Bom dia, este é o seu Expresso Curto |
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1 de Março de 2016 | ||
Mr. Trump goes to Washington?
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Roubo o título a um grande filme de Frank Capra, de 1939. Em Portugal estreou como Peço a Palavra, mas ainda hoje esse filme político protagonizado por James Stewart e Jean Arthur é famoso pelo título original, que leva um improvável cidadão ao Senado dos EUA.
Mr. Smith Goes to Washington merece ser visto em qualquer altura e é uma boa introdução à política americana, aos seus truques e movimentos imprevisíveis, e que hoje pode viver um dia inesperado caso Donald Trump consiga dar um passo sólido na corrida à nomeação presidencial pelo Partido Republicano.
Hoje é a chamada superterça-feira, mais conhecida pelo título original de Super Tuesday. É uma espécie de terça-feira gorda, um dia em que treze estados dos EUA mais o território da Samoa Americana votam nas primárias, distribuindo 1460 delegados, 865 democratas e 595 republicanos.
Ótimo, e o que é que isto tudo tem a ver connosco? Tudo. E se a pergunta fosse feita por um leitor espanhol ou alemão, albanês, nigeriano ou uruguaio, a resposta seria a mesma. Porque o que faz todos termos a ver com o que se passa nesta supre terça-feira, é que hoje a maior potência mundial pode mesmo ver Donald Trump dar um passo definitivo para a nomeação pelo Partido Republicano, caso consiga vencer hoje na maioria dos Estados.
Do lado democrata, Hillary Clinton está bem lançada, depois da última vitória sobre o supreendente Bernie Sanders. Mas do lado republicano, o espanto é enorme, com Trump a esmagar todas as previsões de analistas, apostadores, políticos e todo o tipo de especialistas em previsões. Há uns meses ninguém achava que Trump pudesse chegar à super terça-feira em posição de vencer. Mas chegou e chegou forte, com uma base eleitoral crescente.
Trump desafia quase todos os princípios políticos. Qualquer dos seus adversários não teria sobrevivido a metade das gaffes que ele cometeu. Só que ele é Trump e para Trump as gaffes não são mais que um momento para aproveitar, seja para mudar o discurso seja para o repetir. Ainda nos últimos dias fez um tweet com uma célebre frase de Mussolini e recusou-se a condenar o Ku Klux Klan.
Trump representa a raiva do blue-collar americano, sobretudo masculino, homens que acham que o “sistema” lhes roubou um futuro decente e que se prepara para fazer o mesmo aos seus filhos. E esse movimento não precisa de ter um corpus teórico, uma fundamentação religiosa ou um modelo económico. Precisa apenas de ter um rosto. E tem-no em Trump.
Mr. Trump goes to Washington? Esta noite já vemos o que temos pela frente, num dos mais incríveis, curiosos e inesperados movimentos políticos dos EUA em décadas.
Mr. Smith Goes to Washington merece ser visto em qualquer altura e é uma boa introdução à política americana, aos seus truques e movimentos imprevisíveis, e que hoje pode viver um dia inesperado caso Donald Trump consiga dar um passo sólido na corrida à nomeação presidencial pelo Partido Republicano.
Hoje é a chamada superterça-feira, mais conhecida pelo título original de Super Tuesday. É uma espécie de terça-feira gorda, um dia em que treze estados dos EUA mais o território da Samoa Americana votam nas primárias, distribuindo 1460 delegados, 865 democratas e 595 republicanos.
Ótimo, e o que é que isto tudo tem a ver connosco? Tudo. E se a pergunta fosse feita por um leitor espanhol ou alemão, albanês, nigeriano ou uruguaio, a resposta seria a mesma. Porque o que faz todos termos a ver com o que se passa nesta supre terça-feira, é que hoje a maior potência mundial pode mesmo ver Donald Trump dar um passo definitivo para a nomeação pelo Partido Republicano, caso consiga vencer hoje na maioria dos Estados.
Do lado democrata, Hillary Clinton está bem lançada, depois da última vitória sobre o supreendente Bernie Sanders. Mas do lado republicano, o espanto é enorme, com Trump a esmagar todas as previsões de analistas, apostadores, políticos e todo o tipo de especialistas em previsões. Há uns meses ninguém achava que Trump pudesse chegar à super terça-feira em posição de vencer. Mas chegou e chegou forte, com uma base eleitoral crescente.
Trump desafia quase todos os princípios políticos. Qualquer dos seus adversários não teria sobrevivido a metade das gaffes que ele cometeu. Só que ele é Trump e para Trump as gaffes não são mais que um momento para aproveitar, seja para mudar o discurso seja para o repetir. Ainda nos últimos dias fez um tweet com uma célebre frase de Mussolini e recusou-se a condenar o Ku Klux Klan.
