sexta-feira, 11 de março de 2016

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Bom dia, já leu o Expresso Curto Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Miguel Cadete
Por Miguel Cadete
Diretor-Adjunto
 
11 de Março de 2016
 
A história do KGB em Lisboa e a lista do Daesh
 

Não há nada como começar o dia a quebrar uma regra. Não é uma notícia de ontem que dá início a este Expresso Curto. Nem sequer uma de hoje. Avanço no calendário e procuro divulgar o que é do dia de amanhã, da edição em papel do Expresso. Trata-se de uma investigação, levada a cabo por Paulo Anunciação, capaz de fazer luz sobre a história mais recente de Portugal.

A presença do KGB em Lisboa poucas vezes terá sido tão detalhada. A importância de Portugal durante os últimos anos da Guerra Fria, tantas vezes menosprezada, nunca terá sido tão clarificada. Segure-se: esta é uma história de espiões.

Em 1992, Vasili Mitrokhin abandonou a Rússia e entregou aos serviços secretos britânicos um enorme acervo de informação que, enquanto arquivista do KGB, foi copiando ao longo de anos. A revelação de parte dessa informação abalou o mundo, pois permitiu identificar espiões do KGB infiltrados nos Estados Unidos da Amárica, no Reino Unido e em muitos outros países. Em Itália, na Índia e em Inglaterra, tiveram lugar comissões parlamentares que descobriram agentes e muitas formas de atuação até então desconhecidas dos serviços de informação da União Soviética. A políticos como Romano Prodi ou Indira Gandhi foram então atribuídas inúmeras ligações ao KGB.

O arquivo Mitrokhin, como ficou conhecido este volumoso corpo de transcrições do arquivista-chefe do KGB, percorre grande parte da história contemporânea, desde o final da I Guerra Mundial até à Perestroika de Gorbachov. Ainda assim, até hoje, muito pouco foi revelado sobre a presença do KGB em Portugal.

Em 1999, chegou às livrarias o primeiro livro escrito a partir deste arquivo, obra assinada pelo próprio Vasili Mitrokhin e por um historiador da Universidade de Cambridge, Christopher Andrew. Ali se encontravam as primeiras revelações do arquivo Mitrokhin ainda que, entre as mil páginas (traduzidas para português um ano depois pela Dom Quixote), sejam esparsas as referências a Portugal.

Meia dúzia de parágrafos que não ocupam mais do que três páginas, denunciavam o estatuto periférico atribuído a Portugal pelos investigadores britânicos. Não eram citados nomes senão os de código, apesar de referências já detalhadas a alguns episódios como a transferência de parte dos arquivos da PIDE para Moscovo, em 1975.

No prefácio, José Pacheco Pereira concluiu sobre o poder desta verdade alcançada através da mentira como é próprio da espionagem, da traição ou da hipocrisia: “os arquivos matam, como Mitrokhin sabia e como Cunhal também certamente sabia”.

Desde novembro, o Expresso mergulhou nestes arquivos, ou na parte deles que se encontra desclassificada, e amanhã traz a público muito mais informação que a Portugal e aos portugueses diz respeito.

Nos anos finais da Guerra Fria, Lisboa transformou-se num inevitável campo de batalha entre o Ocidente e o Bloco do Leste. Depois do 25 de Abril, os comunistas haviam tomado as rédeas do poder e estava em curso o processo de independência das ex-colónias. É nesse cenário que, então instalada no Hotel Tivoli tal como a Embaixada da União Soviética, se movimentou a “rezidentura” do KGB em Lisboa.

De acordo com o arquivo Mitrokhin fica claro que mais de uma dezena de espiões soviéticos, tiveram então a colaboração de líderes do Partido Comunista Português, mas também de vários jornalistas mais ou menos alinhados com os seus propósitos revolucionários. Amanhã, na Revista do Expresso, o arquivo Mitrokhin fala como até hoje não se tinha falado sobre os anos quentes que se seguiram a Abril de 1974.

Pode não haver coincidências, mas foi exatamente durante esta semana, segunda-feira à noite, que se tornou conhecida outra lista que certamente também irá ficar famosa.

Um outro dissidente, desta vez do Daesh, entregou um arquivo com aquilo que se crê serem as fichas detalhadas de 22 mil militantes do erradamente intitulado Estado Islâmico.

Informação preciosa que as autoridades alemãs já consideraram dar indícios de ser autêntica e, portanto, decisiva para desmantelar os grupos e ações terroristas como a que sucedeu em Paris no final de 2015. A documentação foi entregue por um desertor, na Turquia, a um jornalista da Sky News. E há quem considere que esta pode ser a fuga de informação do ano.

A imprensa mundial começa agora a publicar nomes dos guerrilheiros de 51 nacionalidades que se ofereceram ou foram recrutados para as fileiras do Daesh.

Em Portugal, Hugo Franco e Raquel Moreiro, que em março de 2015 publicaram o livro “Os Jiadistas Portugueses” (Lua de Papel), há muito que escrevem nas páginas do Expresso as histórias de Fábio, Angela, Celso e outros portugueses ou luso-descendentes que desde a Linha de Sintra ou dos bairros degradados de Londres partiram para Síria.

Também a reportagem multimédia “Matar e Morrer por Alá” conquistou prémios e mostrou uma realidade que afinal não é assim tão distante.
Hoje podemos saber os seus nomes ou até os seus números de telefone; a morada e os tipos de funções desempenhadas. Mas estaremos mais seguros? Esta lista, como a de Mitrokhin, pode, obviamente, matar.


