Bom dia, este é o seu Expresso Curto |
|
||
14 de Março de 2016 | ||
CDS/PP: Os Cristas não cabem num táxi
|
||
Não sabia, mas descobri estes dias que por discurso "à americana" se entende toda a oratória política que foge à política e se apanha ao pessoal. Como a de Assunção Cristas, no sábado à noite, em que falou dela e da sua família, em vésperas de ser eleita presidente do CDS/PP com 95,59% dos votos a favor.
Na manhã seguinte, quando chegou ao lugar onde se fazia o Congresso, em Gondomar, Assunção vinha de braço dado com o marido, Tiago Machado da Graça, e os jornalistas perguntaram-lhe como é que era de política. E ela lá foi à política, com o marido, os quatro filhos (Maria do Mar, Maria da Luz, José Maria e Vicente), e a restante prole a ouvir, sentados e atentos. Não cabiam num SUV familiar, quanto mais num táxi. [O Filipe Santos Costa, que esteve lá, chama-lhe "uma líder muito pop".]
Politicamente, Assunção Cristas definiu quatro metas, e, para as especificar, vou plagiar a Cristina Figueiredo, que também lá esteve: 1), a reforma da segurança social; 2), a revisão da regulação e supervisão por entidades independentes, nomeadamente a alteração do sistema de nomeação do governador do Banco de Portugal; 3), uniformização entre público e privado no que respeita a direitos laborais; 4), definir uma estratégia de apoio às empresas. Em quase cada uma delas, Cristas deu bicadas ao PS e "à máscara de António Costa". Este é o CDS/PP a agir em nome próprio, largando definitivamente o antigo parceiro de coligação.
No meio da azáfama, houve tempo para a despedida de Paulo Portas, que disse a toda a gente que já sabia o que ia fazer ("muita coisa e muita coisa ao mesmo tempo", afirmou à SIC), mas não revelava ainda o quê. E houve tempo, também, para perceber que há um movimento crítico a Cristas no CDS, liderado por Filipe Lobo d'Ávila, que colocou 16 nomes no Conselho Nacional do partido. Filipe Lobo d'Ávila esteve para se candidatar a presidente, mas foi demovido por Nuno Melo, de quem é próximo.
Para o fim, uma notícia e uma piada fácil, de tão óbvia que é: Assunção quer surfar a crista da onda e prepara-se para entrar na corrida às autárquicas, de 2017, por Lisboa. A ambição de Cristas também não cabe num táxi.
OUTRAS NOTÍCIAS
De uma mulher para outra: Angela Merkel viu o seu futuro e o futuro do partido dela afunilarem-se após os primeiros resultados das eleições regionais, na Alemanha. Dos três estados que ontem foram a votos, Merkel e a CDU falharam nos seus objetivos de resgatarem para eles Baden-Württemberg e a Renânia-Palatinado; além disso, vêem-se agora em apuros na Saxónia, onde a extrema direita atingiu valores históricos, os mais altos desde 1945 (acima dos 20%). O partido Alternativa para a Alemanha (AfD) é liderado por Frauke Petry, aqui retratada no El Pais, que disse o seguinte sobre a noite de ontem: "Há problemas fundamentais na Alemanha que nos trouxeram até estes resultados." Não é preciso muito para se perceber quais os problemas de que Petry fala: a crise de refugiados (veja este trabalho multimédia do NYT). Merkel perdeu popularidade porque deixou entrar mais de um milhão de migrantes no seu território. Com eles veio o medo, porque o que não se conhece, teme-se, e o discurso populista do vieram-para-cá-para-roubar-os-nossos-empregos já fez escola ali ao lado, com Marine Le Pen. O futuro do espaço Schengen e, porque não?, da Europa, passa por aqui.
Outra mulher em apuros: Dilma Rousseff tem alguns nomes atrelados ao nome dela, um deles "presidenta", como ela gosta de ser tratada, outro é jararaca, que é uma cobra. A jararaca é da autoria de Lula da Silva, quando garantiu aos críticos que dificilmente enxaguariam Dilma do cargo, a propósito do escândalo Lava Jato que encharcou o PT. "Se tentaram matar a jararaca, não bateram na cabeça, bateram no rabo". A metáfora saiu-lhe mal. Durante as manifestações de ontem, no Brasil, centenas de milhares de pessoas (para os analistas), ou milhões de pessoas (para os organizadores), associaram a palavra jararaca à palavra rua. E cadeia ao nome de Lula. Políticos, atores de novelas e anónimos, juntos, a espalhar o impeachment pelas redes sociais.