Trump representa a raiva do blue-collar americano, sobretudo masculino, homens que acham que o “sistema” lhes roubou um futuro decente e que se prepara para fazer o mesmo aos seus filhos. E esse movimento não precisa de ter um corpus teórico, uma fundamentação religiosa ou um modelo económico. Precisa apenas de ter um rosto. E tem-no em Trump.
Mr. Trump goes to Washington? Esta noite já vemos o que temos pela frente, num dos mais incríveis, curiosos e inesperados movimentos políticos dos EUA em décadas.
OUTRAS NOTÍCIAS
João Soares levou a sua avante e demitiu António Lamas da presidência do CCB, num processo público bizarro, conduzido na praça pública. O escolhido para o lugar é Elísio Sumavielle, um especialista na gestão de património e colaborador de longa data do ministro da Cultura. João Soares tinha ameaçado Lamas de que o exonerava até ontem se este não se demitisse. E assim foi. Não era preciso era ter sido tudo à nossa frente. Se moda pega na administração pública, mais ninguém vê telenovelas.
A polémica sobre a eutanásia continua lançada, depois de umas dúbias declarações da bastonária dos enfermeiros. Agora, a Justiça abriu um inquérito, vai ter que ouvir a bastonária e a Ordem dos Médicos também já teve que vir dizer que desconhece o caso de um médico que terá ajudado um amigo a morrer. Posso estar enganado, mas a investigação vai dar em nada e continuamos sem discutir o essencial num debate muito complexo e sério.
A taxas nos aeroportos em Portugal já subiram nove vezes desde a privatização da ANA, diz o JN em título esta manhã. O Aumento desde 2013 é de 20%, mas a entidade gestora garante que os valores continuam abaixo da média europeia. O que em bom português quer dizer que estarão previstos mais uns ajustamentos para este ano.
O Jornal de Negócios escolhe para manchete as ameaças do BCE ao português BPI, lembrando que o banco português pode ter que pagar uma multa diária se não resolver o problema que tem com Angola até dia 10 de Abril. As soluções para que o peso da operação angolana seja contabilizada de forma diferente no banco são várias, mas os acionistas estão divididos, com a administração e os espanhóis do La Caixa de um lado e Isabel dos Santos do outro. O relógio está a contar e 10 de abril é já ali…
No Económico, o destaque vai para o facto de o crescimento do último trimestre de 2015 mostrar, uma vez mais, sinais preocupantes no investimento. O consumo privado e as exportações ajudaram, mas a dinâmica de investimento continua preocupante e põe em causa as previsões otimistas de 2016.
Em Espanha, o líder do PSOE prepara-se para o debate de investidura, mas está longe de ter os apoios necessários. O Podemos recusa apoiá-lo e assim vamos assistir a um processo de investidura que antes de o ser já o não era. Para quem acha a política portuguesa meio louca (e é um pouco), a espanhola merece uns minutos de atenção. As eleições foram em 20 de dezembro e ninguém faz a mínima ideia de qual vai ser o governo.
A tensão no campo de refugiados de Callais, no norte de França, está ao rubro, depois de a polícia ter começado a desmantelar várias barracas ilegais. Este campo é o maior em território francês, onde milhares de refugiados e migrantes se amontoam tentando atravessar o Canal da Mancha e chegar ao Reino Unido.
Na fronteira da Macedónia com a Grécia as coisas não estão mais calmas, com disparos de gás lacrimogéneo, depois de milhares de refugiados estarem a chegar a esta zona e de muitos países europeus ameaçarem fechar fronteiras, colocando Atenas numa situação impossível. A Grécia recebe todos os dias dois mil refugiados e só consegue albergar em condições 70 mil.
Enquanto isso, as movimentações europeias são intensas, mas não se percebe que tipo de política comum pode ser seguida, num momento em que a ONU prevê a chegada de mais um milhão de refugiados a solo europeu este ano. Sem uma estratégia comum, de contenção na Turquia, distribuição territorial pelo continente e, nalguns casos, de eventual repatriamento, a situação é ingerível e já está a ameaçar a popularidade de Angela Merkel, que tem sido extremamente corajosa neste processo, recusando fechar as portas a refugiados de guerra, um princípio asilar da União Europeia.
A noite futebolística deu vida acrescida ao dérbi do próximo sábado, depois do Sporting ter empatado em Guimarães e de o Benfica ter ganho em casa ao Uniao da Madeira. As duas equipas estão agora separadas por apenas um ponto.