OUTRAS NOTÍCIAS

Banco Central Europeu desce a taxa de juro para 0%. Mario Draghi vai compra mais dívida e injetar liquidez para que os bancos possam oferecer mais crédito. Foi ontem anunciado que Draghi está longe de se querer ver livre da bazuca: o BCE vai elevar até 80 mil milhões de euros mensais o seu poder de aquisição de ativos financeiros, incluindo agora dívida de empresas não financeiras.

Inédito: nunca o BCE se havia aventurado tantos nos juros negativos. Taxa de -0,4%, para os depósitos no próprio BCE e criação de uma nova linha de crédito para bancos que receberão um pequeno juro pelo dinheiro que sacarem. Objetivo: evitar a recessão e estancar a deflação. A recuperação económica está, porém, cada vez mais longe. Os mercados excitaram-se de início mas os efeitos das medidas de Draghi esfumaram-se pouca horas depois.

E parece que não há um lado bom nesta história: “bancos travam impacto da queda da taxa de juro na prestação da casa”, diz a manchete do “Público”. O “Jornal de Negócios” vai no mesmo sentido: na sua manchete pode ler-se “Banca carrega nas comissões”. “O custo de ter uma conta subiu seis vezes mais que a inflação”.

Fuskushima cinco anos depois. A 11 de março de 2011 um forte terramoto provocou um tsnunami capaz de causar mais de vinte mil mortos e provocar a maior catástrofe nuclear desde Chernobyl. O debate sobre a utilização de energia nuclear voltar a reacender-se. Naoto Kan, primeiro-ministro do Japão à época dos trágicos acontecimentos, agora alinha com o Greenpeace. “Sinto-me responsável e culpado” disse ao “El País”. Ainda há 60 mil pessoas à espera de voltar a casa.

Marcelo vai a Moçambique. Além de Espanha e Vaticano, o PR vai também a Moçambique, lê-se na manchete do “Diário de Notícias”. O aprofundamento das relações com os países da CPLP é um dos objetivos de Marcelo e a convite de Filipe Nyusi, Presidente de Moçambique, estará naquele país, onde o pai foi Governador, já em abril.

Procurador de São Paulo pede prisão preventiva de Lula da Silva. Ex-Presidente do Brasil e do PT foi acusado de ter apresentado uma declaração patrimonial falsa. Lavagem de dinheiro também faz parte da acusação. Dilma também é enrolada pois é criticada por tentar “blindar” o seu antecessor.

Manuel Godinho condenado por corrupção pela terceira vez. Sucateiro que há pouco estava no Brasil foi impedido pelo Tribunal de Aveiro de viajar com tanta facilidade. As medidas de coação foram agravadas e agora há necessidade de se apresentar diariamente na PSP.


FRASES

“A TVI está dominada por uma coligação de serventuários de Sócrates e castelhanos”. Octávio Ribeiro, diretor do “Correio da Manhã”, em entrevista ao jornal “i”

“Ninguém vai para o Facebook dizer aquilo que quer”. Luísa Costa Gomes, escritora, ao “Jornal de Negócios”

“Não me cabe a mim decidir a pena. Mas se alguém toma drogas que melhoram o desempenho e falha o contolo antidoping, então deve ser suspenso”. Andy Murray sobre Maria Sharapova, em entrevista ao “Guardian”

“Porto é futuro”. Marcelo Rebelo de Sousa ao “Jornal de Notícias”, a propósito da sua visita de hoje ao bairro de Cerco. Marcelo é o primeiro PR desde Américo Tomaz a visitar aquele bairro.

“Peço tolerância aos nossos adeptos”. José Peseiro, treinador do FC Porto, no “Record”


O QUE ANDO A LER

Não é tanto para ler; é mais para se ver. Até porque este livro tem mais de meio metro de altura e não é nada cómodo para manusear no comboio ou sequer no sofá. Falo de “A Genealogia do Infante Dom Fernando de Portugal”:

Trata-se da edição fac-similada de um manuscrito muito conhecido que se encontra no Museu Britânico, em Londres, mas que foi recentemehte editada, em 1984, a propósito da XVII Exposição de Arte, Ciência e Cultura.

O original é de Simão Bening e António de Holanda, miniaturistas de grande craveira a operar em Portugal e com atividade registada no século XV. A edição é, creiam-me, garbosa. E a história em torno do seu original também. A ele acorreram “glória e ocaso, esplendor e morte, luz e mistério, beleza ímpar e efemeridade”, como se pode ler logo na introdução.

De ciência certa, sabe-se que o manuscrito da “Genealogia dos Reis de Portugal” foi mandado fazer pelo Infante Dom Fernando, irmão de Dom João II, e que, aquando da sua trágica morte, em 1534 terá passado para o espólio do Rei. Daí terá passado aos Filipes tendo chegado a Londres já no século XIX.

Nele se mostra a genealogia da Casa de Aragão nalgumas das mais belas miniaturas que se conhecem, retrocedendo até ao Velho Testamento e à Árvore de Jessé tal como se pode apreciar na Igreja de São Francisco no Porto.

Por mim, estou estupefacto com o livro – dimensão, qualidade da impressão, cópia assinada, encadernação – mas também pelo excelente preço a que o adquiri num recente leilão.

Tenha um resto de bom dia

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