Sexista, machista, racista, xenófobo, ultracapitalista, é só escolher uma ou duas destas palavras e juntá-las a considerações capilares, e temos um resumo de Donald Trump pelos olhos de quem o critica. Mas não nos esqueçamos de criativo, porque só alguém com um talento muito peculiar pode pegar numa letra de uma canção de um músico afro-americano, dar-lhe um twist, e servi-la como um poema contra os refugiados sírios. Trump fê-lo, no Iowa, e encerrou um fim de semana de campanha em que os que não gostam dele começaram a mostrá-lo. Com violência.
E violentos foram os ataques terroristas em Ancara e na Costa do Marfim. Têm modus operandi diferentes, um bombista-suicida e um ataque em quadrilha, mas ameaçam a mesma coisa, aquilo que as democracias conquistaram a pulso, que é, simplesmente, o direito a... estar. A estar numa das esplanadas nas Praça de Kizilar (Turquia), ou estar a banhos, em Grand Bassam. Dezenas de vidas foram ceifadas pela morte.
No desporto,
À grande e à francesa, o PSG conquistou a Ligue 1 com uma vitória gorda (9-0, quatro golos de Ibrahimovic). O feito é notável, porque é alcançado a oito jornadas do fim (é um recorde), mas também explicável, porque a equipa da Cidade-Luz está a anos luz de toda a concorrência.
Na Luz, em Lisboa, o Benfica recebe, hoje, o Tondela (20h, BTV1) e em jogo está a liderança do campeonato: se vencer, a equipa de Rui Vitória regressa ao primeiro lugar. No sábado, o Sporting bateu (2-1) o Estoril, na Amoreira, com bis de Slimani; e o FC Porto derrotou o U. Madeira (3-2), no Dragão.
As capas do jornais,
No Correio da Manhã fazem-se contas às piscinas na fronteira entre Portugal e Espanha para atestar o depósito do carro: "Portugueses deixam lá um milhão [de euros] por dia". Está difícil de cumprir o desejo do Ministro da Economia.
No Jornal de Notícias as contas são outras. O número portugueses de férias na Páscoa aumentou, e os destinos são variados, como o Algarve e o Porto, mas também Brasil, Cabo Verde e Caraíbas. Título: "Férias da Páscoa no estrangeiro quase esgotadas."
Continuamos a fazer somas. No Público escreve-se que os "Gastos com assessores do Estado no caso dos Swaps já vão em dez milhões".
Agora, as subtrações. No Diário de Notícias lê-se que "Faculdades, estudantes e médicos querem reduzir vagas". Os estudantes vão pedir ao Governo para que as novas entradas de alunos passe dos 1800 para os 1300.
Nos jornais económicos, há uma entrevista a Francisco Murteira Nabo, no Diário Económico, que diz que o BCP "ficará angolano", e um artigo sobre o BES "mau", no Jornal de Negócios, que será "obrigado a pagar a taxa Sócrates".
FRASES
"Cada vez que o professor parava de falar e esbugalhava os olhos antes de uma grande revelação, o miúdo escangalhava-se a rir; outras vezes, fixava o olhar nos gestos do professor e nem se mexia; na maioria dos casos travava diálogos enigmáticos com a televisão. Quando percebi o efeito que o nosso Presidente tinha no meu bebé, passei a gravar as suas homilias de domingo e a família teve condições reais para crescer. Ao professor Marcelo muito devo, portanto" Inês Teotónio Pereira, sobre os poderes Mary Poppins de Marcelo, no Diário de Notícias.
"Ao contrário da coligação de direita, do BE e do PCP, o PS saiu profundamente derrotado das eleições. O BE não vai descansar enquanto não ocupar o lugar do PS" Sérgio Sousa Pinto, sobre o governo à esquerda, numa entrevista ao Jornal de Notícias.