João Soares levou a sua avante e demitiu António Lamas da presidência do CCB, num processo público bizarro, conduzido na praça pública. O escolhido para o lugar é Elísio Sumavielle, um especialista na gestão de património e colaborador de longa data do ministro da Cultura. João Soares tinha ameaçado Lamas de que o exonerava até ontem se este não se demitisse. E assim foi. Não era preciso era ter sido tudo à nossa frente. Se moda pega na administração pública, mais ninguém vê telenovelas.
A polémica sobre a eutanásia continua lançada, depois de umas dúbias declarações da bastonária dos enfermeiros. Agora, a Justiça abriu um inquérito, vai ter que ouvir a bastonária e a Ordem dos Médicos também já teve que vir dizer que desconhece o caso de um médico que terá ajudado um amigo a morrer. Posso estar enganado, mas a investigação vai dar em nada e continuamos sem discutir o essencial num debate muito complexo e sério.
A taxas nos aeroportos em Portugal já subiram nove vezes desde a privatização da ANA, diz o JN em título esta manhã. O Aumento desde 2013 é de 20%, mas a entidade gestora garante que os valores continuam abaixo da média europeia. O que em bom português quer dizer que estarão previstos mais uns ajustamentos para este ano.
O Jornal de Negócios escolhe para manchete as ameaças do BCE ao português BPI, lembrando que o banco português pode ter que pagar uma multa diária se não resolver o problema que tem com Angola até dia 10 de Abril. As soluções para que o peso da operação angolana seja contabilizada de forma diferente no banco são várias, mas os acionistas estão divididos, com a administração e os espanhóis do La Caixa de um lado e Isabel dos Santos do outro. O relógio está a contar e 10 de abril é já ali…
No Económico, o destaque vai para o facto de o crescimento do último trimestre de 2015 mostrar, uma vez mais, sinais preocupantes no investimento. O consumo privado e as exportações ajudaram, mas a dinâmica de investimento continua preocupante e põe em causa as previsões otimistas de 2016.
Em Espanha, o líder do PSOE prepara-se para o debate de investidura, mas está longe de ter os apoios necessários. O Podemos recusa apoiá-lo e assim vamos assistir a um processo de investidura que antes de o ser já o não era. Para quem acha a política portuguesa meio louca (e é um pouco), a espanhola merece uns minutos de atenção. As eleições foram em 20 de dezembro e ninguém faz a mínima ideia de qual vai ser o governo.
A tensão no campo de refugiados de Callais, no norte de França, está ao rubro, depois de a polícia ter começado a desmantelar várias barracas ilegais. Este campo é o maior em território francês, onde milhares de refugiados e migrantes se amontoam tentando atravessar o Canal da Mancha e chegar ao Reino Unido.
Na fronteira da Macedónia com a Grécia as coisas não estão mais calmas, com disparos de gás lacrimogéneo, depois de milhares de refugiados estarem a chegar a esta zona e de muitos países europeus ameaçarem fechar fronteiras, colocando Atenas numa situação impossível. A Grécia recebe todos os dias dois mil refugiados e só consegue albergar em condições 70 mil.
Enquanto isso, as movimentações europeias são intensas, mas não se percebe que tipo de política comum pode ser seguida, num momento em que a ONU prevê a chegada de mais um milhão de refugiados a solo europeu este ano. Sem uma estratégia comum, de contenção na Turquia, distribuição territorial pelo continente e, nalguns casos, de eventual repatriamento, a situação é ingerível e já está a ameaçar a popularidade de Angela Merkel, que tem sido extremamente corajosa neste processo, recusando fechar as portas a refugiados de guerra, um princípio asilar da União Europeia.
A noite futebolística deu vida acrescida ao dérbi do próximo sábado, depois do Sporting ter empatado em Guimarães e de o Benfica ter ganho em casa ao Uniao da Madeira. As duas equipas estão agora separadas por apenas um ponto.
