classificação cada vez mais
desfasados das práticas pedagógicas das escolas» e que foram mudando
«até à ultima hora», porque os professores não os entendiam, são outras
justificações para a queda dos resultados."
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