sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

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Expresso
Bom dia, já leu o Expresso Curto Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Henrique Monteiro
Hoje por Henrique Monteiro
Redator Principal

 
6 de Fevereiro de 2015
 
Podemos concordar em discordar, ou nem isso?
 
- Pago eu!
- Ora essa, eu é que pago!
- Nem pensar, deixe isso comigo!

Era bom que fosse assim na Europa. Mas não é. A discussão é exatamente a contrária. E, se Tsipras e Varoufakis pareciam poder moderar o seu programa e cair nas graças da Europa, a decisão do BCE e o encontro do último com o ministro das Finanças alemão Wolfgang Schäuble fez as esperanças abanarem. Nem em discordar concordaram. No Expresso Diário, Ricardo Costa explica como o alemão ficou com a razão formal; Pedro Santos Guerreiro, no Expresso Online explica, através da teoria dos jogos, como este é um jogo do cobarde. Para a semana, com a reunião dos ministros das Finanças do Eurogrupo (quarta-feira) e a reunião dos chefes de Governo (no dia seguinte, a primeira de Tsipras, onde de nada lhe vale a retórica que demonstra ter em Atenas ou as manifestações de desagravo na praça Syntagma), o jogo começa a sério.

Mas a Grécia é um dos problemas do mundo. Começamos por aí por um vício de perspetiva. Basta olhar o que se passa na Ucrânia e na irresponsabilidade de uma Rússia que a Europa tarda em compreender. Hollande, Merkel e o secretário de Estado americano John Kerry foram ontem a Kiev tentar uma solução de paz. Hoje estão todos em Moscovo para apresentar a mesma proposta. A situação está a deteriorar-se e não se sabe até que ponto Putin pode ceder. Para já, a guerra voltou à Europa. E a Ucrânia, diz o especialista do FT Philip Stephensé só uma parte do vasto plano de jogo do presidente russo.

O que vai pela Síria e pelo chamado Estado Islâmico e os desejos de vingança da Jordânia que bombardeou furiosamente várias posições do ISIS, é ainda pior. A lei de talião - olho por olho, dente por dente - não é retórica por aquelas bandas.

Ou saber que nos últimos 10 dias houve centenas de crianças libertadas de fábricas na Índia onde trabalhavam em condições desumanas, quase escravas… não tem descrição.

OUTRAS NOTÍCIAS
O Governo chegou a acordo, no final da noite de ontem 
para tratar 12 mil doentes com hepatite C em três anos. O tratamento fica abaixo dos 25 mil euros cada, cerca de metade do preço exigido pela farmacêutica no início das negociações, e a notícia faz a primeira página de vários jornais de hoje. Entretanto, no Expresso Diário publicado às 18 horas de ontem, pode saber quem é o homem, com um caso de hepatite C avançado, que pediu a Paulo Macedo no Parlamento que lhe salvasse a vida. Vai ser um dos salvos por este acordo e disse, esta manhã às televisões que pensa nisto como um milagre. Por outro lado, Jorge Coelho, na Quadratura do Círculo, acusou o Governo de andar a reboque da opinião pública.
Andrés Ortega
, um especialista espanhol, ligado ao Governo, acha que a Grécia tem uma dívida para com Espanha. Talvez Passos, que os intérpretes do Syriza em Lisboa (fazendo lembrar um pouco o universo soviético e os seus partidos-satélites) dizem que é dos mais duros, se reveja nesta posição ibérica.

O preço do petróleo é daquelas variáveis boas (ou más, vá-se lá saber) que ninguém previa. A mais recente derrota das previsões económicas é interessante por isso mesmo. E é notícia porque há 80 anos que os EUA não tinham tantas reservas, diz o Wall Street Journal.

A propósito de petróleo, o escândalo conhecido por ‘petrolão (o maior caso de corrupção no Brasil) levou à demissão da presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster. Tem aqui uma biografia daquela que foi a empresária mais poderosa da América do Sul e que foi posta a andar pela sua amiga Dilma. A propósito de mulheres, que nem sempre são bons exemplos, recorde-se que o procurador argentino encontrado morto tinha, entre os seus papéis, um mandato de detenção da presidente argentina Cristina Fernandez (Kirchner) por ter encoberto uma ação terrorista iraniana contra um centro judaico, nos anos 90. Nas ruas acusa-se a presidente de crime político.