"Era [Marcelo Rebelo de Sousa] um professor espectacular. No sentido próprio de espectáculo. As pessoas gostavam de ir às aulas mesmo que não tivessem o menor interesse por Direito Administrativo" Pedro Mexia, consultor cultural da Presidência da República, sobre Marcelo Rebelo de Sousa, que também foi seu professor, ao Público.
"Muitos daqueles manifestantes, e nem quero chamar-lhes manifestantes, mas desordeiros, são de Bernie Sanders, quer ele admita ou não. Se não admitir, é porque está a mentir" Donald Trump, à CNN, acusando Bernie Sanders de enviar apoiantes aos seus comícios.
"Acho que ele [Eduardo Barroso] não teve pedalada para mim e como não conseguiu rebater aquilo que eu dizia, atirou a toalha ao chão e abandonou como abandonam os fracos" Pedro Guerra, comentador do Prolongamento, ao Diário de Notícias.
"Cada vez que o professor parava de falar e esbugalhava os olhos antes de uma grande revelação, o miúdo escangalhava-se a rir; outras vezes, fixava o olhar nos gestos do professor e nem se mexia; na maioria dos casos travava diálogos enigmáticos com a televisão. Quando percebi o efeito que o nosso Presidente tinha no meu bebé, passei a gravar as suas homilias de domingo e a família teve condições reais para crescer. Ao professor Marcelo muito devo, portanto" Inês Teotónio Pereira, sobre os poderes Mary Poppins de Marcelo, no Diário de Notícias.
"Ao contrário da coligação de direita, do BE e do PCP, o PS saiu profundamente derrotado das eleições. O BE não vai descansar enquanto não ocupar o lugar do PS" Sérgio Sousa Pinto, sobre o governo à esquerda, numa entrevista ao Jornal de Notícias.
"Era [Marcelo Rebelo de Sousa] um professor espectacular. No sentido próprio de espectáculo. As pessoas gostavam de ir às aulas mesmo que não tivessem o menor interesse por Direito Administrativo" Pedro Mexia, consultor cultural da Presidência da República, sobre Marcelo Rebelo de Sousa, que também foi seu professor, ao Público.
"Muitos daqueles manifestantes, e nem quero chamar-lhes manifestantes, mas desordeiros, são de Bernie Sanders, quer ele admita ou não. Se não admitir, é porque está a mentir" Donald Trump, à CNN, acusando Bernie Sanders de enviar apoiantes aos seus comícios.
"Acho que ele [Eduardo Barroso] não teve pedalada para mim e como não conseguiu rebater aquilo que eu dizia, atirou a toalha ao chão e abandonou como abandonam os fracos" Pedro Guerra, comentador do Prolongamento, ao Diário de Notícias.
O QUE ANDO A LER
Há um tipo que escreve sobre tudo e sobretudo bem quando o tema é futebol, que a mim me interessa mais do que tudo o resto. Chama-se Simon Kuper. Quem tiver tempo e curiosidade, pode espreitá-lo no Finantial Times ou até comprar o livro-bíblia da bola chamado Soccernomics, em que a sorte e o azar são reduzidos a números e estatísticas.
Mas não é do Soccernomics que vos falo; é do Football Against The Enemy, dos idos anos 90, quando Kuper, jornalista em início de carreira, decidiu viajar de um lado ao outro do planeta (22 países) para tentar perceber porque é que o futebol, que é um jogo e tem regras iguais para todos, se joga, por exemplo, de uma forma no Brasil, e de outra em Inglaterra.
Por exemplo, porque são tão complicados de treinar os jogadores holandeses? Kuper diz que lhe dizem que é difícil porque são calvinistas. Quem é que inventou o catenaccio? Helenio Herrera diz a Kuper que foi ele. O que levou Roger Milla a não chegar mais longe? Os franceses eram racistas, confessa-lhe Milla. E porque é que o futebol africano não se impõe em Mundiais? Porque há feitiçaria, muti, crendices.
O Football Against The Enemy é datado, sim, e há partes que a realidade de hoje deixou para trás. Mas é um grande ponto de partida para entender o jogo de agora.
