no observador...
"São quase 159 mil alunos inscritos para os exames nacionais do
ensino secundário de 2014, segundo o Ministério da Educação e Ciência.
São quase 159 mil os que, por estes dias, andarão agarrados aos livros, a
tentar antecipar perguntas, respostas e problemas. Para os alunos do
secundário, o momento decisivo, que ajuda a definir o futuro académico
de tantos, está a chegar. A época mais temida
pelos estudantes começa a 17 de junho com o exame de Filosofia, para os
10 e 11º anos. Para os do 12º, a prova de português acontece a 18 e as
de matemática (A e B) chegam no dia 26 de junho. Isto na primeira fase.
Nos dias que antecedem o derradeiro “confronto”, o ideal é fazer um
planeamento para cada um dos exames (se ainda for a tempo). Fazer um
horário de estudo não implica passar muito tempo de volta de uma matéria
em particular, o importante é respeitar as horas e garantir que estas
sejam de qualidade. Quem o diz é Tiago Almeida, que ensina psicologia de
aprendizagem e desenvolvimento na Escola Superior de Educação de Lisboa. Além disso, é sócio de um centro de estudos que é procurado por alguns adolescentes em época de preparação para os exames.
Fazer exames de anos anteriores é importante para perceber dois
aspectos fundamentais: quanto tempo se demora a executar a tarefa, numa
simulação real, e definir quais os conteúdos e o tipo de perguntas onde
existem mais dificuldades. “É investir onde se tem mais dificuldade”,
explica Tiago Almeida ao Observador. Quando a estudar, a compreensão
deve vir antes da memorização, até porque os estudantes seguem mais
preparados tendo a capacidade de raciocínio. Não basta repetir
exercícios.
É importante o apoio dos pais, a quem cabe o papel de não sobrevalorizar os exames que, sendo importantes, não se sobrepõem ao que foi feito ao longo do ano.
No dia anterior à prova, o descanso é rei. “Quando estudamos na
véspera podemos ter dúvidas de última hora que resultam em insegurança.
Os nervos já começam a falar”, diz, não descurando, porém, a
possibilidade de realizar-se uma revisão final pela manhã. Tiago, que no
dia a seguir à entrevista ia participar num triatlo, compara: “É como
um atleta de alta competição, um treino ligeiro equivale a uma leitura
na diagonal”.
O professor e psicólogo salienta ainda uma tendência emergente nos
jovens com idades compreendidas entre os 17 e os 19 anos. Não são dados
científicos, como faz questão de referir, mas uma questão de olho. A
ansiedade vivida por muitos dos alunos prende-se com o futuro. Querem
ter notas altas para poderem escolher os cursos que pensam ser melhores.
“É uma pressão que é autoimposta. Parece que procuram melhores
condições de vida através do trabalho”. Perante esta situação, torna-se
importante balizar as expetativas, mas também ajudá-los a confiar no
conhecimento já adquirido, sem esquecer de mencionar que “dias maus
todos têm”.
“Os nervos são muito individuais”, pelo que é importante o apoio dos
pais, a quem cabe o papel de não sobrevalorizar os exames que, sendo
importantes, não se sobrepõem ao que foi feito ao longo do ano. “Se não
der à primeira, há sempre uma segunda oportunidade. Não é bom que os
alunos sintam que levam nos ombros o peso da expetativa dos pais”.
Frases como “és capaz” ou “tu consegues” podem acrescentar pressão sobre
os filhos. E que tipo de discurso aconselha Tiago Almeida? “É um dia,
um reflexo do que trabalhaste no secundário. Não serás nem pior nem
melhor”.
Conselhos de quem ensina
Conceição Pereira é professora de português na Escola Secundária
Professor José Augusto Lucas, em Linda-a-Velha. Está a completar 30 anos
de carreira e, desde 2008, é classificadora de exames do 12º ano. É
direta e certeira nas coisas que diz e começa por argumentar que “o
português não é uma disciplina que se adquira a estudar no último
instante”. Para ela, os alunos têm mais dificuldades em gramática e,
felizmente, este é um assunto sobre o qual ainda é possível melhorar ao
fazer revisões gerais.
Por partes. O exame de português, que engloba matéria do 11 e do 12º
ano, tem vários grupos. Um primeiro é composto pelo excerto de um texto
ou poema de um autor estudado e também por um comentário sobre matéria
literária. Seguem-se exercícios de gramática em contexto e, no final, é
exigida a escrita de um texto argumentativo, para o qual é preciso ter
cultura. “Os temas nem sempre são fáceis, é preciso conhecimento do que
se passa à nossa volta. Mesmo que se escreva razoavelmente, é importante
ter ideias”.
Conceição explica que o exame é longo, pelo que é preciso ter o tempo
muito bem controlado, até porque poder rever a prova é um importante
passo. Além disso, é fundamental ler com atenção as instruções. “Por
vezes, não leem com a devida atenção e respondem ao que ‘parece’ que lá
está”. Outro ponto a ter em conta é a correção linguística, à qual cabe
uma determinada percentagem por pergunta. É certo que varia entre
questões, mas, feitas as contas, poderá pesar no resultado final. Todo o
cuidado é pouco.
Vale a pena sublinhar as palavras importantes do enunciado, não perder muito tempo com as perguntas ditas difíceis e ter em conta que o exame apenas termina com a palavra impressa “fim”.
A professora de português deixa um último aviso: “Os telemóveis são
completamente proibidos. Na sala não podem haver telefones, nem mesmo
desligados”. Isto aplica-se a todos os exames.
Das palavras para as contas: Alzira Santos e Maria Lurdes Gonçalves
trabalham no 12º ano de matemática, na Escola Secundária de Amato
Lusitano, em Castelo Branco. Enquanto colegas de profissão, optaram por
responder em conjunto ao Observador. Defendem que a matemática tem duas
partes, isto é, o conhecimento e a respetiva aplicação. Sendo a teoria a
primeira etapa, aconselham, de seguida, que sejam estudados os
exercícios realizados em aula. Como material de apoio sugerem as páginas
da Sociedade Portuguesa de Matemática e da Associação de Professores de Matemática, bem como o site mat.absolutamente.net.
Para elas, vale a pena sublinhar as palavras importantes do
enunciado, não perder muito tempo com as perguntas ditas difíceis (isto
é, fazer primeiro as questões consideradas mais fáceis) e ter em conta
que o exame apenas termina com a palavra impressa “fim”, não vão os
espaços em branco, entre as perguntas, confundir os alunos. As duas
professoras sugerem também que é importante dormir bem na véspera da
prova e que, antes de entrar na sala/”campo de batalha”, deve-se comer
bem. O chocolate é uma boa opção para dar energia.
A nota geral, comum a todos os entrevistados, passa pela
autoconfiança e pela consciência de que é praticamente impossível
saber-se tudo."
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