quinta-feira, 3 de março de 2016

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Bom dia, já leu o Expresso Curto Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Ricardo Marques
Por Ricardo Marques
Jornalista
 
3 de Março de 2016
 
Uma palavra simples
 


Ar. Não há palavra mais simples. Mas nessa simplicidade cabe um mar de histórias.

Ar pode ser apenas o ar que está por todo o lado, pode ser o ar lá em cima, onde voam os aviões, e pode ser o ar que por vezes nos falta.

Ar é também o símbolo químico do argón - elemento gasoso, inerte e não metálico - descoberto em 1894 pelo físico inglês John William Strutt. Onze anos antes de chegar ao Ar, Strutt, que tem o seu nome em crateras na Lua e em Marte, avançara uma outra ideia, a do voo perpétuo. Inspirado pelos pelicanos, que graças ao modo como aproveitavam o vento conseguiam permanecer no ar sem bater as asas, admitiu a hipótese de o mesmo poder ser feito com um aparelho construído pelo homem. Um avião que nunca aterraria.

Lembrei-me de tudo isto, de Strutt e do Ar e dos pelicanos, por causa de um bocado de metal encontrado há dias numa língua de areia ao largo de Vilanculos, em Moçambique, pelo capitão de um barco contratado por um advogado americano que anda há meses, por conta própria, à procura de um avião que levantou voo e desapareceu no ar. Presumivelmente no mar.

Lembrei-me, também por isso, do primeiro parágrafo de uma notícia que escrevi para o Expresso em Março de 2015.

"Há um ano escreveu-se neste jornal que a história do voo MH370 não tinha meio nem fim. Apenas um início, e era algo como isto: um avião com 239 pessoas a bordo deixou Kuala Lumpur, na Malásia, com destino a Pequim às 00h41 de 8 de março de 2014. Vinte e seis minutos depois, o ACAR (sistema de comunicação que transmite dados sobre a aeronave) foi desligado manualmente e uma voz no cockpit comunicou para terra. "Tudo bem. Boa noite." Passam outros quinze minutos até o sistema que transmite a localização e altitude deixar de emitir. Os radares militares conseguem captar o Boeing 777 às 02h15 e um satélite apanhou-o às 08h11. O silêncio que se seguiu dura até hoje"

Sim, já passaram dois anos desde o último sinal do voo MH370. Foi a 8 de março de 2014. E é aqui que nos falta ar.

Há ainda um longo caminho pela frente: é preciso saber se o tal pedaço de metal pertence ao voo MH370; se for o caso, é preciso perceber como chegou ali; se houver uma explicação, é preciso fazer o caminho de volta; se nada nem ninguém se perder entretanto, é preciso procurar outra vez no fundo do mar. Tudo porque é preciso saber como pode desaparecer um Boeing 777 num planeta tecnologicamente tão avançado como aquele em que vivemos hoje.

Pode ver a entrevista do jornalista da CNN Richard Quest, ele próprio autor de um livro sobre o assunto, a Blaine Alan Gibson, o advogado americano que encontrou a peça.

Este é um assunto que não sairá do ar nos próximos dias.


OUTRAS NOTÍCIAS
Na Régua, o hospital vai fechar porque foi encontrada legionela na água. Os doentes são transferidos hoje.

Voltemos por Moçambique, onde a tensão entre a Frelimo e a Renamo está atingir níveis que parecem de um outro tempo. Tem pouco mais de uma semana esta denúncia da Humans Right Watch, que fala de milhares de pessoas em fuga devido a alegados abusos das Forças Armadas na província de Tete. Haverá mais de seis mil refugiados moçambicanos no Malawi. O deputado José Ribeiro e Castro, do CDS, falou ontem do assunto e a União Europeia também já o fez.

Mudemos de assunto, sem mudar a latitude nem a longitude. A Visão está hoje nas bancas com a história dos Rebelo de Sousa. Na capa, uma fotografia em que Baltazar Rebelo de Sousa, Governador de Moçambique e o homem que assinou a certidão de óbito de Salazar, abraça os três filhos: António, fundador da JSD, Pedro, advogado, e Marcelo, o Presidente da República eleito que toma posse no dia 9. Hoje é lançado o livro "Afectos", uma viagem fotográfica da campanha presidencial. São 180 fotografias e uma história que está resumida aqui.

O ainda Presidente da República, a navegar os últimos dias do mandato, preside hoje à reunião do Conselho de Ministros no Forte de São Julião da Barra. Cavaco Silva foi convidado por António Costa para o encontro, dedicado ao mar.

Já que falamos de Presidentes e de presidenciais, fique a saber que foi a 3 de março de 1931, há precisamente 85 anos, que o Congresso adotou "The Star-Spangled Banner" como hino nacional dos EUA. A letra foi escrita em 1814 e é mais longa do que possamos imaginar – por regra canta-se apenas a primeira parte, que acaba, como as outras três, com o famoso "Oh, say, does that star-spangled banner yet wave/ O'er the land of the free and the home of the brave?".