Quem não souber que o livro ‘Não matem a cotovia” (traduções mais recentes intitularam-se “Por favor, não matem a cotovia”, “Mataram a Cotovia” ou “O Sol é para todos”) de Harper Lee, uma senhora hoje com 88 anos, foi um livro tão importante para os direitos civis dos negros como o foi a “A Cabana do Pai Tomás” para a libertação dos escravos no séc. XIX, desconhece o essencial da literatura norte-americana. “To kill a mockingbird”, no original, venceu o Prémio Pullitzer em 1961. A notícia é que foi descoberto outro livro da escritora (ela nunca mais escreveu, este é anterior ao sucesso e o seu original estava perdido). Chama-se Go set a watchman e tem a mesma personagem principal – Scout Finch. É lançado a 14 de Julho.

Selfies contribuem para a piolheira. Pois é põe-se de cabecinha junta com o telemóvel à frente e o piolho aproveita. Eu sei que 92% (estimativa minha) dos jovens já leram esta notícia. Mas ainda assim, aqui a deixo como precaução de uma comichão e outras consequências dispensáveis.

E quanto ganhamos, tendo em conta o salário de Cristiano Ronaldo? Tenho aqui um simulador da BBC que diz que se ganharmos, por exemplo, 5000 euros/mês, o CR7 leva 37 minutos a ganhar tanto como nós numa semana; ou que nós tínhamos de ter começado a trabalhar em 1740 para ganhar o que ele ganha num ano – levamos 275 anos para lá chegar. Experimente, mas não fique invejoso. Afinal ele é um miúdo que fez ontem 30 anos…

FRASES“A Grécia não aceitará mais ordens, sobretudo ordens recebidas por email”, Alexis Tsipras, primeiro-ministro grego referindo-se à decisão do BCE de não aceitar dívida pública grega. O facto de Tsipras dizer “sobretudo por email” não parece indicar que o BCE e outros organismos tenham de voltar ao fax e menos ainda que tenham de enviar alguém a Atenas para dar ordens… mas fica bem dizer.

“O que tem sido a involução das posições do Syriza desde o início da campanha eleitoral até às eleições e das eleições até ao dia de hoje demonstra que temos sido bem avisados em não nos amarrarmos a uma única solução”, António Costa numa entrevista, ontem, ao ‘Público’. A ideia não seria dizer que o PS é um partido involutivo mas por alguma razão Costa evitou a palavra moderação.

"Quantos querem pagar a hipoteca do vizinho?" A pergunta retórica foi de Rick Santelli, um apresentador da cadeia CNBC, em 2009, e agora recuperada pelo NYT para explicar como o perdão da dívida ainda é um assunto explosivo na Europa. Na verdade, quem quer pagar o quê a quem parece ser o ponto crucial.

"Afastei amigas próximas (...) sabia que isso não era bom para mim. Tinha de as consolar, às vezes (...) sei que choravam sem ser à minha beira. Afastei-me disso tudo". Aura Ferreira, in Público.  Aura, 38 anos, venceu um cancro e entende que em parte deve-se à sua convicção e ao seu otimismo. É bom saber que há gente assim.

O QUE EU ANDO A LERLeio a boa reportagem da ‘Visão’ sobre o enigmático Armando Pereira o sócio português da Altice, de que o Martim  Silva já falou aqui ontem. Mas estou cheio de gripe pelo que uso um remédio fabuloso: ler poesia. Não só nos afasta da realidade ranhosa da nossa condição, como nos permite passar o tempo em associações de ideias fantásticas. O meu poeta gripal é Antonio Machado (1875-1939), um andaluz que deu o nome e as letras ao século de ouro da poesia espanhola. Para um português, apesar das boas traduções existentes, é bom lê-lo no original. É um poeta que fala de coisas banais, triviais (caminante no hay camino, se hace camino al andar – Caminhante não há caminho, faz-se caminho a andar), embora com uma sensível profundidade, tão simples que apenas os sábios a conseguem. Olhem estes versos retirados do poema 'Las Moscas'

"Moscas de todas las horas
de infancia y adolescencia,
de mi juventud dorada;
Desta segunda inocencia
Que da en no creer en nada"
(Ou seja, numa tradução minha e não boa: “Moscas de todas as horas / da infância e adolescência / da minha juventude dourada; / Desta segunda inocência / que resulta em não crer em nada”)

Pois são as moscas que mudam, sabemos isso quando já não acreditamos em nada, ou quase. E, ainda assim, não resistimos a uma boa informação, a uma notícia estrondosa. Lá vamos às seis da tarde ver o Expresso Diário e amanhã a edição semanal. Segunda, cedo, o Expresso Curto volta tirado por Pedro Candeias, o nosso especialista em desporto que dissecará o Sporting-Benfica de domingo, único tema que destrona todos os outros da abertura dos noticiários.

Até lá, bom fim de semana

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