terça-feira, 17 de junho de 2014

para completar a ideia...


no público...

"Cada vez que saía um aluno da Escola Pedro Nunes, em Lisboa, o comentário era o mesmo: “Não saiu nada d’Os Lusíadas nem do Auto da Barca do Inferno!” O exame nacional de Português do 9.º ano surpreendeu os alunos pela “facilidade” e pelos textos escolhidos. Na prova, saiu um excerto de uma entrevista ao escritor Mário de Carvalho e um outro texto retirado do livro Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.

A maioria desconhecia os escritores Machado de Assis e Mário de Carvalho e alguns até misturavam o nome deste autor com o do jornalista Carlos Vaz Marques que assina a entrevista. Muitos nunca tinham ouvido falar de Carlos Vaz Marques, de Mário de Carvalho ou de Machado de Assis, mas respiraram de alívio por não ter saído Camões nem Gil Vicente. “Foi facílimo”, diz Francisco, de 15 anos, que não precisou da meia hora de tolerância e saiu da sala às 11h.

Se antes de entrarem para o exame, por volta das 9h, muitos estavam nervosos, no fim da prova, à porta da Escola Secundária com 3.º ciclo do ensino básico de Pedro Nunes, já não havia qualquer ansiedade. “Não saiu nada d’Os Lusíadas nem do Gil Vicente como estava à espera. Não estudei nada de especial, mas tinha receio d’Os Lusíadas”, admite Francisco, aluno de três, numa escala de notas que vai até cinco.

Ao lado, José, 14 anos, concorda que o exame foi “muito fácil”: “Correu bem. Tenho três de nota final de período, mas acho que no exame vou ter quatro. Estudei mais ou menos, neste fim-de-semana por exemplo não estudei, estava de férias na Comporta”, admite.

Se, antes de entrar para a prova, Madalena, aluna de 16 anos que já reprovou uma vez, estava nervosa e a acreditar que o exame iria ser “difícil”, no final estava surpreendida e aliviada: “Foi tão fácil! Nada de Lusíadas, nada de Gil Vicente. A gramática também foi fácil”, diz a adolescente.

Na prova, saiu uma entrevista de Carlos Vaz Marques ao escritor Mário de Carvalho e ainda um excerto de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Madalena só tinha ouvido falar vagamente de Mário de Carvalho, através de um professor de História, mas naquele momento o que mais lhe importava era achar que tinha respondido de forma acertada às perguntas colocadas: “O primeiro texto [entrevista de Carlos Vaz Marques a Mário de Carvalho] era facílimo e, nessa parte, de escolha múltipla, acho que acertei tudo. O segundo texto [excerto de Memórias Póstumas de Brás Cubas], de interpretação, já tinha de se pensar mais, demorei algum tempo, mas também se fazia”, acrescenta. Só a composição, em que era pedido que escrevessem sobre a função que o humor deve ter na sociedade, é que a jovem achou “mais difícil”, pelo limite de palavras imposto – mínimo de 180 e máximo de 240. Apesar de ser aluna de três, Madalena não afasta a hipótese de ter nota máxima na prova. “Espero ter um quatro, mas se tiver um cinco…”, diz, entre risos.

Os nomes que estavam no enunciado eram estranhos para a maioria. Muitos dos alunos nunca tinham ouvido falar dos escritores Machado de Assis e Mário de Carvalho - nem do jornalista Carlos Vaz Marques, que assina a entrevista -, alguns até trocavam os nomes e diziam que tinha saído Mário Vaz de Carvalho. “Não sou muito de ler, não gosto”, justifica Tomás, de 16 anos, que também achou o exame “fácil”. Na composição, relacionou humor e política. “Falei daqueles programas a gozar com os políticos”, explica o aluno, que já reprovou uma vez.

João, também de 16 anos, entra na conversa e diz que, na composição, defendeu a ideia de que o humor “não é bem aceite na sociedade”. “Quando fazemos piadas sobre os outros, os outros não gostam e nós também não gostamos que façam piadas sobre nós”, precisa. Nesta parte do exame, o desafio era que a partir da frase “O humor pode ser usado não só para criar momentos de divertimento, como também para criticar o que se considera errado na sociedade” escrevessem um texto no qual expressassem uma opinião sobre o papel que o humor deve ter na sociedade.

Mariana, 15 anos, saiu radiante da prova, mas também zangada porque os professores a puseram demasiado nervosa com o exame, quando ele foi “tão fácil”. “Os professores assustam-nos, dizem que é sempre difícil, que se não estudarmos não passamos… Nós fartámo-nos de estudar e, depois, mais de metade da matéria não sai”, desabafa a adolescente, que não teve explicações para se preparar. Estudou sozinha e, nos últimos três dias, quatro horas diárias. “Fazia apontamentos, lia os do professor", diz, sem dúvidas de que vai passar e manter o três que tem."


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