Na última parte está uma outra frase bem americana, "In God is our trust", e por causa de Donald Trump haverá muita gente por estes dias a rezar para que alguma coisa mude até às presidenciais de novembro. O The New York Times preparou um guia indispensável para os próximos meses e o Ricardo Lourenço, correspondente do Expresso nos EUA, faz aqui o balanço da louca superterça-feira.

A incerteza é como o ar, parece estar por todo o lado. Aqui ao lado, em Espanha, a novela arrasta-se sem fim à vista. Parece que todos estão de acordo quanto à impossibilidade de chegarem a qualquer acordo. Análise no El Pais, no El Mundo e o resumo do debate em cinco pinturas no El Espanol.

É para esperar sentado e até dá tempo de fumar um cigarro, o que nos leva ao fumo que ainda paira sobre o Orçamento do Estado de Portugal.

De Angola chegou ontem um comunicado presidencial sobre um dos incêndios do momento na Justiça portuguesa. Começa assim o artigo do Micael Pereira e do Rui Gustavo: « O vice-presidente de Angola quebrou o silêncio. E escreveu um comunicado enviado à redação do Expresso pelas 19h30. Manuel Vicente começa por negar ter corrompido o ex-procurador Orlando Figueira, que está preso preventivamente. "Sou completamente alheio à contratação de um magistrado do MP português para funções no sector privado", "bem como a qualquer pagamento de que se diz ter beneficiado". »

Fresca é também a declaração de Pedro Santana Lopes, recém-reconduzido no cargo de Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. “Não vislumbro quando será e se alguma vez voltará essa intervenção na vida politica ativa”, afirmou em entrevista à Renascença. A dúvida não é eterna, mas já tem onze anos, desde o congresso do PSD de 2005, em Pombal. Foi o dia da frase mais célebre: "Não me despeço. Não vou estar por aqui, mas vou andar por aí." E anda.

Braga e Porto são as duas equipas no caminho para a final da Taça de Portugal, que se disputa a 22 de maio. Antes, porém, encontram-se este domingo, em jogo da 25.ª jornada da Primeira Liga.

Na véspera, há um Sporting-Benfica e promete ser escaldante. Em menos de três minutos, o Pedro Candeias explica-lhe as contas e os números do derby. Este 2:59 é viciante e é um excelente pontapé de saída....O árbitro será Artur Soares Dias.

Na Nova Zelândia já começou a votação para mudar a bandeira nacional. E, por falar em coisas estranhas, sabe quantos polícias são precisos para avariar o elevador de um hotel e deixá-lo parado entre dois pisos? Dezasseis, como se viu há uns dias em Detroit. Mas ninguém se aleijou.

Estes são os títulos dos jornais de hoje:

Correio da Manhã: "Padrasto suspeito de morte por trocos"

Público: "Cientista portuguesa suspensa de funções por manipulação de dados"

Jornal de Notícias: "Segurança Social volta a ter lista negra de dívidas"

Diário de Notícias: "Inatel promoveu 450 funcionários à pressa"

I: "Tap é a quinta pior companhia do mundo"

 
FRASES
"Se pensam que me intimidam desenganem-se", João Soares, ministro da Cultura

"A ascensão de Donald Trump é idêntica à de Hitler na Alemanha", Anne Taylor, presidente do American Club de Lisboa

"As pessoas sabem que não tenho a mania de ser um sempre em pé", Pedro Passos Coelho, presidente do PSD

 
O QUE ANDO A LER
Dois artigos e um livro

O desporto nos EUA é um jogo à parte. Quando era miúdo e jogávamos basquetebol na rua, todos queriam ser como o Michael Jordan, o Magic Johnson ou o David Robinson (tirando um amigo meu que queria mesmo era ser como o Clyde Drexer, um tipo de bigodinho que jogava nos Portland...) Eram os dias do um contra um, dos grandes duelos que acabavam de forma espetacular perto do cesto – os instantes do tudo ou nada, do maior afundanço das nossas vidas ou de um 'abafo' humilhante e do qual levávamos semanas a recuperar. O jogo está diferente, e decide-se cada vez mais longe da tabela. O The New York Times foi espreitar as estatísticas de Stephen Curry, a caminho de se tornar uma lenda da linha de três pontos, e descreve a mudança em curso na NBA.

Na The New Yorker está a história de um milionário improvável: um miúdo que aos 16 anos trabalhava como intérprete para as forças especiais americanas no Afeganistão e que nos anos seguintes ganhou milhões de dólares (parte dos quais, segundo as autoridades americanas, graças a subornos). Começa assim:"America’s war in Afghanistan, which is now in its fifteenth year, presents a mystery: how could so much money, power, and good will have achieved so little?"

O livro chama-se "Alentejo Prometido", escreveu-o o Henrique Raposo e, por causa do autor e da obra, anda muita gente a mandar-se ao Ar. Acabarão por aterrar. Aterraremos todos. Porque só os pelicanos, que têm asas e nunca se enfurecem, podem voar para sempre.

Amanhã estará cá o Martim Silva para lhe desejar um bom fim de semana.

Até lá, tenha um bom dia.

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