FRASES
“Dei-lhe uns dias para arrumar as coisas”. João Soares, ministro da Cultura, depois de demitir António Lamas
“Até 9 de março não acho nada”. Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da República eleito, recusando-se a comentar o que quer que seja
“O desemprego permanece como uma das dificuldades mais sérias no país”. Vieira da Silva, ministro da Segurança Social, depois de saber que a taxa de desemprego se manteve em janeiro nos 12,2%, inalterada face aos dois meses anteriores
“A sociedade portuguesa não está preparada para este debate”. Miguel Sousa Tavares, no seu habitual espaço de comentário na SIC, sobre a polémica em torno da eutanásia
“Dei-lhe uns dias para arrumar as coisas”. João Soares, ministro da Cultura, depois de demitir António Lamas
“Até 9 de março não acho nada”. Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da República eleito, recusando-se a comentar o que quer que seja
“O desemprego permanece como uma das dificuldades mais sérias no país”. Vieira da Silva, ministro da Segurança Social, depois de saber que a taxa de desemprego se manteve em janeiro nos 12,2%, inalterada face aos dois meses anteriores
“A sociedade portuguesa não está preparada para este debate”. Miguel Sousa Tavares, no seu habitual espaço de comentário na SIC, sobre a polémica em torno da eutanásia
O QUE EU ANDO A LER
Já aqui foi referido pelo Nicolau Santos, mas calhou estar a ler e a gostar muito de O Torcicologologista, excelência de Gonçalo M. Tavares. É um livro de diálogos, mais de 260 páginas de personagens sem nome mas com muito para dizer e nos fazer pensar. Gonçalo M. Tavares é um dos escritores portugueses mais originais e prolíferos, com um universo inimitável, um Atlas que é só seu. E nosso, porque o podemos ler.
Na sua obra há os dez livros da série O Bairro, dois de Cidades, quatro de O Reino, três da Enciclopédia e um Atlas. Essa teia literária, a que o autor chama Cadernos, vai por aí fora, numa geometria variável, em que este “Torcicologologista” inaugura os Diálogos.
São capítulos, perdão, diálogos curtos, num exercício de lógica levada ao extremo, muitas vezes a roçar o absurdo mas em que todos os elementos isolados fazem sentido, como se as frases fossem construções matemáticas. Gonçalo M. Tavares escreve naquela zona em que a lógica cruza a matemática e a filosofia da linguagem e faz com isso boa literatura, o que não é nada fácil, mas é muito bom.
(…)
- Um homem está numa cidade e orienta-se pelo mapa de outra cidade.
- Sim?
- E esta é uma forma original de estar perdido: orientamo-nos por um mapa, de um modo escrupuloso e sem desvios…
- Isso!
- … porém o mapa é errado. É de uma cidade que está no outro lado do mundo. Penso que quem andar assim pelas cidades descobrirá os mais fabulosos recantos e segredos...
- Eis, pois, uma recomendação de Vossa Excelência: utilizar, por exemplo, o mapa de Atenas em Berlim. É isso?
- Exato. Só assim se encontrará o que ninguém encontra. (…)
No Expresso Online pode encontrar notícias atualizadas ao longo de todo o dia, ao fim da tarde temos pronto o Expresso Diário e amanhã bem cedo chega o Expresso Curto com todas as novidades da Super Tuesday e tudo o que mais houver. Bom dia e tenha uma super terça-feira.
Já aqui foi referido pelo Nicolau Santos, mas calhou estar a ler e a gostar muito de O Torcicologologista, excelência de Gonçalo M. Tavares. É um livro de diálogos, mais de 260 páginas de personagens sem nome mas com muito para dizer e nos fazer pensar. Gonçalo M. Tavares é um dos escritores portugueses mais originais e prolíferos, com um universo inimitável, um Atlas que é só seu. E nosso, porque o podemos ler.
Na sua obra há os dez livros da série O Bairro, dois de Cidades, quatro de O Reino, três da Enciclopédia e um Atlas. Essa teia literária, a que o autor chama Cadernos, vai por aí fora, numa geometria variável, em que este “Torcicologologista” inaugura os Diálogos.
São capítulos, perdão, diálogos curtos, num exercício de lógica levada ao extremo, muitas vezes a roçar o absurdo mas em que todos os elementos isolados fazem sentido, como se as frases fossem construções matemáticas. Gonçalo M. Tavares escreve naquela zona em que a lógica cruza a matemática e a filosofia da linguagem e faz com isso boa literatura, o que não é nada fácil, mas é muito bom.
(…)
- Um homem está numa cidade e orienta-se pelo mapa de outra cidade.
- Sim?
- E esta é uma forma original de estar perdido: orientamo-nos por um mapa, de um modo escrupuloso e sem desvios…
- Isso!
- … porém o mapa é errado. É de uma cidade que está no outro lado do mundo. Penso que quem andar assim pelas cidades descobrirá os mais fabulosos recantos e segredos...
- Eis, pois, uma recomendação de Vossa Excelência: utilizar, por exemplo, o mapa de Atenas em Berlim. É isso?
- Exato. Só assim se encontrará o que ninguém encontra. (…)
No Expresso Online pode encontrar notícias atualizadas ao longo de todo o dia, ao fim da tarde temos pronto o Expresso Diário e amanhã bem cedo chega o Expresso Curto com todas as novidades da Super Tuesday e tudo o que mais houver. Bom dia e tenha uma super terça-feira.
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