Resultados da Sondagem | Acha aceitável um professor dar uma palmada a um aluno?by Alexandre Henriques |
Ficam os resultados da maior sondagem ComRegras até à data e a análise do Paulo Guinote.
A Palmada Pedagógica
Há
um par de semanas, em Tondela, assisti a duas conferências de dois
psicólogos, Javier Urra e Paulo Sargento, que trataram temas próximos
deste, com perspectivas que considero algo diferentes, apesar das visões
serem, pelo menos em teoria, próximas na defesa da necessidade de
traçar limites às crianças e as fazer perceber os limites para as suas
acções e o que está errado. No caso, estava mais em questão o papel dos
pais e a sua relação com os filhos. No entanto, Paulo Sargento usou
aquela estratégia típica de procurar provocar a audiência com uma
questão polémica – “quem concorda com a palmada pedagógica?” -
encorajando a resposta sincera, como se nenhuma fosse criticável e
incentivando mesmo que as pessoas assumissem o “sim”, para depois
dizer-lhes que estão erradas e que “palmada” e “pedagógica” são palavras
nunca podem estar juntas na mesma expressão.
Eu discordo.
Como
pai. Como pai, acho que numa fase inicial da vida a aprendizagem de
alguns limites e fronteiras com o perigo nem sempre se consegue fazer
com argumentos racionais, explicações carinhosas. Algumas vezes, o
perigo e a urgência exigem algo mais, mesmo que politicamente
incorrecto. Em termos biológicos, a dor é sinal que algo está errado no
corpo. Não defendo a dor extrema, sequer grave, mas a tal “palmada” é
“pedagógica” exactamente quando funciona como “aviso” apropriado, sem
excessos na intensidade e muito menos na frequência. Seria um mentiroso e
hipócrita se afirmasse que a não usei. E com resultados práticos, quase
apagados da memória de quem a recebeu, mas que conduziram a alteração
de condutas. Claro que poderá existir quem queira daqui extrapolar que
eu defendo qualquer princípio fundamental relacionado com o valor da
violência física, mas não é disso que estou a falar.
Agora como professor.
Não
aceito que a aprendizagem seja feita sob coacção física ou que o erro
seja corrigido na base da palmatória como foi prática dominante durante
muito tempo. A aprendizagem forçada pelo medo até pode funcionar mas
assisti demasiado de perto, enquanto aluno, aos bloqueios criados pelo
terror da reguada por erro ortográfico. Barbaridades que nada tinham de
pedagógico. Há gente que nunca deveria ter podido continuar a dar aulas
depois do que fez. Mas provavelmente tornaram-se mentoras, orientadoras
de estágio, gente com prestígio e sabedoria para dar e vender.
Dito
isto, não posso deixar de afirmar que uma coisa é usar coacção e
violência física para “ensinar”, o que é completamente inaceitável e
outra é estar-se completamente indefes@ perante agressões continuadas,
de desrespeito e provocação verbal até à própria ameaça e coacção
física, como acontece com mais docentes do que linhas SOS registam
quando alguma organização precisa de anunciar qualquer coisa para a
comunicação social. Aqui não se trata de qualquer relação com pedagogia
mas apenas de auto-defesa, sobrevivência pura.
Palmada pedagógica? Não.
Cívica? Talvez.
Se isto responde à questão da sondagem desta semana? Provavelmente, não.
Sem comentários:
Enviar um comentário