Já agora, bem sei que a Revista E publicou um trabalho incrível do Paulo Anunciação, sobre o KGB e os ficheiros portugueses e que o tema traz à baila o passado nebuloso que foi sempre negado no PCP. Mas - e há sempre um mas - na mesma publicação também está uma história das antigas, de um atentado que destruiu "12 aeronaves, dois helicópteros PUMA, quatro Alouettes III e seis aviões de vários modelos [...]". O que está entre aspas é um excerto do texto "Um tiro na asa da ditadura" do José Pedro Castanheira, que falou com Carlos Coutinho e Raimundo Narciso, dois operacionais do golpe ocorrido em 1971, na base aérea de Tancos. Há um VW carocha, bombas escondidas debaixo de fruta, operações policiais, nomes de código, e trotil. Compre e leia.
Amanhã não terá de pagar nada para receber o seu Expresso Curto, escrito pela Cristina Peres, a nossa germanófila de serviço, que lhe explicará bem melhor do que eu o que quer isto dizer do renascimento da extrema-direita na Alemanha.
Hoje, passe os olhos pelo Expresso, aceda ao Diário, pelas 18h, e, até lá, tenha cuidado e paciência na estrada, sobretudo se viver no Porto e em Matosinhos. É que, pelas 10h, arranca uma manifestação dos produtores dos sectores do leite e da carne, que levará 200 tractores e milhares de pessoas às ruas.
Tenha um bom dia.
Há um tipo que escreve sobre tudo e sobretudo bem quando o tema é futebol, que a mim me interessa mais do que tudo o resto. Chama-se Simon Kuper. Quem tiver tempo e curiosidade, pode espreitá-lo no Finantial Times ou até comprar o livro-bíblia da bola chamado Soccernomics, em que a sorte e o azar são reduzidos a números e estatísticas.
Mas não é do Soccernomics que vos falo; é do Football Against The Enemy, dos idos anos 90, quando Kuper, jornalista em início de carreira, decidiu viajar de um lado ao outro do planeta (22 países) para tentar perceber porque é que o futebol, que é um jogo e tem regras iguais para todos, se joga, por exemplo, de uma forma no Brasil, e de outra em Inglaterra.
Por exemplo, porque são tão complicados de treinar os jogadores holandeses? Kuper diz que lhe dizem que é difícil porque são calvinistas. Quem é que inventou o catenaccio? Helenio Herrera diz a Kuper que foi ele. O que levou Roger Milla a não chegar mais longe? Os franceses eram racistas, confessa-lhe Milla. E porque é que o futebol africano não se impõe em Mundiais? Porque há feitiçaria, muti, crendices.
O Football Against The Enemy é datado, sim, e há partes que a realidade de hoje deixou para trás. Mas é um grande ponto de partida para entender o jogo de agora.
Já agora, bem sei que a Revista E publicou um trabalho incrível do Paulo Anunciação, sobre o KGB e os ficheiros portugueses e que o tema traz à baila o passado nebuloso que foi sempre negado no PCP. Mas - e há sempre um mas - na mesma publicação também está uma história das antigas, de um atentado que destruiu "12 aeronaves, dois helicópteros PUMA, quatro Alouettes III e seis aviões de vários modelos [...]". O que está entre aspas é um excerto do texto "Um tiro na asa da ditadura" do José Pedro Castanheira, que falou com Carlos Coutinho e Raimundo Narciso, dois operacionais do golpe ocorrido em 1971, na base aérea de Tancos. Há um VW carocha, bombas escondidas debaixo de fruta, operações policiais, nomes de código, e trotil. Compre e leia.
Amanhã não terá de pagar nada para receber o seu Expresso Curto, escrito pela Cristina Peres, a nossa germanófila de serviço, que lhe explicará bem melhor do que eu o que quer isto dizer do renascimento da extrema-direita na Alemanha.
Hoje, passe os olhos pelo Expresso, aceda ao Diário, pelas 18h, e, até lá, tenha cuidado e paciência na estrada, sobretudo se viver no Porto e em Matosinhos. É que, pelas 10h, arranca uma manifestação dos produtores dos sectores do leite e da carne, que levará 200 tractores e milhares de pessoas às ruas.
Tenha um bom dia.
via mensagem do expresso...
Sem comentários:
Enviar um comentário